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SÃO PAULO – Os efeitos da pandemia de coronavírus parecem ter despertado os brasileiros para os seguros. O setor, que inclui previdência e capitalização, arrecadou quase R$ 25 bilhões só em maio, um aumento de 40% em relação ao mesmo mês de 2020. Diante da demanda crescente, as seguradoras têm colocado a criatividade para funcionar e apostado em produtos que fogem dos modelos tradicionais – há cada vez mais seguros “diferentões” na praça.
A conscientização dos consumidores é um dos elementos que impulsionaram o movimento, mas não o único, na visão de Heverton Peixoto, CEO da corretora Wiz. “Outros fatores que estão viabilizando a transformação dos produtos são a conectividade, que permite a existência de seguros pagos por quilômetro rodado, por exemplo, e o big data, grandes volumes de dados que possibilitam personalizar as apólices”, explica.
Com a ajuda de especialistas do setor, o InfoMoney selecionou seguros que fogem ao tradicional e já começam a ficar disponíveis – se não para todos – para pelo menos parte dos brasileiros. Alguns estão sendo testados, enquanto outros começaram a ser vendidos apenas em certos estados. A Confira os detalhes:
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Rodou, pagou: seguro por quilômetro percorrido
O carro ficou parado na garagem? O preço do seguro pode ser menor. Algumas seguradoras estão desenvolvendo produtos em que o valor do prêmio pago todo mês varia conforme a quantidade de quilômetros rodados no período.
A Liberty Seguros, por exemplo, começou a testar na região metropolitana de São Paulo um seguro de automóvel em que o cliente paga uma taxa fixa por mês, somada a um valor por quilometragem rodada, medida por meio de um pequeno dispositivo instalado no carro. As coberturas são as mesmas que podem ser incluídas em um seguro tradicional – a diferença está apenas no formato do pagamento, que pode torná-lo mais barato.
De acordo com Mario Cavalcante, diretor de Massificados da Liberty, o modelo é adequado para pessoas que rodam pouco – até 500 quilômetros por mês (ou cerca de 17 por dia). “É o caso de quem tem carro, mas prefere utilizar outros meios de transporte, ou possui mais de um carro na garagem e faz pouco uso de um deles”, diz. Nesses casos, o custo pode ser até 50% menor do que o de um seguro tradicional com a mesma cobertura.
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Estilo Netflix: seguro de automóvel por assinatura
No segmento de automóveis, também estão ficando mais comuns os seguros por assinatura. Na prática, funciona como outros serviços com essa modalidade de pagamento: a apólice é renovada a cada mês e o segurado pode cancelar quando quiser.
“É uma apólice mensal de fato, diferente da apólice tradicional, que é anual com pagamento mensal”, explica Igor Mascarenhas, CEO da insurtech Pier, startup focada no segmento de seguros. Por isso, o cancelamento não gera cobrança extra. Os valores, a partir de cerca de R$ 30 por mês, podem ser pagos no cartão de crédito ou até com Pix.
Além de startups, também as seguradoras tradicionais começam a aderir à modalidade. A Porto Seguro, por exemplo, dispõe de seguro por assinatura no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, emitido e operado pela Azul Seguros, uma das empresas do grupo.
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Entram na cobertura veículos de passeio nacionais de até R$ 60 mil, de zero quilômetro até 25 anos de uso. Os preços são a partir de R$ 60 mensais. Segundo a empresa, para uma mesma cobertura, o seguro por assinatura é cerca de 30% mais barato que um seguro tradicional.
Com esse tipo de produto, as seguradoras procuram atingir um público que provavelmente não faria seguro do automóvel pelo custo que representa. Os executivos do setor calculam que cerca de 70% da frota brasileira não seja segurada.
A Pier, por exemplo, aceita carros adquiridos em leilão, automóveis que já sofreram sinistro, carros de motoristas de aplicativo, entre outros perfis que usualmente não têm acesso ao produto. Para conseguir oferecer um seguro competitivo sem colocar em risco a operação, Mascarenhas conta que o modelo de precificação da empresa cruza centenas de dados dos clientes, incluindo geolocalização.
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Para quem vai adquirir seguros desse tipo, é importante checar as coberturas incluídas, em comparação com outras opções do mercado. A apólice por assinatura da Porto Seguro, por exemplo, inclui proteção contra colisão, roubo e furto, incêndio e alagamento, mas limitada a 90% do valor do carro na tabela Fipe, justamente para deixar a mensalidade acessível. No caso da Pier, a cobertura de perda total é opcional, e não automática.
“Para quem já está segurado ou possui uma renda mais elevada com condições de personalizar um produto mais robusto e têm classe de bônus, o mais indicado seria um seguro tradicional”, diz Marcelo Picanço, vice-presidente de Seguros da Porto Seguro.
Seguro de carro, não. Seguro de habilitação
Você talvez não tenha um carro, mas mesmo assim pode ter um seguro que cubra prejuízos que você cause em um acidente de trânsito – dirigindo um veículo emprestado, por exemplo. Ou pode ter dois carros, e estar protegido com uma apólice só, no lugar de duas. Essas são algumas possibilidades de uso do seguro vinculado à carteira de habilitação (CNH), e não ao automóvel.
