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Com nova sessão de queda para o minério de ferro, que desaba 50% em relação aos picos de abril, e a repercussão do resultado do terceiro trimestre de 2022 (3T22), com números que decepcionaram o consenso de mercado, a sessão é mais uma vez de pressão para as ações da Vale (VALE3).
O pré-mercado nos EUA já mostrava que o dia seria difícil para os ativos. Os seus ADRs (American Depositary Receipts, na prática, recibo de ações negociados nos EUA) VALE negociados na Bolsa de Nova York caíam 2,92%, a US$ 12,98, no pré-market, às 8h45 (horário de Brasília) desta sexta-feira (28). Durante todo o pregão da B3, os ativos VALE3 tiveram baixa, fechando o dia com queda de 4,88%, a R$ 67,45.
Na véspera, os ativos VALE3 já tinham caído 3,56% na B3, sendo destaque de baixa do Ibovespa em um dia positivo para o índice (que subiu 1,66%). Os investidores já estavam à espera de números fracos com preços de minério mais fracos, apesar de maiores volumes embarcados.
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Contudo, os dados vieram piores do que o esperado.
O ponto de atenção dos analistas foi o dado de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado, de US$ 4,002 bilhões, que ficou 43,4% abaixo do mesmo intervalo de 2021 e 27,6% abaixo do segundo trimestre. A expectativa era de recuo para cerca de US$ 4,5 bilhões.
“Os investidores sabiam que a lucratividade estaria sob pressão uma vez que os preços das commodities caíram no trimestre. Mas os números abaixo das projeções vieram de todos os lugares. O Ebitda de minério de ferro ficou 9% abaixo do consenso e o do segmento de metais básicos ficou abaixo do consenso por 23% principalmente com custos mais altos de [produção de] níquel (que parecem ter alguns componentes pontuais)”, destacou o JPMorgan.
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A XP também aponta que menores preços de minério de ferro e menores preços de níquel aliados a custos acima do esperado impactaram significativamente os resultados da mineradora, apesar de um ambiente de melhoria na produção e nas vendas de minério de ferro.
O Ebitda de minério de ferro foi de US$ 3,8 bilhões (queda de 27% na base trimestral), devido ao menor preço de venda do ferro e maiores custos de frete. O preço-referência médio do minério de ferro caiu 25% no trimestre (de US$ 138 a tonelada para US$ 103 a tonelada).
O custo C1, ou custo de produção dos finos de minério de ferro da mina ao porto, excluindo compras de terceiros ficou em US$ 19,40 a tonelada, uma queda de US$ 1,50 a tonelada em relação ao trimestre anterior (baixa de 7% na base trimestral), explicado, entre outros fatores, por diluição de custos fixos devido a maior produção e efeito positivo da variação cambial, mas parcialmente compensados por consumo de estoques com custos mais elevados e maiores custos com diesel.
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O custo unitário do frete marítimo da Vale, um dos principais motivos da diferença versus a estimativa da XP, foi de US$ 22,40 a tonelada no 3T22, US$ 1,10 a tonelada acima do que no 2T22, impulsionado por: maior custo de afretamento e de estoques consumidos no trimestre, além de um efeito defasado de maiores custos de combustível. Esses fatores foram parcialmente compensados por menores taxas de frete.
Já o Ebitda da divisão de metais básicos foi de US$ 364 milhões, queda de 40% na base trimestral, de 28% na base anual e 30% abaixo do esperado pela XP. Para o níquel, os preços mais baixos e os efeitos dos estoques no segundo trimestre estiveram entre os fatores que impactaram significativamente as operações. Por outro lado, o Ebitda de cobre teve alta no trimestre devido a menores custos no projeto Salobo (localizado no Pará) e à conclusão da manutenção da planta em Sossego.
“Nós esperamos uma reação negativa do mercado por conta dos números deste trimestre”, apontou o Bradesco BBI, destacando também os custos acima do esperado no segmento de minério de ferro, com os custos de entrega total de US$ 51,3 a tonelada, contra sua estimativa de US$ 48 a tonelada e ante um número de US$ 52 no 2T22, com fretes mais altos e
custos C1 ainda altos, enquanto os resultados da divisão de metais básicos permanecem abaixo do potencial.
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O JP destaca que a Vale foi a primeira mineradora na América Latina a publicar resultados. Os menores volumes de vendas foram impulsionados por sua estratégia de valor sobre o volume. No entanto, os preços não animaram, o que sugerem riscos de queda para os seus pares, avalia o banco, caso da CSN Mineração (CMIN3) e sua controlada CSN (CSNA3).
Fluxo de caixa e novo conceito de dívida versus queda do minério
Do lado mais positivo, o BBI e o JPMorgan destaca que a geração de fluxo de caixa livre (FCF) foi sólida, a US$ 2,2 bilhões, enquanto a empresa continua focada em realizar seu mais recente programa de recompra de ações.
