Nova tecnologia da Microsoft quer conectar o real digital à criptomoeda Ethereum

Plataforma cria camadas que isolam riscos de criptoativos e permitem moeda digital "agnóstica"

Paulo Alves

(Kanchanara/Unsplash)

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A Microsoft apresentou na terça-feira (16) uma tecnologia para liquidação de ativos tokenizados que visa criar uma ponte entre o real digital, nova apresentação totalmente virtual da moeda brasileira, e redes blockchain externas fora do controle do Banco Central, como o Ethereum (ETH).

O objetivo é contribuir para que o real digital seja “agnóstico” — ou seja, que possa funcionar em qualquer ambiente, seja em sua rede oficial quanto em sistemas financeiros de nova geração usados pelas criptomoedas.

A solução envolve o uso de camadas: na primeira, entra o BC com a infraestrutura de base do real digital; e nas demais, redes sobrepostas em que podem trafegar diferentes tipos de ativos, que vão de criptoativos e títulos públicos tokenizados ao próprio Pix, feito originalmente para operar na rede bancária tradicional.

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Interoperabilidade

Um dos benefícios é também deixar as instituições financeiras livres para escolherem as tecnologias com as quais preferem trabalhar para lançar seus próprios tokens, independentemente da escolha do BC para o real digital. No projeto-piloto lançado em abril, o regulador irá utilizar a rede Hyperledger Besu.

Se bancos e instituições de pagamentos decidirem utilizar outras alternativas, como Quorum, Besu, Hyperledher Fabric ou Ethereum, bastaria conectá-las ao ambiente de interoperabilidade da Microsoft, explicou João Paulo Aragão Pereira, especialista sênior em tecnologia e inovação da companhia, durante workshop promovido pelo BC em Brasília.

Para Pereira, apesar da complexidade de uma tecnologia como essa, o importante é simplificar o uso por parte do cliente final, que não precisará se preocupar com o ativo que está usando na hora de interagir com inovações financeiras que vão surgir com o real digital: sejam tokens ou o real comum, tudo poderá trafegar de alguma forma pela mesma estrutura.

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“Para o cliente final, se ele usa real digital ou Pix, não importa. Isso tem que ser abstraído no superapp do banco ou da instituição de pagamento”, aponta.

Banco Central não vê dados pessoais

Há ainda uma preocupação com confidencialidade, dado que a tecnologia blockchain é transparente por natureza. Segundo a Microsoft, o mecanismo em camadas impede o vazamento de informações dos usuários pois os bancos poderão ver apenas os dados dos seus próprios clientes, enquanto o BC poderá visualizar somente os números das transações —  informações pessoais estarão ocultas até do regulador.

“Conseguimos construir um ambiente totalmente confidencial. Cada banco vai ter a visibilidade do seu dado, e o Banco Central vai ter a soma de todo o balanço [dos saldos dos clientes], porém não terá informação do usuário, se é o João ou a Maria”, esclareceu o especialista.

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A plataforma da Microsoft também oferece integração com mecanismos de prevenção à lavagem de dinheiro utilizando de três a quatro pontuações diferentes para a mesma transação como meio de evitar fraudes.

O projeto ainda está em fase de estudos e ainda não se sabe se a tecnologia será de fato incorporada pelo real digital e pelas instituições financeiras no País.

Paulo Alves

Editor de Criptomoedas