No final da década de 2000, com o lançamento do Tesla Roadster, o mercado automobilístico entrava definitivamente na “onda elétrica”. Mais de uma década depois, com conceitos como ESG em alta e a disparada de preços de combustíveis fósseis, os modelos elétricos seguem ganhando força.
Só o Brasil já conta com mais de 100 opções de veículos elétricos, entre híbridos e 100%, atraindo uma parcela cada vez maior de clientes, principalmente, com o surgimento de opções mais “em conta”.
A chegada ao mercado do E-JS1, da JAC Motors; e o Kwid, da Renault — ambos custam em torno de R$ 150 mil — fez com que muitos motoristas começassem a pensar na ideia de ter um elétrico na garagem, uma vez que a maioria dos modelos passam dos R$ 200 mil.
Como toda novidade, são muitas as dúvidas sobre custos, manutenção e até como carregar e manter um carro deste tipo. A reportagem do InfoMoney caiu na estrada para testar dois modelos da JAC, o E-JS1 e o E-J7. As impressões tidas sobre o funcionamento dos veículos pode ajudar você a entender as vantagens e as desvantagens dos veículos elétricos. Confira:
Dirigindo um carro elétrico
No teste feito pelo InfoMoney, o primeiro estranhamento se deu com o barulho — ou a falta dele. Ligar um veículo elétrico pode ser bem diferente já que não há nenhum som para identificar quando o automóvel está realmente funcionando.
Sabe-se que o carro está “on” apenas por conta das luzes acesas do painel de controle.
Sobre guiar o carro, basicamente, é como dirigir qualquer outro automático, mas aqui há que se ter um cuidado maior com a aceleração, pois a maioria dos elétricos possui um torque maior — quando se pisa no acelerador, o carro tem uma arrancada forte. Não à toa, eles conseguem atingir de 0 a 100 km/h em tempos abaixo de 5 segundos.
Ao longo dos testes, também foi difícil se acostumar com os freios. Os veículos elétricos possuem os chamados “freios regenerativos”. Neste formato, ao ser acionado, o freio acaba ajudando a recuperar um pouco da bateria, um mecanismo que prolonga a autonomia do veículo.
Por isso, as fabricantes colocaram um sistema (que cada uma dá um nome) em que quando o motorista tira o pé do acelerador, o veículo passa a frear automaticamente. No caso dos carros da JAC testados, a freada é bem forte, o que força uma readaptação da forma de se dirigir e um cuidado extra, principalmente, em locais com mais trânsito.
Em geral, a sensação ao se dirigir um carro elétrico é de muita leveza, com um veículo que tem boa aceleração, sem aquelas “travadas” das trocas de marcha (até porque esses carros não possuem marchas) e sem nenhum som para incomodar.
Onde carregar o carro elétrico?
A quantidade de pontos de recarga tem aumentado consideravelmente, mas ainda segue concentrada nos grandes centros urbanos. Levantamento recente da ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico) apontava que dez estados brasileiros não contavam com nenhuma dessas estruturas.
Neste grupo estão, por exemplo, todos os estados da região Norte, além de Sergipe, Maranhão e Mato Grosso do Sul. O país possui ao menos 1.250 pontos públicos de recarga para modelos elétricos — 47% deles no estado de São Paulo.
Em São Paulo, os eletropontos estão espalhados por shoppings, mercados e prédios comerciais. Porém, durante os testes realizados pela reportagem, houve grande dificuldade em carregar os veículos porque a maioria deles não são de carga rápida — são necessárias 7 horas para o veículo ficar totalmente carregado nestas estruturas.
Em duas ocasiões — em plena estrada e durante ida ao shopping — uma hora de abastecimento rendeu 10% de carga. E o perrengue continuou: em uma dessas saídas, o carregador parou de funcionar, mas a reportagem só deu conta disso quando precisou dirigir o veículo novamente.
A dica é: organize-se para carregar o veículo sempre tendo um local fixo para isso. É preferível deixar o carro sendo carregado ao longo da noite (em casa) ou em algum lugar público no período em que você estiver trabalhando, por exemplo.
Quanto custa ter um carregador em casa?
Proprietários de carro elétrico podem carregar o veículo em casa. A maioria dos modelos já são vendidos com um adaptador que conecta o carro em uma tomada 220 volts — a mesma disponível na maioria das casas.
Essa opção, porém, faz um carregamento muito lento, que pode demorar mais de 10h para ir de 0 a 100%. Nesse caso, é producente deixar o automóvel carregando durante a noite para ter carga suficiente para se locomover no dia seguinte.
Quem preferir instalar em casa um carregador elétrico, chamado de Wallbox, é preciso investir ao menos R$ 5 mil. O mercado conta com diferentes opções que, inclusive, oferecem quantidades diferentes de energia e diminuem o tempo de recarga. O preço desses aparelhos mais robustos pode passar dos R$ 10 mil.
A instalação exige mão de obra especializada porque será preciso um novo ponto de energia no quadro de luz da residência. Se você mora em prédio residencial, antes de iniciar a instalação do equipamento, é preciso solicitar autorizações ao condomínio com supervisão do síndico.
Qual o impacto na conta de energia elétrica?
Além do preço em si do carro elétrico, outro custo que deixa o motorista preocupado é com a recarga de energia elétrica. A boa notícia é: a economia pode ser grande em relação ao carro a combustão, que necessita de gasolina, por exemplo.
