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Ao apostar na expansão da Smiles e focar o trabalho da empresa de benefícios nas milhas para viagens, a Gol ganhou não apenas um lucrativo negócio paralelo, mas também um parceiro comercial cada vez mais relevante. Durante o período em que a Gol enfrentou uma forte crise por causa da brusca queda da demanda por passagens e da alta do dólar, a Smiles fez aporte bilionário na aérea ao comprar antecipadamente passagens. A companhia de benefícios também dobrou sua participação nas vendas de bilhetes da Gol.
Em 2013, quando abriu o capital, a Smiles representava 7% do total de vendas da Gol, porcentual que hoje está em 14%. Além de ser hoje a maior parceira individual da Gol, a Smiles continua a financiar a companhia aérea por meio da compra antecipada de passagens para ofertar a seus usuários. Em entrevista conjunta ao Estado, os presidentes da Gol e da Smiles – Paulo Kakinoff e Leonel Andrade, respectivamente – explicaram que o resultado de um negócio “retroalimenta” o do outro.
Ao vender as passagens antecipadamente, a Gol garante faturamento antecipado – no movimento mais recente, feito este ano, a Smiles garantiu R$ 480 milhões “extras” à aérea. Essa antecipação funciona como uma espécie de crédito, remunerada 23% acima do valor da renda fixa (CDI). Isso acarreta o ganho da Smiles com juros. Parte desse ganho financeiro, porém, acaba voltando para a Gol, que é dona de 54% da companhia de benefícios.
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Assim como a Smiles é importante para a Gol, a sobrevivência da companhia de milhagens depende da aérea, que fornece seu principal “produto” – de certa forma, portanto, as duas empresas compartilham os riscos inerentes ao setor aéreo, como a flutuação do câmbio e da cotação do petróleo.
Ao contrário de outras empresas de benefícios, que têm se dedicado a premiar a clientela com eletrodomésticos e outros produtos, a Smiles investe toda sua energia nas milhas. “O cliente quer a passagem área, e não cafeteira”, define Andrade. Hoje, 90% dos resgates da Smiles são de passagens áreas – 70% da Gol e 30% de parceiras como AirFrance-KLM e Delta.
Interdependência
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Como a operação da Smiles depende da existência da Gol, a recuperação da aérea de 2016 para cá, após vários anos de crise, foi encarada como uma boa notícia pelo mercado financeiro, que “premiou” os papéis de ambas as companhias com fortes altas no acumulado deste ano. “Lá no passado, em 2015 e 2016, o investidor tinha forte aversão à Gol, o que colocava a Smiles em uma posição delicada. A questão era: será que ela para ou não em pé?”, diz Marcos Saravalle, analista da XP Investimentos.
Na esteira da melhora dos resultados da Gol – que fechou 2016 no azul e projeta novo resultado positivo para 2017 -, as ações das duas companhias tiveram fortes altas. A Gol, que vinha operando em patamar especulativo, subiu 175% – começou o ano cotada a R$ 4,62 e fechou ontem a R$ 12,70. A Smiles, na mesma comparação, subiu mais de 70% e seu papel hoje vale R$ 76,94. “A Smiles sempre foi uma excelente empresa, por ser muito rentável, e agora é beneficiada também pelo movimento da Gol”, ressalta Saravalle.
O presidente da Gol credita a melhora de resultados da aérea à redução de oferta de voos e ao reposicionamento da marca, que abandonou a linha low cost (baixo custo) que adotava desde sua fundação. O executivo admite que a demanda havia sido superdimensionada, obrigando todas as companhias aéreas a cortar voos e trechos para adequar a operação.
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Diante da reorganização já feita, e já percebendo alguns sinais de melhora na economia, Kakinoff acredita que a atual oferta da Gol está adequada ao mercado atual. Pode ser o fim de um longo ciclo de cortes. “Não há projeção adicional de novas reduções de capacidade. Acreditamos que existe um posicionamento mais racional da indústria como um todo.”
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