Bem longe das dívidas, Paranapanema busca crescer no mercado interno

Em entrevista à Infomoney, diretora de RI conta seus planos e se diz orgulhosa com a nova percepção de valor da companhia

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SÃO PAULO – Após finalizar em 2008 uma reestruturação que ampliou consideravelmente seus ativos e mudou sua estrutura acionária, a Paranapanema (PMAM3) conseguiu reduzir um elevado endividamento e se reposicionar no mercado. A empresa ainda pegou carona no crescimento interno e foi capaz de zerar suas dívidas, consolidar uma forte posição de caixa, anunciar um plano de megainvestimentos em 2011, além de voltar a ser alvo de aquisições.

“Para uma empresa que há três anos atrás estava fora do radar de qualquer investidor, e extremamente endividada, vejo que a percepção de valor mudou”, diz a diretora de Relações com Investidores da companhia, Doris Wilhelm. A executiva revela que ficou “bastante orgulhosa” quando seus acionistas avaliaram que a oferta de aquisição da Vale era inferior ao real valor da empresa.

A estratégia da produtora líder no mercado de cobre brasileiro, agora passa a abranger um total de R$ 700 milhões em investimentos de 2010 a 2013, destinados a acompanhar o crescimento do mercado interno. “Estamos apostando nos investimentos em infraestrutura do País nos próximos anos, principalmente em construção civil e eventos esportivos”, diz a diretora de RI.

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O segredo para tamanhas mudanças em um espaço de tempo relativamente curto, Doris revela a seguir. Em entrevista concedida à InfoMoney, ela ainda conta um pouco mais sobre perspectivas para os próximos anos, os efeitos da variação de preços do cobre, investimentos, a oferta de aquisição pela Vale e a contratação de um formador de mercado.

InfoMoney – Como é composta a estrutura acionária da Paranapanema?
Doris Wilhelm: Nos três últimos anos, passamos por três importantes reestruturações que fizeram com que nosso capital fosse ampliado inúmeras vezes. A primeira reforma foi financeira e resultou em três grandes operações no mercado de capitais para a conversão de debêntures em ações. Ao término destas operações, houve a diluição da participação dos principais controladores – uma reforma societária. Por fim, foi feita a conversão de todas as ações preferenciais em ordinárias, concluída em março de 2010, que resultou em um total de 319,2 milhões de ações.

A distribuição deste capital está hoje em 23,96% para a Previ, 17,23% para o BNDES, 11,81% para a Petros, 8,32% para o WZLLC – um fundo estrangeiro, e 38,68% em free float. Desta forma, somos uma corporation, com controle pulverizado e sem grupo de controle.

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Em 1996, os fundos Previ, Petrus, Sistel e Aerus assumiram a companhia, que tinha pesadas dívidas. Em 2011, já foi possível anunciar um novo plano de expansão e investimentos. Quais os principais passoas que a empresa tomou para reverter esta situação de endividamento?
Nas décadas de 1970 e 1980, as empresas eram grandes conglomerados e a Paranapanema era uma holding que chegou a ter 65 empresas penduradas embaixo dela. Na época, com o mercado de capitais ainda pequeno, o crescimento acontecia por meio da emissão de debêntures. A Paranapanema tinha cinco séries emitidas que, em meio a dificuldade repactuação e de continuar conduzindo a dívida, passou ao controle dos fundos. Nessa época, em 1996, a Previ tinha 50% +1 ação, e totalizávamos quase R$ 2 bilhões em dívidas operacionais e não operacionais.

“Em cinco meses, liquidamos uma dívida
que duraria 30 anos. Foi um verdadeiro recorde”

Em dezembro de 2006, foi fechado um acordo para a reestruturação financeira com os fundos. O acordo estipulava que nós pagaríamos metade da dívida e a outra metade restante seria convertida em ações. Em 2007, se colocaria uma operação na rua de ações, mas o mercado reverteu com a crise de subprime e não foi possível emitir papéis. Fizemos, então, a sexta emissão de debêntures, dentro do espírito cinquenta/cinquenta. Com a alienação de um ativo em 2008, a metalurgia e mineração Stanium, emitimos novas debêntures, ao mesmo tempo em que vendemos a Taboca Mamoré. Com o dinheiro, boa parte da debênture foi paga e convertida em ações.