O valor exato depende da região em que você mora porque cada estado possui um custo diferente de energia elétrica. Considerando uma taxa de R$ 0,92 KWh (valor médio cobrado em São Paulo), os modelos mais baratos, como o E-JS1 e o Kwid elétrico, custam cerca de R$ 30 para carregamentos que vão de 0 a 100%.
Importante lembrar: o cálculo feito não considera as variações de bandeiras tarifárias.
Ambos os veículos usados no exemplo acima (E-JS1 e o Kwid elétrico) oferecem uma autonomia de cerca de 300 Km, valor abaixo dos modelos a combustão mais vendidos do país, como HB20, da Hyundai, que pode rodar quase 600 Km com um tanque cheio de gasolina.
Mesmo assim, pensar que um tanque cheio de um carro a combustão pode custar mais de R$ 300, mesmo sendo necessário duas cargas completas em um carro elétrico para obter a mesma autonomia, o valor ainda é bem satisfatório.
Quem tem carro elétrico ainda tem outra vantagem: locais com carregamento em shoppings, mercados e estradas costumam não cobrar pelo serviço. A reportagem do InfoMoney fez recargas em um shopping e, quando dirigiu em plena estrada, fez uma parada em uma concessionária da JAC, que também aceita veículos de outras marcas.
A dica é: combine o carregamento em casa com o realizado em pontos públicos. Assim, você vai conseguir reduzir ainda mais seu custo mensal, que pode chegar a zero se você utilizar apenas os locais fora de casa.
Os custos com manutenção são caros?
Outra vantagem dos carros elétricos é com o custo de manutenção.
Por não ter câmbio, radiador, filtro de ar, filtro de óleo, filtro de combustível, sistema de escapamento, correias, velas, catalisador, entre outros componentes, a manutenção desse tipo de veículo é muito menor, podendo chegar a 50% do valor de um carro a combustão.
Por outro lado, existe um risco sobre a bateria. Apesar de muitas vezes ser coberto pela garantia, um problema na bateria pode elevar os gastos. A vida útil de uma bateria pode atingir 10 anos.
Caso a bateria dê algum problema ou estrague, a única solução é trocá-la, o que custa em torno de R$ 15 mil. Vale lembrar que a bateria é um dos itens que mais ajuda a deixar um veículo elétrico caro hoje e tem sido o foco de atenção das fabricantes que buscam meios para barateá-la.
Seguro de elétricos é mais elevado?
A resposta é sim.
O custo tende a ser maior pelo fato de que a maioria das cotações é feita sobre o valor do veículo, e como um carro elétrico custa mais caro, seu seguro também aumenta na comparação com automóveis a combustão.
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Carro elétrico desvaloriza mais rápido?
Números recentes da consultoria KBB, divulgados no Prêmio Melhor Revenda 2022, mostram que a desvalorização dos carros elétricos não é maior do que a de outros veículos.
Veja um exemplo: o elétrico BMW I3 ficou na 19ª posição entre 94 carros avaliados no quesito desvalorização, perdendo 6,6% de seu valor em um ano de uso. O modelo elétrico é o que atingiu a posição mais alta.
Alguns modelos a combustão perderam mais valor, como o Renault Stepway, que caiu 15,77%; o Volkswagen Saveiro perdeu 11,94%, e o Toyota Corolla, 9,77%.
Vale a pena ter um carro elétrico?
Quem pensa em comprar um veículo elétrico, precisa se planejar para carregar o automóvel. Como dito anteriormente, depender só de carregadores em locais como shoppings e mercados não é viável devido à lentidão para se obter uma bateria cheia.
É preciso ter uma opção para carregar em casa ou enquanto está trabalhando, já que mesmo que o carregador também seja do modelo mais lento, nessas situações, é possível deixar o carro pelo menos 4 horas neste processo.
Em relação ao custo, apesar do preço bem maior de entrada, a economia sobre manutenção e abastecimento acaba tornando o veículo elétrico muito mais atrativo — no médio e longo prazos, claro.
O valor desembolsado por cada motorista ao longo da utilização do carro vai variar, tanto pelo modo de usar o veículo quanto pela região em que está (devido ao preço da energia).
Outro ponto importante é avaliar qual carro adquirir. As novas opções mais em conta de elétricos, em torno de R$ 150 mil, podem ser atrativas para quem tem bolso para isso, mas existe a questão dos acessórios e do acabamento.
Para conseguir baratear o carro, as montadoras acabam deixando de fora muito itens, desde faróis de LED até o tamanho da tela multimídia e o acabamento interno.
Os dois carros testados nesta reportagem são distintos. O E-J7 é completo, com tela de 13 polegadas, acabamento em couro, teto solar, faróis de LED, entre outros itens. Já o E-JS1 tem praticamente todo seu interior em plástico, não possui multimídia com Android Auto e Apple CarPlay e até a tela do painel é reduzida.
Avalie se é melhor comprar um carro de entrada elétrico, de R$ 150 mil, que não tenha muitos extras ou continuar com um veículo a combustão muito mais completo em relação aos acessórios.
Uma coisa é certa: se há uma década, quando surgiram os primeiros modelos elétricos, muita gente questionava se a categoria iria realmente se manter no mercado, hoje é bem claro que esse é um movimento que não tem como pisar no freio.
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