Sinal mais “dovish” do Fed anima mercados: fator de alívio vai durar?

Analistas apontam agenda importante que pode trazer mais sinais sobre rumo do mercado, como CPI, ata do Fomc e resultados

Equipe InfoMoney

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Depois de seguidas baixas do Ibovespa, o índice tem a a terceira alta seguida nesta terça-feira (10), apesar das questões geopolíticas com o conflito Israel-Hamas, que são uma fonte de instabilidade desde o último fim de semana. Na sessão, às 12h33 (horário de Brasília), o Ibovespa subia 1,27%, a 116.621 pontos.

Na véspera, uma virada do mercado (para alta das Bolsa) aconteceu durante a tarde após os discursos mais “dovish” (brandos) dos integrantes do Federal Reserve. O movimento seguiu assim a alta dos mercados na sexta-feira (6), mesmo com um dado de relatório de emprego muito forte nos EUA (mas com dados de salários um pouco abaixo do esperado que acabaram chamando a atenção dos investidores).

Já na última segunda, dois dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) levantaram a tese de que a escalada recente que houve dos juros longos dos Treasuries pode fortalecer o argumento contra novos passos no processo de aperto monetário dos Estados Unidos, reduzindo a necessidade de mais aumentos na taxa básica. Esses discursos animaram os mercados, tão afetados pela alta dos rendimentos dos títulos americanos, que tiram atratividade da renda variável e dos mercados emergentes.

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O vice-presidente do Fed, Philip Jefferson, indicou que a instituição atuará “cautelosamente” e levará em consideração a disparada nos rendimentos dos títulos públicos.

Antes, a presidente da distrital de Dallas, Lorie Logan, também comentou que os elevados prêmios dos bônus de longo prazo potencialmente diminui a urgência de mais altas dos juros básicos. A dirigente, no entanto, alertou para a inflação ainda muito alta e evitou declarar vitória na busca pela estabilidade de preços.

Títulos dos EUA têm maior queda nas taxas desde março com esperança de pausa no aperto monetário

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Já nesta terça, o presidente do Federal Reserve de Atlanta, Raphael Bostic, disse que o banco central dos Estados Unidos não precisa aumentar ainda mais a taxas de juros e não vê nenhuma recessão à frente, mesmo que os aumentos dos juros até agora desacelerem a economia e reduzam a inflação.

“Estamos em uma boa posição” para que a política monetária reduza a inflação muito alta para a meta de 2% do Fed, disse Bostic à American Bankers Association. A política monetária é suficientemente restritiva e “muito” do impacto dos aumentos de juros pelo Fed até o momento ainda está por vir, disse ele.

Em análise, o Citi destacou ter ficado surpreendido com a resposta relativamente unificada e pacífica de alguns integrantes do Fed ao aumento dos rendimentos dos títulos do Tesouro a longo prazo.

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“Em setembro, as autoridades pretendiam tornar as condições financeiras mais restritivas, mas o subsequente rápido aumento dos rendimentos reais de longo prazo fez com que tanto os integrantes dovish relativos (Mary Daly, Presidente do Federal Reserve de São Francisco, e Jefferson) como até mesmo os hawkish (mais duros sobre inflação) moderados (Lorie Logan, do Fed de Dallas) sugerissem que rendimentos mais elevados a longo prazo podem substituir os aumentos das taxas”, aponta o banco.

Para os economistas, é pouco provável que a tentativa de controlar os rendimentos do Tesouro a longo prazo através de uma intervenção retórica seja bem sucedida a longo prazo. Mas, no curto prazo, a visão mais pacífica do Fed ajudou a interromper a visão do aperto das condições monetárias. “Vale ressaltar que os acontecimentos geopolíticos representam um choque negativo na oferta, aumentando ainda mais o risco ascendente para a inflação”, aponta o banco americano.

Assim, o cenário é de certo alívio, por ora, como retratam os Treasuries na volta do feriado, em meio à percepção de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) não elevará os juros no encontro de novembro.

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“Os mais otimistas esperam até uma decisão semelhante na última reunião deste ano, agendada para os dias 12 e 13 de dezembro. Se isso se confirmar, os juros permanecerão no patamar até o início de 2024, indicando fortemente que essa pode ser a ‘taxa terminal'”, aponta a Levante.

Mas a percepção é que as taxas ficarão elevadas por mais tempo do que o imaginado, o que tem reduzido o volume financeiro da B3.

“Ações do setor financeiro sobem lá fora e refletem aqui. Hoje temos um exterior um pouco mais calmo, inclusive em relação ao conflito no Oriente Médio. Os mercados ainda reverberam as declarações de dirigentes do Fed de ontem, sinalizando que não haverá alta dos juros em novembro”, disse Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença, ao Broadcast.

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Especificamente sobre a sessão desta terça, sinais de adoção de novas medidas de estímulo na China também impulsionam alta do Ibovespa, sendo mais um fator de alívio para os investidores em Bolsa.

Há relatos de que a China estuda aumentar seu déficit orçamentário para 2023 enquanto o governo prepara outra rodada de estímulos para ajudar a economia a atingir sua meta oficial de crescimento. Estima-se que serão disponibilizados pelo menos 1 trilhão de yuans (US$ 137 bilhões) em dívida governamental para gastos com infraestrutura.

No que ficar de olho

Para os próximos dias, os mercados em todo o mundo seguem acompanhando os indicadores da economia americana em busca de pistas sobre os próximos passos do Federal Reserve em relação à taxa de juros do país. Na quinta, dia 12 de outubro, ainda que seja feriado no Brasil e o mercado local esteja inoperante, os investidores vão conhecer o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos EUA referente ao mês de setembro.

O consenso do mercado, compilado pela Refinitiv, aponta para um avanço de 0,3% no índice em relação a agosto. Em 12 meses, a inflação ao consumidor deve desacelerar para 3,6%. Para o núcleo do CPI, a expectativa é de alta de 0,3% na comparação mensal, levando o core anual para 4,1%.

Um dia antes, na quarta-feira (11), sai o índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês). A média das projeções do mercado aponta para alta de 0,3% em relação a agosto e inflação de 12 meses em 1,6%.

Não menos importante, é a ata da última reunião do Comitê de Mercado Aberto do Fed, realizada nos últimos dias 19 e 20 de setembro. Na ocasião, o BC americano pausou o ciclo de aperto monetário pela segunda vez no ano, mas o discurso duro do Fed acabou afetando os mercados. Assim, a ata é outro destaque da quarta-feira.

Além disso, atenção para o início da temporada de balanços trimestrais dos bancos americanos, na sexta-feira (13). JP Morgan, Wells Fargo e Citigroup serão os primeiros a reportar resultados, com números importantes para entender o cenário da economia americana. Os próximos dados serão importantes para definir o rumo dos mercados.

(com Estadão Conteúdo e Reuters)

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