Twitter (TWTR34): Elon Musk quer liberdade de expressão, mas desafio principal é monetizar plataforma

Analistas explicam que a rede social não possui plano para monetizar ou crescer base de assinantes; Musk ainda não tocou no assunto

Mitchel Diniz

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A compra do Twitter (TWTR34) pelo homem mais rico do mundo chama atenção pela pujança do negócio, de US$ 44 bilhões, mas também lança a rede social dos 280 caracteres em um terreno de muitas incertezas.

Com a venda para Elon Musk, a empresa vai fechar capital e se tornará uma companhia privada. O bilionário, usuário assíduo do Twitter, com mais de 80 milhões de seguidores, sinalizou, em diversas postagens, as mudanças que pretende fazer. Entre elas, a de fazer da rede um espaço de “liberdade de expressão”, porém mais rigorosa em termos de autenticação de usuários. Nenhuma palavra, porém, sobre como o Twitter, em sua nova fase, vai conseguir monetizar sua plataforma – um desafio apontado pelos atuais investidores da companhia.

“Do ponto de vista fundamental, a empresa não é uma boa compra, um bom investimento. O management não consegue entregar um plano de monetização e crescimento de usuários. Mas é inegável que os mais de 200 milhões de usuários do Twitter veem valor na plataforma”, afirmou Paulo Gitz, head de equities da XP International, em entrevista ao Coffee & Stocks (veja a íntegra no vídeo acima)

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Mesmo com a disparada no preço da ação após a confirmação da compra por Elon Musk, a ação do Twitter ainda oscila em patamar muito próximo do seu primeiro dia de negociações na Nasdaq, em novembro 2013. Ainda assim, na avaliação de Gitz, a empresa não está barata e negocia a múltiplos esticados.

“A aquisição realizada por Musk pode sim ser um gatilho positivo para a companhia, mas ainda restam dúvidas sobre a capacidade do bilionário de expandir a lucratividade da rede social para novos recordes históricos. Atualmente o mercado não espera que a lucratividade do Twitter retorne aos níveis pré-pandemia, de 2019, antes de 2025”, complementa Rodrigo Lima, analista de investimentos da Stake.

As ambições de Musk também podem esbarrar em questões regulatórias, o que arrisca tirar o foco do mais importante para o Twitter no momento. A União Europeia disse publicamente que a plataforma deverá cumprir com regras digitais do bloco, sob o risco de multa ou até mesmo de uma proibição.

“Declarações recentes mostram que existem intenções de criar uma plataforma realmente livre e democrática. Mas é difícil saber o que isso significa para os acionistas. Para atingir o objetivo de Musk, a monetização maior da plataforma deve ficar em segundo plano”, afirma João Beck, economista e sócio da BRA.

Atualmente, o Citi vê o Twitter como um dos melhores provedores de conteúdo da internet e uma das principais ferramentas de busca por notícias e opiniões imediatas. Agora, como companhia com capital fechado, os analistas do banco esperam que a empresa se concentre principalmente em melhorar a experiência do produto enquanto diversifica suas fontes de receita.

“Notamos que alguns dos planos imediatos de Musk incluem fazer do algoritmo do Twitter uma plataforma aberta, adicionando novas funcionalidades e a autenticação de usuários. Dito isso, esperamos que essas iniciativas levem algum tempo, enquanto a organização digere a mudança de controle”, diz o relatório do Citi.

Musk é um crítico contumaz da forma como o Twitter é administrado atualmente. Os analistas também acreditam que o management não têm sido capaz de formular uma estratégia de monetização para a plataforma, atendendo a uma demanda dos próprios usuários. “Nada será como antes no Twitter. O holofote estará na board“, afirma Gitz. Ao comprar a empresa, Elon Musk poderia fazer mudanças parciais no conselho de administração ou substituí-lo por completo.

Ao tornar o Twitter uma empresa de capital fechado, Musk também terá o desafio de estabelecer uma nova estrutura de remuneração dos funcionários, que atualmente recebem bonificações em ações. Resta também a dúvida se, como companhia privada, o Twitter teria uma estrutura mais enxuta.

Sinergias com as outras empresas de Musk

“Entendemos que não há uma sinergia clara entre a nova aquisição e suas empresas atuais: Tesla, SpaceX e The Boring Company”, diz análise da XP, assinada por Jennie Li, Rafael Nobre e Pietra Guerra. Musk se comprometeu com um financiamento no valor de US$ 25,5 bilhões para comprar o Twitter, além da aquisição de ações no montante de US$ 21 bilhões para comprar a plataforma de rede social.

Porém, ainda não se sabe se o bilionário optará por vender ações da Tesla (TSLA34) para financiar parcialmente o negócio. Essa possibilidade aumentou a pressão sobre as ações do grupo de veículos elétricos. A Tesla está entre as empresas de capital aberto mais valiosas do mundo, valendo US$ 942 bilhões na terça-feira.

A empresa, no entanto, continua impactada por gargalos na cadeia de produção, em função da pandemia. Em seu resultado do primeiro trimestre de 2022, embora a receita automotiva tenha aumentado 87% , para US$ 16,86 bilhões, a empresa perdeu cerca de um mês de “volume de construção” em Xangai por causa das paralisações por conta da Covid.

“A produção está sendo retomada em níveis limitados e estamos trabalhando para voltar à produção total o mais rápido possível”, disse o CFO Zach Kirkhorn na teleconferência de resultados da empresa.

Os investidores da Telsa também podem estar preocupados com as possíveis distrações de Musk advindas de possuir uma plataforma como o Twitter. Musk parece querer influenciar fortemente as operações da empresa, o que levaria a uma “crise de administração de tempo” para ele, conforme aponta a CNBC. Supondo que o acordo seja fechado, Musk estaria no comando da Tesla, Twitter e SpaceX. Ele também possui dois empreendimentos menores, a Boring Company e a Neuralink.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados