“Tem que ser profissional para fazer uma crise desse tamanho”, diz Marcos Lisboa

Em evento da OEB, o economista ressaltou que a reforma da Previdência sozinha não resolverá o problema do País, mas que, se o governo conseguir juntamente dar andamento à ampla agenda fiscal, poderemos ter um bom final de ano e início de 2018

Paula Barra

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SÃO PAULO – O Brasil vive uma janela de oportunidade: a grande questão é se vamos aproveitá-la ou não, comentou Marcos Lisboa, presidente do Insper e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda. Para ele, não basta apenas aprovar a Reforma da Previdência, é preciso dar sequência a uma extensa agenda fiscal. “Porque vamos combinar: ninguém faz a maior crise da história de um país com três ou quatro bobagens. Tem que ser profissional para fazer uma crise desse tamanho. É muita coisa para corrigir. É muito estrago na economia. Temos uma agenda longa”, disse o economista em palestra apresentada em almoço mensal da OEB (Ordem dos Economistas do Brasil) na sexta-feira (7).

Segundo ele, a reforma da Previdência sozinha não é suficiente. A agenda do País é grande, mas, se ela for implementada como se deve, poderemos ter um bom início de 2018. “Aí teremos uma opção em 2018: se vamos continuar nessa agenda devagar, lenta, de resolver o problema ou se vamos voltar ao velho Brasil. Se escolhermos o primeiro caminho, então teremos um longo chão de recuperação”, disse o economista na sexta-feira no tradicional restaurante do Edifício Itália, na região central de São Paulo.

Agora, “se o Brasil escolher a opção de continuar trilha que parte da América Latina sempre escolhe, se der uma zebra grande, aí voltamos ao que era em 2015 e 2016. Acho que é um momento importante e difícil”, complementou. 

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Apesar de apontar o caminho mais sombrio, ele ressaltou que a sociedade mudou e a disposição para enfrentar temas difíceis melhorou, deixando o cenário um pouco mais positivo.

A “política inteligente” que quase quebrou a Petrobras

Durante a palestra, Lisboa criticou também o que chamou de “política inteligente” da gestão anterior, que quase quebrou a Petrobras: “pode parecer que não, mas o governo anterior quis fortalecer a Petrobras, mas quase quebrou a empresa. Não foi a corrupção. O congelamento do preço da gasolina custou uns R$ 60 bilhões, os projetos fracassados mais uns R$ 150 bilhões”, disse, emendando já em outra área: “O Minha Casa, Minha Vida, outro exemplo, isso é uma tristeza. É tudo errado. Há graves problemas nas regras”.

Segundo ele, o Brasil passou por uma “intervenção setorial estabanada”. “É difícil imaginar alguém conseguir errar tanto. E detalhe: aqui não foi só o governo. Isso contou com o apoio entusiasmado do setor privado”, complementou.

O caso Oi

Segundo ele, o País tem um grande problema na área da regulação. “A Oi é um bom exemplo porque é grandioso. Tudo deu errado. Tinha problema de gestão. O governo resolveu mexer no mercado e queria que a então Telemar comprasse a Brasil Telecom no Centro Oeste. Mudou a lei para isso. Nossa agencia falhou imensamente na regulação. Quando a regulação foi feita lá atrás só tinha telefone fixo e a regra foi de universalização, mas a tecnologia mudou e a regulação não se atualizou e a Oi quebrou”, comentou. 

Lisboa criticou ainda a política do Brasil em tentar impedir o processo natural em que empresas quebrem e surjam novas: “A quebra da Oi tem ainda uma coisa surpreendente. Antes de quebrar, a empresa valia R$ 1 bilhão. Depois da recuperação, passou a valer R$ 2,6 bilhões. Em que país do mundo uma empresa se valoriza depois de entrar em recuperação judicial? Só um pais em que o processo judicial favorece o acionista em detrimento dos credores”, comentou.

Segundo ele, os juízes bem intencionados querem salvar o negócio e para isso estão afastando a lei das falências. “Isso acaba beneficiando o devedor que quebrou. A empresa não melhora nada com isso, fisicamente. Mais ainda, você impede o processo natural de quebrar e surgir novas empresas”, disse. Segundo ele, essa visão míope de proteger as empresas ineficientes machuca o país e são várias empresas ineficientes que não quebram. “É esse processo de quebrar e surgir novas empresas que faz o crescimento”, comentou.

Por conta disso, ele acredita que o crédito no Brasil deve mudar após essa crise. “Não vai voltar a ser como antes. Todas aquelas reformas que permitiram a expansão do crédito foram por água abaixo”, concluiu.

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