Aportes de US$ 1,9 bi, venda por US$ 562 mi: a história de Pasadena que a Petrobras quer esquecer

Anúncio da venda da refinaria, conhecida como "ruivinha", é emblemática em meio às polêmicas que a Petrobras se envolveu durante os governos Lula e Dilma 

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O anúncio da Petrobras (PETR3;PETR4) feito na noite da última quarta-feira (30) poderia ser mais um entre tantos desinvestimentos feitos pela companhia como parte de seu plano de negócios.

Porém, tratou-se de um marco para a companhia: afinal, ela anunciou a venda da refinaria de Pasadena, nos EUA, um dos ativos mais notórios da estatal brasileira – mas pelos motivos errados. 

A venda foi feita para a Chevron por US$ 562 milhões, sendo US$ 350 milhões pelo valor das ações e US$ 212 milhões de capital de giro. Esse montante foi o que mais chamou a atenção uma vez que a refinaria custou para a estatal cerca de US$ 1,2 bilhão durante os governos petistas, em um negócio polêmico que tem desdobramentos até agora, inclusive na Justiça.

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Tudo começou em 2006, durante o governo Lula, quando a Petrobras pagou US$ 360 milhões à empresa belga Astra Oil por 50% da refinaria. Isso já chamou e muito a atenção uma vez que, um ano antes, a Astra Oil tinha pagado um valor módico de US$ 42 milhões por toda a refinaria. Ou seja, a petroleira pagou um valor 757% maior por apenas metade de Pasadena. 

Porém, não parou por aí. O que seria apenas um negócio péssimo para a estatal acabou ficando ainda pior. Cláusulas do contrato de compra previam uma espécie de opção de compra para o restante da refinaria pela Petrobras sob determinadas circunstâncias. Foi o que acabou acontecendo em 2012 quando, após alguns desacordos, a Astra acionou o dispositivo e fez com que a brasileira pagasse US$ 820 milhões pelo restante dela. 

Ou seja, ela pagou exorbitantes US$ 1,2 bilhão por algo que o grupo belga pagou apenas US$ 42 milhões. Com esse valor bilionário desembolsado pela companhia, seria possível comprar 28 refinarias iguais a de Pasadena. 

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Anos depois, o noticiário sobre a compra voltou à tona. Em 2014, o jornal O Estado de S. Paulo revelou que a então presidente da República Dilma Rousseff (que em 2006 era presidente do Conselho da Petrobras) havia votado a favor do negócio. 

Buscando se defender, Dilma afirmou que só tinha dado o “ok” para a operação porque baseou sua decisão em um relatório “tecnicamente falho” que omitia cláusulas das quais, se tivesse conhecimento, não aprovaria a aquisição.

Vale destacar que a refinaria tinha o apelido de “ruivinha” por conta de suas más condições estruturais (ou seja, equipamentos enferrujados) e que renderam chacotas dentro da própria estatal. 

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Assim, tal negociação começou a ser investigada pelo Ministério Público no TCU (Tribunal de Contas da União) em meio a suspeitas que apontaram a diferença do valor pago pela Astra em 2005 e o desembolso efetivamente feito pela estatal. Laudos periciais produzidos pela Polícia Federal foram emitidos em 2018 e colocaram a ex-presidente Dilma como uma das responsáveis pelo prejuízo milionário. No entendimento dos peritos, o sobrepreço pago pela Petrobras à belga Astra Oil foi de US$ 741 milhões.

Assim, conforme ressalta a XP Research, a transação anunciada ontem encerra um capítulo difícil na história da Petrobras desde a compra do ativo em 2006, aos quais se somam aos US$ 685 milhões investidos em melhorias operacionais. Ou seja, ela gastou US$ 1,885 bilhão em Pasadena, recuperando apenas 30% do capital investido com a venda de US$ 562 milhões. 

Passada essa venda para a Chevron, que representa 2,1% do plano de US$ 26,9 bilhões da estatal, o mercado agora segue observando os passos da companhia, que busca virar a página dos períodos em que se tornou bastante recorrente ela fazer maus negócios. 

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Desta forma, o anúncio que a Petrobras fez foi visto com bons olhos para o mercado, avaliando que o compromisso com a continuidade de venda de ativos que não são o foco da empresa é positiva.

Agora, o mercado se volta para os próximos passos da companhia. O Itaú BBA ressalta que, enquanto o crescimento da produção será a pedra angular da tese de investimento da Petrobras, no curto prazo a venda de ativos e a cessão onerosa serão os dois principais gatilhos, pois ambos ajudarão a empresa em sua meta de desalavancagem. 

Um dos próximos passos seria a venda da TAG (Transportadora Associada de Gás) que teria um impacto positivo importante na redução da relação entre dívida líquida e Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) da Petrobras. 

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Desta forma, o mercado está de olho na venda de ativos da estatal – mas, mais do que isso, confia que a empresa não realizará mais péssimos negócios como já fez em seu passado recente. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.