Bradesco tem trimestre sólido e lucro sobe para R$ 6,6 bi, mas por que a ação caiu quase 6%?

Expectativas que eram altas para o balanço e sessão negativa para as bolsas em geral explicam forte queda dos ativos do banco - mas projeções dos analistas para o papel seguem positivas

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Quanto mais altas as expectativas, mais altas também são as chances de decepção. 

É isso que – somado ao dia já negativo das bolsas mundiais com as novas sinalizações de política monetária do Banco Central Europeu (BCE) – explica o movimento de forte queda para as ações do Bradesco (BBDC3;BBDC4) pós-balanço. Os ativos preferenciais fecharam a sessão desta quinta-feira (25) como a maior baixa do Ibovespa, com baixa de 5,82%, a R$ 36,70. Os ativos BBDC3 vieram logo em seguida entre as maiores quedas, com baixa de 4,91%, a R$ 33,31. 

As prévias de resultados do segundo trimestre de 2019 de diversas casas de análise apontavam: o Bradesco seria o destaque positivo entre os grandes bancos na temporada em meio a uma combinação de crescimento da carteira e aumento da margem financeira.

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A princípio, a instituição financeira havia conseguido entregar os bons números no segundo trimestre na manhã desta quinta-feira (25). 

O segundo maior banco privado do Brasil teve lucro líquido recorrente de R$ 6,462 bilhões no segundo trimestre, valor 25,2% maior que o visto no mesmo período do ano passado, de R$ 5,161 bilhões. 

A carteira de crédito foi a R$ 560,538 bilhões ao término de junho, elevação de 2,2% ante março, o que impulsionou a margem financeira. Além disso, o resultado das operações de seguros subiu 11,6%, a R$ 3,594 bilhões, enquanto a receita com tarifas teve elevação de 1,3%, a R$ 8,28 bilhões. 

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Já a despesa com provisões para perdas com inadimplência somou R$ 3,487 bilhões. queda de 0,1% ano a ano e recuo de 3,2% na base sequencial. Isso ocorreu em meio ao controle da qualidade dos empréstimos, com o índice de inadimplência acima de 90 dias indo para 3,23%, ante 3,27% no final de março e 3,9% um ano antes.

De acordo com a maior parte dos analistas que acompanham o banco de perto, os números foram bons, mostrando a solidez das operações da instituição. 

A XP Investimentos  apontou um trimestre forte, destacando como pontos positivos o aumento da margem com clientes, queda nas despesas com provisões e elevação da receita de seguros.  

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Porém, alguns dados desapontaram e ofuscaram os dados positivos do banco, principalmente porque eles já eram amplamente esperados. 

No lado negativo, as taxas de cartões e gestão de ativos permaneceram sob pressão e o crescimento das despesas no primeiro semestre do ano ficou acima do guidance. 

As receitas com prestação de serviços tiveram alta de 2,6% no primeiro semestre, abaixo do intervalo projetado, de alta de 3% a 7%. Na comparação com o segundo trimestre de 2018, elas foram apenas 1,3% maiores, como consequência da competição estruturalmente mais intensa em diversos segmentos.

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Já as despesas operacionais cresceram 6% no período, contra faixa de zero a 4%.

A grande surpresa negativa ficou com o aumento das despesas pessoais em 6,4% na base trimestral, afetada pelo programa de remuneração variável e pelo aumento das reclamações trabalhistas. Enquanto isso, as despesas administrativas ficaram sob controle, com alta de 1,5% no trimestre. 

Assim, colocando tudo isso, na conta, o Credit Suisse destacou em relatório que os números foram sim levemente negativos – não tanto por eles em si, mas sim ao compará-los com a alta expectativa pelos dados da instituição. 

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Se a princípio isso não levaria a uma forte queda dos papéis, o dia de queda do exterior fez com que as ações intensificassem as quedas.

Nesta quinta-feira, os investidores ficaram especialmente atentos às falas de Mario Draghi, presidente do BCE, de que não há consenso dentro da instituição para a flexibilização monetária. Além disso, foram publicados dados mais fortes do que o esperado sobre a economia nos EUA 9de pedidos de bens duráveis), diminuindo a sinalização de um corte mais intenso nos juros nos países desenvolvidos (veja mais clicando aqui). 

Ou seja, além do balanço, mesmo que positivo, sem muito brilho, o Bradesco ainda divulgou o resultado em uma sessão predominante negativa e que impactou os bancos brasileiros de uma forma geral. Os ativos do Itaú Unibanco (ITUB4) fecharam em queda de cerca de 3%, enquanto o Banco do Brasil (BBAS3) teve baixa ainda mais forte, de 4,22%.

Perspectivas seguem positivas 

Porém, apesar da forte queda dos ativos do Bradesco nesta sessão, as perspectivas dos analistas são positivas para o banco. 

“Seguimos positivos com o setor para os próximos três a seis meses. O ciclo de crédito muito favorável ainda e o valuation segue atrativo na nossa visão”, apontam os analistas do Credit Suisse. 

Na mesma linha, o Itaú BBA mantém recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) com preço-alvo de R$ 45 para os ativos BBDC4, o que configura um potencial de valorização de 20% frente os patamares de R$ 37 negociados nesta quinta-feira. 

“Esperamos que o Bradesco mantenha seu ritmo de alta no lucro ao longo de 2019, com nossas projeções implicando uma expansão no lucro por ação de 22%”, apontam os analistas do Itaú BBA.

Ainda mais otimistas com a projeção do preço para a ação no final do ano, a XP Research possui um preço-alvo de R$ 47, configurando um potencial de valorização de cerca de 27%. A equipe de análise aponta o banco como o melhor veículo do setor para o segundo semestre. 

Vale destacar que, em teleconferência de resultados, Octavio de Lazari, presidente-executivo da instituição financeira, mostrou otimismo ao prever aceleração das receitas com crédito no segundo semestre. 

Para Lazari, com um ambiente de negócios mais positivo a tendência é que as concessões de financiamentos, especialmente para pessoas físicas, cresça até dezembro.

Assim, apesar da forte queda dos ativos, as projeções otimistas (que, aliás, foram um dos fatores para a decepção nesta sessão) permanecem. A expectativa é de que o Bradesco siga apresentar resultados sólidos nos próximos trimestres, agora também tendo como catalisador a expectativa de melhora da economia. 

A confiança dos analistas de que o Bradesco siga entregando bons números segue grande, apesar da decepção de hoje. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.