“Em qualquer carro que estiver dirigindo, o condutor estará segurado”, explica Mariana Miranda, Corporate Sales da Argo Seguros, que desenvolveu o produto. Mas atenção: na prática, não se trata de um seguro de automóvel, e sim de um seguro de responsabilidade civil para condutores de veículos. A cobertura é para danos causados a terceiros por carros de passeio – não entram motos, nem caminhões – conduzidos pelo segurado.
Por exemplo: se o segurado causar um acidente, o seguro de CNH cobrirá os custos relacionados ao conserto dos outros carros envolvidos – mas não os do carro do próprio segurado. Se atropelar alguém que precise de atendimento médico, essas despesas também serão cobertas – mas se ele mesmo se machucar, não receberá uma indenização.
“É um produto inclusivo, que atende quem não tem acesso a qualquer seguro”, diz Mariana. As apólices têm valores que podem variar entre R$ 25 mil e R$ 150 mil, a um custo de R$ 350 a cerca de R$ 1.000 por ano, pagos em 12 meses. Entram na conta informações como há quanto tempo o condutor possui de carteira de habilitação, a região de moradia e se dirige profissionalmente ou não – motoristas de aplicativos, como Uber, são contemplados pelo produto.
Seguro de vida que não cobre a morte
Falar em seguro de vida é tabu para muita gente porque, tradicionalmente, ele só é acionado quando alguém morre – e esse é um assunto que, embora natural, a maioria quer evitar. Mas uma recente onda de lançamentos de produtos tem invertido essa história: grandes seguradoras estão criando novos seguros de vida que – veja só – cobrem de tudo, mas não obrigatoriamente a morte.
As apólices têm sido chamadas de seguros de vida “flexíveis”, já que permitem às pessoas escolher o tipo de cobertura que gostariam de incluir. Muitas delas são voltadas ao uso em vida, como indenização por cirurgia ou por diagnóstico de doença grave, fora outras já bem conhecidas, como a cobertura por invalidez permanente.
“O seguro foi concebido para a pessoa utilizar durante toda a vida. As necessidades das pessoas mudam à medida que o tempo passa”, diz Fabiano Lima, diretor de Vida, Previdência e Capitalização da Zurich no Brasil. “Um jovem solteiro recém-formado tem prioridades e necessidades bem diferentes das de um casal sem filhos, ou ainda mais de um casal com filhos em idade escolar”.
O seguro de vida flexível da Zurich, por exemplo, pode incluir o pagamento de diárias de incapacidade temporária por acidente ou doença, que servem para o segurado manter a renda caso tenha de interromper suas atividades profissionais enquanto durante tratamento médico. O da Porto Seguro conta com cobertura em caso de diagnóstico de doenças graves, como câncer, AVC, insuficiência renal, infarto, esclerose múltipla, Alzheimer, Parkinson, entre outras.
Os formatos de contratação variam. No caso da Zurich, qualquer cobertura pode ser adquirida individualmente. Na Porto Seguro, é preciso contratar pelo menos uma de quatro coberturas: morte, morte acidental, invalidez por acidente ou invalidez por doença. “A cobertura de doenças graves pode ser contratada com a de morte ou com a de invalidez por doença, mas não pode ser contratada sozinha”, explica Picanço, da Porto Seguro.
Segundo o executivo, contratar um seguro de vida sem a cobertura de morte faz sentido para quem não tem dependente financeiro para deixar um capital em caso de falecimento, mas deseja e precisa ter proteção em vida.
Fez exercício? Pode ter recompensa no seguro de vida
Além de formatos de pagamentos e coberturas diferentes, as seguradoras também estão incluindo benefícios novos nos seus seguros. A Prudential, por exemplo, acoplou um programa de qualidade de vida às suas apólices, que pode reverter em cashback para os segurados.
Para estimular hábitos saudáveis nos clientes, a Prudential usa um aplicativo que monitora dados sobre a realização de atividades físicas, coma medição de passos e frequência cardíaca. O programa, chamado Prudential Vitality, estabelece metas semanais personalizadas para cada pessoa. Quando elas são cumpridas, o segurado recebe uma recompensa.
“As metas da semana iniciam em 300 pontos, que podem ser conquistados dependendo da intensidade e duração do exercício, respeitando sempre o perfil de cada usuário”, explica Patricia Freitas, vice-presidente de parcerias da Prudential do Brasil. “Uma atividade medida por um smartwatch, por 30 a 60 minutos e 60% da frequência cardíaca, registra 100 pontos, por exemplo”. De acordo com os resultados da semana, o programa modula a meta da semana seguinte.
As recompensas são variadas. Há cupons para resgate em aplicativos como iFood, 99, Spotify e RitualGym, por exemplo. Além delas, o cumprimento das metas também dá pontos ao cliente, convertidos em cashback que pode ser usado, por exemplo, para pagar por apólices específicas de seguro de vida.