Emitimos nossas debêntures em 20 de agosto e, em 13 de dezembro do mesmo ano, zeramos a dívida com quatro conversões em ações no mercado. Em cinco meses, liquidamos uma dívida que duraria 30 anos, foi um verdadeiro recorde. 

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Hoje, só tenho dívidas operacionais, como contratos de câmbio e pré-pagamentos de exportação; além da forte geração de caixa, que cobre a dívida. A situação ficou bastante saudável, sólida e pronta para que essa geração de caixa fosse usada para investimentos futuros e o crescimento via expansão de capacidade.

O aquecimento do mercado interno tem sido o destaque da economia brasileira. Como a recuperação do consumo doméstico tem se refletido nas operações?
Nossos investimentos estão basicamente fundamentados sobre o cenário macroeconômico favorável para o Brasil, de 2010 a 2016, com uma estimativa de PIB (Produto Interno Bruto) em alta de 5% ao ano. Neste cenário, há uma perspectiva positiva para o aumento da demanda de produtos de cobre. Estamos apostando nos investimentos em infraestrutura do país nos próximos anos, principalmente em construção civil e eventos esportivos. Na construção civil, há boas oportunidades dentro do PAC1 e PAC2. Fora dos programas do governo, vale lembrar que um estudo da FGV (Fundação Getúlio Vargas) com a Associação Brasileira de Materiais de Construção aponta que se o PIB crescer a 5% ao ano, a construção civil pode avançar 8,8%.

Os eventos esportivos irão demandar novos estádios, novas estruturas e transporte público – a indústria automotiva também é uma boa demandadora de cobre. Ainda acreditamos em investimentos em energia elétrica, principalmente em energia limpa. Os equipamentos de energia solar, eólica e biodiesel demandam cobre em sua base. Lá fora, há também uma boa projeção de crescimento para os BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China). Estas premissas básicas são organizadas junto à ações estratégicas específicas da companhia, para buscar o aumento de rentabilidade.

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De que forma a alta dos commodities tem afetado a companhia e suas ações?
Os gráficos sobre cobre na LME (London Metals Exchange) mostram que desde o primeiro trimestre de 2009 até o quarto trimestre de 2010, o preço do metal tem subido gradualmente, sem passar por altos e baixos. Por sua vez, seus estoques mostram queda desde o primeiro trimestre de 2010 na bolsa de Londres. Com a demanda maior, os preços têm se mantido elevados.

Além do mercado interno, fomos ajudados pela demanda da Ásia e do leste e oeste europeu. Agora, a tragédia no Japão pode pressionar o cobre em 2011, e é preciso monitorar a volatilidade dos preços. Ainda assim, a política de hedge interna indica que não seremos afetados significativamente.

Em entrevista à agência Bloomberg, o CEO Luiz Antônio Ferraz Júnior, disse que a Paranapanema pretende vender sua unidade de fertilizantes neste ano. O foco da empresa tende a ser a unificação no mercado principal, que é a produção de cobre?
O segmento de fertilizantes, que deve ser colocado a venda ao longo de 2011, representa somente 2% do faturamento da companhia. O restante, 98%, vem do segmento de cobre. Já era uma estratégia da empresa simplificar sua estrutura, para ter ganhos de sinergia e redução de custos e despesas. Alguns desinvestimentos em ativos não operacionais, como terrenos, estão em nosso planejamento estratégico. O foco do negócio permanece no segmento de cobre.

