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O começo de 2023 se mostrou desafiador para as operadoras de saúde no Brasil. Levantamento da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) divulgado na quinta-feira (22) mostra que houve um aumento de 50% no prejuízo operacional dessas companhias no primeiro trimestre deste ano, na comparação com igual período do ano passado.
“Os resultados do primeiro trimestre vieram piores do que o esperado”, diz Marcos Novais, superintendente executivo da Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde).
De acordo com o levantamento, realizado com as informações financeiras enviadas pelas operadoras de planos de saúde à ANS, o setor registrou lucro líquido de R$ 968 milhões nos primeiros três meses deste ano, queda de pouco mais de 30% na comparação com o mesmo período do ano passado, quando foi contabilizado R$ 1,4 bilhão.
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Em termos relativos, diz a nota divulgada pela ANS, esse resultado equivale a aproximadamente 1,45% da receita efetiva de operações de saúde – principal negócio do setor –, que foi de R$ 66,8 bilhões no 1º trimestre de 2023. Ou seja, para cada R$ 100 de receita efetiva de saúde no período, o setor teve cerca de R$ 1,45 de lucro ou sobra.
Nos números agregados por segmentos regulados pela ANS, o resultado líquido do setor foi positivo para todos os segmentos: as administradoras de benefícios registraram superávit trimestral de R$ 145,5 milhões; as operadoras exclusivamente odontológicas, R$ 202 milhões (cerca de 20,5% da sua receita efetiva planos odontológicos); e as médico-hospitalares, R$ 620,6 milhões (0,95% da receita efetiva de seus planos).
No vermelho
Em relação ao resultado operacional, seguindo a dinâmica já observada em 2022, as operadoras médico-hospitalares (principal segmento do setor) fecharam o primeiro trimestre de 2023 com déficit de R$ 1,7 bilhão. Esse prejuízo operacional foi compensado pelo resultado financeiro recorde de R$ 2,5 bilhões advindo da remuneração das suas aplicações financeiras, que acumulam ao final do período pouco mais de R$ 102,6 bilhões.
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“O principal aspecto que explica o desempenho nas operadoras médico-hospitalares do setor continua sendo a sinistralidade, que fechou o trimestre em 87,2% – cerca de 1,2% ponto percentual acima daquela apurada no mesmo período do ano passado”, informa a ANS em nota.
Importante destacar, diz a agência reguladora, que a sinistralidade observada nos primeiros trimestres de 2018 e 2019 não superava 82%. Os altos patamares pós-Covid podem ser explicados mais em razão da lenta recomposição das receitas dos planos – principalmente das grandes operadoras –, do que pela variação das despesas assistenciais pelo aumento da utilização dos serviços de saúde.
De acordo com a ANS, cabe ressaltar que neste trimestre foi observada reversão dessa tendência, com a receita (ajustada pela inflação do período observado) subindo mais que a despesa assistencial (também ajustada pela inflação).
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Contexto
Marcos Novais lembra que em abril encerrou um ciclo de reajustes mais elevados, porque as despesas estão e estavam crescendo mais rápido. “A expectativa era que o resultado operacional, ainda que não fosse positivo, fosse menor que ano passado, que foi em R$ 1,1 bilhão. Na prática continua com despesas muito elevadas”, considera.
Para ele, é necessário olhar com muito cuidado para dois fatores: receita e despesa. “O pico de reajuste tem que se espelhar nas despesas e precisamos nos dedicar nas despesas, buscando onde está crescendo mais. O crescimento em reembolso é brutal e sabemos que tem muita fraude. Precisamos de ferramenta para punir isso para conseguir sanar o problema”, diz.
Histórico
No ano passado, o lucro líquido do setor despencou de R$ 3,8 bilhões para R$ 2,5 milhões. Comparado com a receita efetiva de operações de saúde – principal negócio – de R$ 237,6 bilhões, o lucro do ano passado representa apenas 0,001%. Ou seja, para cada R$ 1.000 de receita, foi obtido apenas R$ 0,01 de lucro.
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Com prejuízo operacional de R$ 11,5 bilhões, os planos de saúde médico-hospitalares tiveram em 2022 o pior resultado desde 2001, ano que marca o início da série histórica da ANS.
Entre os fatores que impactam esses resultados estão: o crescimento da frequência de uso dos planos de saúde; o fim da limitação de consultas e sessões de terapias ambulatoriais com fonoaudiólogos, psicólogos, entre outros; o aumento do preço de insumos médicos; a obrigatoriedade de oferta de tratamentos cada vez mais caros, com doses a cifras milionárias; a ocorrência de fraudes; e a judicialização.
Procurada, a Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) informou, por meio da sua assessoria de imprensa, que os resultados econômico-financeiros das operadoras de planos médico-hospitalares no primeiro trimestre de 2023, divulgados pela ANS, confirmam a situação desafiadora que atravessa o setor.
“Mesmo diante de esforços em melhorias contínuas e dos resultados das aplicações financeiras, o prejuízo operacional foi 55% maior que o do primeiro trimestre de 2022, chegando a R$ -1,7 bilhão, enquanto o resultado líquido caiu 41% na mesma base de comparação”, diz.
A nota oficial segue afirmando que consolida-se, assim, um cenário de dificuldades que já vêm de longo prazo, com dois anos de resultados operacionais persistentemente negativos: desde o início de 2021, os prejuízos operacionais acumulados superam R$ 13,3 bilhões.
“A saúde suplementar continua pressionada pelo aumento dos custos em saúde; pela instabilidade regulatória; por medidas legislativas; e pelo aumento das fraudes e da judicialização. A permanência desse cenário ameaça a operação de centenas de operadoras e o atendimento a parte expressiva dos 50,6 milhões de brasileiros que hoje contam com planos de saúde.”