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A XP também destaca que a Vale anunciou um novo conceito de dívida líquida expandida, excluindo REFIS e provisões de descaracterização da definição anteriormente utilizada, “buscando estar mais alinhada com as práticas de mercado e ter um indicador que melhor informe a gestão nas decisões de alocação de capital”. Embora essa mudança na definição tenha reduzido o número em cerca de US$ 6 bilhões, a meta permaneceu na faixa de US$ 10-20 bilhões. Então, na prática, a meta de alavancagem foi aumentada.
Para o Itaú BBA, os novos critérios de dívida líquida expandidos poderiam permitir dividendos e/ou programas de recompras de ações maiores, além de acomodar provisões adicionais para a fundação Renova, responsável por gerir os programas de reparação, restauração e reconstrução das regiões impactadas pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), ocorrido em novembro de 2015. O BBI também aponta que o novo critério pode dar mais espaço para aumentar a remuneração dos acionistas, dependendo das condições de mercado.
Contudo, levando todos os fatores em conta, os números da companhia decepcionaram os analistas, com o JPMorgan projetando que as expectativas do consenso de mercado para os próximos trimestres devem ser revisadas para baixo.
Soma-se a isso a sessão de queda para o minério. O contrato futuro mais ativo da commodity negociado na Bolsa de Dalian (China), com vencimento em janeiro, caiu 4,9% nesta sexta, a 624,50 iuanes (US$ 86,31) a tonelada, a caminho de sua terceira queda semanal consecutiva.
Enquanto isso, o minério de ferro spot caiu esta semana para o menor nível desde maio de 2020, abaixo de US$ 90 a tonelada, já que as margens negativas levaram as siderúrgicas chinesas a conter a produção. Com o enfraquecimento da demanda global por aço e a economia da China, principal produtora de aço, atingida pelas restrições com as medidas para conter a Covid-19 e a desaceleração no mercado imobiliário, os analistas não veem uma recuperação no final do ano para o preço do aço e minério de ferro.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) disse que não espera uma resolução rápida para a turbulência imobiliária na China.
Novos lockdowns da Covid-19 na China, expectativas de novos aumentos nas taxas de juros nos EUA e sinais de aumento da oferta de minério de ferro também têm pressionado os preços.
Diante desse cenário, algumas casas de análise mostram maior cautela com a Vale, caso do Morgan Stanley e do Goldman Sachs, que possuem recomendação equivalente à neutra para os ativos, com preços-alvo respectivos para o ADR de US$ 14,50 (upside de 8,5% em relação ao fechamento da véspera) e de US$ 13 (2,8% abaixo do fechamento de ontem).
Por outro lado, outras seguem otimistas com os ativos, como o Bradesco BBI e a XP, que apontam principalmente o valor considerado atrativo de suas ações, após uma queda de 26,5% de VALE3 desde o seu pico em 2022, no começo de março.
“Negociando a [um múltiplo] de 3,6 vezes o EV/Ebitda [valor da empresa sobre o Ebitda] esperado para 2023, mantemos nossa recomendação de compra no nome”, aponta a XP.
O BBI calcula o múltiplo de EV/Ebitda para 2023 em 3,8 vezes, o que também enxerga como atrativo, com remuneração aos acionistas de 14% do valor de mercado por meio de recompra e dividendos. Assim, a recomendação para o ADR é outperform (desempenho acima da média do mercado), com preço-alvo de US$ 18 (upside de 31%).
Além disso, os analistas do banco ressaltam que o fato de a Cosan (CSAN3) ter comprado recentemente uma participação considerável na Vale poderia implicar em maior implementação de medidas de otimização, o que pode levar a um melhor desempenho operacional a médio prazo.
A Eleven também tem visão positiva para o papel, destacando que a ação da Vale deve performar bem para os próximos períodos, com a ação operando a um desconto de 27% sobre a média dos últimos 5 anos, além do possível spin-off da unidade de metais básicos, que deve destravar um valor significativo para a companhia.
“A recente melhora de produção do segmento [metais básicos] é resultado do foco que a companhia tem dado para a operação, que deve apresentar um crescimento significativo nos próximos anos. A Vale está buscando parceiros para o segmento a fim de melhor precificar a unidade e destravar seu valor”, avalia.
Em live nesta semana transmitida pelo Stock Pickers (veja abaixo), Alexandre Mastrocinque, head de research na Grimper Capital, destacou estar otimista com Vale apesar do cenário não ser o dos mais positivos para o minério, também destacando o valuation da empresa atrativo como uma boa oportunidade para se posicionar. Além disso, a companhia possui um minério de alta qualidade, o que é positivo em um cenário em que as preocupações com descarbonização e redução de emissões ganham força.
Contudo, com notícias negativas vindas da China, dados fracos e pressão sobre a oferta, a expectativa ainda é de pressão no curto prazo para os ativos, aumentando a cautela dos investidores.