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A empresa planeja alguma aquisição nos próximos trimestres?
Por enquanto, não temos nada em vista. No entanto, a empresa está atenta a oportunidades de mercado, que podem ser avaliadas. Condições não faltariam: temos uma forte geração de caixa, nenhuma dívida e uma situação financeira muito sólida.

A Vale informou à Bloomberg que também pretende vender parte de sua unidade de fertilizantes neste ano, por meio de um IPO (Initial Public Offer) de 49% de suas ações. No mesmo período, a Paranapanema pretende vender a Cibrafértil. A concorrência com a mineradora pode colocar a empresa em desvantagem?
As situações são diferentes. A Vale quer achar novos acionistas, nós queremos vender nossa unidade, e os interessados são um público extenso. A produção de fertilizantes é de 5,5 milhões de toneladas. A Cibrafértil é pequena, não é nada muito elevado.

A Vale fez uma proposta de compra pela Paranapanema, e mesmo elevando o valor oferecido por ação, não teve adesão dos acionistas. Como avaliar isto?
Ficamos bastante orgulhosos. Para uma empresa que três anos atrás estava fora do radar de qualquer investidor e extremamente endividada, vejo que a percepção de valor mudou. Como resultado da mudança financeira, tributária e societária, os acionistas avaliaram que a empresa possuía uma sólida posição e valia mais do que o ofertado, razão pela qual não aceitaram a oferta.

“Com um formador de mercado, a liquidez
melhorou significativamente, com o
crescimento de rentabilidade e geração de valor”

A Paranapanema segue como uma empresa alvo de compradores ou, pelo contrário, pode vir a se posicionar como consolidadora no setor?
Somos uma corporation e estamos sujeitos a ofertas hostis, isto faz parte da realidade atual do mercado. Em termos de consolidação, somos a maior refinaria de cobre brasileira, e há pouco a fazer dentro em relação às movimentações do setor. Internamente, temos a perspectiva de investir no crescimento orgânico para acompanhar a melhora do mercado interno.

A empresa contratou um formador de mercado em janeiro de 2010. Quais as principais mudanças?
A liquidez melhorou significativamente, com o crescimento da rentabilidade e valor financeiro. Como uma small cap, atraímos menos a atenção do mercado em termos de liquidez, mas ela já melhorou bastante.

A empresa estuda usar o mercado de capitais para a captação de mais recursos?
Com o novo plano de investimentos, ainda é muito cedo para avaliar. Temos várias opções: tenho como funding parte dos recursos próprios gerados na própria operação, posso buscar linhas de crédito especiais, linhas de financiamentos propícias para cada item do meu plano de investimentos. Por exemplo, para máquinas e equipamentos, posso disponibilizar recursos desde um BNDES, BND, AFC. Ações estão aí, podemos analisar a melhor relação de custo-benefício, prazos, taxas, para fazer o desenho.

Após o investimento ser aprovado em fevereiro, ainda é cedo, agora que a área financeira se mobiliza para ver alternativas de funding. As opções de financiamento estão sendo postas na mesa e ainda terão de passar pela aprovação do Conselho. Posso dizer que recursos financeiros existem, sem dificuldades para serem usados. A situação é bastante confortável.

Conheça mais sobre a Paranapanema

A Paranapanema foi criada em 1961, inicialmente focada no setor de construção civil pesada. Quatro anos depois, a empresa expandiu suas atividades, passando a atuar também no segmento de mineração. Em dezembro de 1995, o controle da empresa foi adquirido por um pool de fundos de pensão, capitaneado pela Previ (Fundo de Pensão do Banco do Brasil). Depois disso, os investimentos se concentraram em metais não-ferrosos, colocando fim às atividades de construção civil.

Atualmente, a empresa é a maior produtora integrada de cobre refinado no Brasil e líder de vendas, e sua produção inclui também superfosfato simples e fertilizantes. São cinco unidades produtivas espalhadas pelo País. O Grupo Paranapanema atua via três subsidiárias: a Paranapanema, Caraíba Metais e Eluma.