Setor elétrico tem boas ações para uma carteira anti-inflação, mas o segredo está no balanço

Analistas contam o que esperam que possa constituir uma boa segurança contra o aumento geral de preços

Ricardo Bomfim

(Shutterstock)

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SÃO PAULO – A inflação voltou a ser pauta na economia brasileira. Se os 3,14% de aumento do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 12 meses confirmados nesta sexta-feira (9) não parecem tão assustadores assim (sendo mais preocupante a alta dos preços dos alimentos), os 17,94% de aumento do Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M) no mesmo período são bem mais alarmantes.

Vale lembrar que enquanto o IPCA segue uma cesta básica de mercadorias e serviços consumidos por famílias com renda de 1 a 40 salários-mínimos, o IGP-M reflete os preços do atacado e das atividades do agronegócio e da indústria.

Em uma realidade de taxa Selic em 2% ao ano, esses números chamam a atenção dos investidores, pois o rendimento dos títulos de renda fixa mais seguros já é menor que o da inflação. A solução, invariavelmente, é migrar para a renda variável.

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Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP Investimentos, ressalta que o Ibovespa entregou uma rentabilidade média de 18,7% ao ano contra uma inflação média de 13,2% ao ano desde o início do Plano Real. “Isso comprova que ações são ativos reais, pois as companhias têm a capacidade de repassar preços e crescer lucros em um cenário de inflação”, argumenta.

Fonte: Bloomberg

Contudo, a pergunta que fica é: dentro da Bolsa quais são as ações que mais se beneficiam do cenário de inflação mais alta?

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Os analistas Marcelo Sá, Fernando Zorzi e Luiza Candiota, do Itaú BBA, apontaram em relatório que existem boas oportunidades no setor elétrico.

“No segmento de distribuição de energia, companhias com contratos de concessão mais antigos irão se beneficiar do IGP-M alto, ao passo que não haverá qualquer impacto para os novos contratos de concessão”, concluem os especialistas.

Isso ocorre porque nos contratos antigos a Parcela B, que são os custos diretamente gerenciáveis pela distribuidora (custos operacionais, cota de depreciação, remuneração do investimento e outras receitas), são ajustados pelo IGP-M nos ajustes tarifários anuais. Já para os contratos novos de concessão, a Parcela B é ajustada pelo IPCA.

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“As distribuidoras com contratos de concessão antigos ganharão eficiência nos reajustes tarifários porque suas Parcelas B aumentarão muito mais do que suas despesas controláveis”, explicam os analistas do Itaú.

Desse modo, quanto mais distante estiver o prazo para renovação da concessão melhor para a distribuidora que ainda usa contratos antigos. As empresas mais bem posicionadas de acordo com o Itaú BBA neste cenário são a Neoenergia (NEOE3) e a Energisa (ENGI11).

O potencial de criação de valor projetado pelos analistas por conta da diferença entre IGP-M e IPCA para essas duas companhias está em 11,1% do valor de mercado total da Neoenergia e 9,4% da Energisa.

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Enquanto isso, os negócios de distribuição da CPFL (CPFE3) ganhariam 5,5%, os da EDP – Energias do Brasil (ENBR3) aumentariam e 4,7% e os da Equatorial (EQTL3) se expandiriam em 4,4%. Cemig (CMIG4) e Copel (CPLE6) não ganham nada com o diferencial inflacionário em distribuição de energia.

No setor de transmissão de energia, por sua vez, o fluxo de caixa já começou a ser mais positivo para as companhias expostas ao IGP-M. Em torno de 63,7% da receita anual da Taesa (TAEE11) está atrelada ao IGP-M, contra 42% da Alupar (ALUP11) e apenas 0,3% da Isa CTEEP (TRPL4).

Já entre as geradoras, a maioria tem Acordos de Compra e Venda de Energia (PPAs, na sigla em inglês) ajustados pelo IPCA, mas há exceções.

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A CPFL tem 53,9% dos seus PPAs atrelados ao IGP-M, a Cemig tem 30%, a Engie (EGIE3) possui 17,4%, a EDP registra 16,6% e Eletrobras (ELET3; ELET6) tem 11,1% dos PPAs nesse índice inflacionário.

Os analistas do Itaú estimaram o quanto essas geradoras irão ganhar em lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) por conta da diferença entre o IGP-M e o IPCA.

A maior vencedora em ganho absoluto, pelo cálculo da equipe de análise do banco, seria a Cemig, que deve aumentar em R$ 225,8 milhões seu Ebitda por ano. Logo em seguida vem a CPFL, que pode expandir em R$ 218,7 milhões seu Ebitda. Engie, ganharia R$ 218,4 milhões, Eletrobras aumentaria em R$ 203,5 milhões e EDP geraria mais R$ 87,2 milhões.

Outro banco que pensou em ações capazes de proteger a carteira do investidor contra a inflação foi o Bank of America (BofA), que também cita companhias com contratos atrelados a índices inflacionários.

No caso, todavia, os analistas lembraram que, além das elétricas, ações como de shoppings, imobiliárias (contratos reajustados conforme a inflação), farmácias (os preços dos medicamentos são indexados à inflação) e empresas com poder de mercado o bastante para influenciar nos preços, tais quais os supermercados, operadoras de telecomunicações, peças automotivas, algumas commodities e companhias de meios de pagamento.

Entre as empresas de maior correlação com IGP-M estão nomes como Carrefour (CRFB3), BR Malls (BRML3) e CSN (CSNA3).

Carrefour também possui uma correlação relevante com o IPCA, assim como Cielo (CIEL3), Embraer (EMBR3) e IRB Brasil (IRBR3).

Vale lembrar, contudo, que mesmo sabendo que nesses setores que possuem uma exposição maior de suas receitas à inflação, é preciso ter cautela e ficar bem atento ao balanço. Além disso, no caso de empresas como de shoppings, a pandemia pode levar a adiamento no reajuste de contratos.

Cuidado na análise

Renato Pinto, analista da Eleven Financial Research, ressalva que apesar de ser bom para as receitas das companhias elétricas no curto prazo o aumento do IGP-M, é preciso ficar atento aos demais itens do balanço dessas empresas para não cair em ciladas.

“Se a companhia tiver receita atrelada ao IGP-M, mas a dívida dela tiver juros num índice parecido não adianta nada a elevação do faturamento”, explica.

Para ele, inflação persistente é sempre ruim, até porque a reação dos governos costuma ser imprevisível. “No setor de saneamento a Sanepar (SAPR11) teve um reajuste de 9% proposto pelo órgão regulador e o estado não deu”, alerta.

Em suma, o analista da Eleven destaca que se a inflação aumentar apenas no curto prazo e a empresa não tiver dívidas denominadas em IGP-M, o cenário acaba sendo positivo. De outro modo, os ganhos não são o bastante para compensarem os impactos deletérios de um aumento geral nos preços.

Renato Pinto defende uma estratégia mais simples, focada em antecipar os movimentos do investidor institucional diante de um quadro de recessão no qual se buscam ativos defensivos. “A baixa exposição de uma Isa CTEEP, por exemplo, a variações no [Produto Interno Bruto] PIB, a torna uma boa opção defensiva apesar da empresa não ter tanta receita atrelada ao IGP-M.”

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.