Ser um bom investidor pode estar mais no seu DNA do que você imagina

Nosso cérebro continua programado para agir como quando ainda vivíamos na caverna; hoje caçamos ações, não comida

Felipe Moreno

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SÃO PAULO – O genoma humano é impressionantemente rico em detalhes – a ponto de que muitos de nossos comportamentos possam refletir de acordo com o que nossos ancestrais faziam décadas, séculos e até mesmo milênios atrás. Mas a vida evoluiu: não somos mais os animais nômades, caçadores que éramos por muito tempo. Mas o que isso tem a ver com o mercado de ações?

Segundo Terence Burnham, ex-professor de Harvard, ex-trader do Goldman Sachs e autor do livro “A Culpa é da Genética” – que traça uma relação entre o código genético e nossas decisões de investimento -, o nosso cérebro permaneceu igual durante todo esse tempo. E as instituições, como a bolsa de valores, evoluíram ao redor dos humanos e não os humanos ao redor delas. “A velocidade da nossa mudança cultural ultrapassou a nossa mudança biológica nos últimos 100 mil anos”, destaca o professor em entrevista exclusiva ao InfoMoney

O que isso significa? Que os mesmos caçadores, com lanças e pedras nas mãos, estão hoje calculando valuations e analisando gráficos para comprar ações. De acordo com Burnham, nosso cérebro tem a tendência a repetir a mesma função, quando ela deu certo, por tempos e tempos. Por conta, muitos investidores teimam em usar sempre a mesma metodologias (em mercados diferentes) e comprar as mesmas ações de sempre. Acomodamos no acerto até ele se provar um erro. 

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Talvez por conta dos nossos primitivos instintos de sobrevivência, as sociedades tenham evoluído para se tornarem ambientes “selvagens” – levando a bolsa, um ambiente altamente competitivo e meritocrático, a parecer uma verdadeira “selva de pedra”. “Nosso padrão de comportamento reflete, em maneiras muito significativas, questões ancestrais. E nossas organizações são construídas e evoluem ao redor da natureza humana”, salienta Burnham, que recentemente falou sobre a possibilidade das bolsas norte-americanas sofrerem um “crash” semelhante ao que foi visto em 1929.

Controle, controle.. é genético?
Burnham destaca que o que era importante ao caçar o alimento do grupo permanece importante na hora de buscar ações – controlar a ansiedade para impedir que o caçador se torne a caça, ou que o lucro a ser registrado não se torne um prejuízo. “Por conta disso, a maioria das pessoas performa mal ao tentar investir, mas há quem tenha grande sucesso, por saber se controlar”, afirma Burnham. 

Para ele, há duas formas de controle: ou você nasce com o autocontrole necessário, ou aprende durante sua vida a eliminar seus instintos de destruição. “Eu não conheço nenhuma estatística que mostre isso, mas minha percepção é que o segundo caso é mais comum. Grandes investidores sentem as mesmas pressões que outros, mas possuem técnicas para alterar o comportamento”, afirma o professor. 

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Isso significa também controlar os instintos irracionais de manter ativos que não devam ser mantidos – muito comum entre aqueles que investem em ações que caem forte e precisam de justificativa para recuperação. “Muitas decisões são feitas fora do nosso controle racional, às vezes inventamos histórias para nós mesmos depois de decisões”, destaca.

Há diferenças entre homem e mulher
Se a nossa herança cultural genética importa muito na hora de investir, isso significa que há pelo menos dois tipos de investidores diferentes: os homens e as mulheres. Ambos assumiam papéis muito diferentes no período chamado de pré-história, quando o homo sapiens moderno foi formado, o que criou mudanças nítidas . 

As responsabilidades assumidas por ambos eram muito diferentes ao longo da história: enquanto os homens caçavam, as mulheres tomavam as responsabilidades “estacionárias”, como cuidar de plantações e filhos. “Homens e mulheres são diferentes biologicamente. As mulheres, por exemplo, são melhores em memória espacial, talvez pelo fato de que as plantas não se mexem, mas animais correm”, fala Burham.

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Ele cita que há diversos estudos acadêmicos que provam que essa diferença biológica se traduz na bolsa de valores – e mostram que os homens são piores investidores que mulheres. “No estudo mais famoso que eu conheço, homens e mulheres são iguais na hora de escolher ações, mas costumam fazer pior, por que trocam mais sua carteira e fazer isso é custoso”, destaca Burnham. 

Homo buffettus?
Warren Buffett, o investidor mais bem sucedido da história, porém, é homem e costuma permanecer bastante tempo com cada ação que compra – aprendendo a controlar seus instintos com o tempo. Mas ele já disse publicamente que a única razão pelo seu sucesso é que só competiu com metade da população por muito tempo, somente contra os homens.

O megainvestidor promove um ambiente de extrema meritocracia em suas empresas e apenas um de seus filhos, Howard, integra o conselho da Berkshire Hathaway, a empresa do lendário. Teria ele herdado as qualidades de bom investidor do pai? Dificilmente: como investidor, não há o que diferencie geneticamente Howard de qualquer outro investidor – mas certamente ele cresceu mais acostumado com a mentalidade de um investidor campeão com qualquer outro. 

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Mas a linhagem de Warren e Howard Buffett pode criar uma nova espécie de superinvestidor? Burnham saliente que poderia em milhares de anos, mas o ambiente de investimentos muda rápido demais para isso – tente comparar o ambiente da bolsa atual com a do século 18, quando Isaac Newton perdeu tudo que tinha com uma companhia que não existia. “O cenário de investimentos sempre muda, nenhum estilo pode dominar no longo prazo. Eu acredito que o estilo de Warren Buffett saíra do destaque no futuro próximo”, finaliza o ex-professor de Harvard.

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