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Ibovespa cai 2,40%, dólar sobe além de R$ 5 e petróleo cai 5% no 1º pregão do mês; veja por quê

Cautela toma conta dos mercados antes de decisão do Fomc e do Copom, além de repercutir notícias sobre fiscal no Brasil e sobre teto da dívida nos EUA

Lara Rizério Vitor Azevedo

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Ibovespa fechou em queda de 2,40%, aos 101.926 pontos. O dólar voltou a operar acima de R$ 5, a R$ 5,047 na compra e R$ 5,056 na venda, com alta de 1,19%. Petróleo e minério tiveram forte queda e impactaram as ações de empresas que possuem maior participação no índice brasileiro.

O mês de maio na Bolsa começou com praticamente uma confirmação da “máxima” “Sell in May and go away”. A frase sugere que os investidores devem vender suas ações e sair do pregão a partir desse mês, porque os resultados dali para frente costumam ser piores do que no restante do ano. Mais valeria, portanto, deixar o mercado temporariamente e voltar mais tarde, quando as coisas começassem a melhorar.

Na segunda-feira, quando a B3 esteve fechada em razão do Dia do Trabalho, o EWZ – ETF brasileiro negociado em Nova York e um relevante índice de referência global para as ações brasileiras – caiu 0,81%, enquanto o índice Dow Jones Brazil Titans 20 ADR, que reúne as principais empresas brasileiras listadas na B3 com recibos de ações negociados nos Estados Unidos, encerrou a sessão com queda de 0,88%. Porém, as baixas nesta volta do feriado foram intensificadas.

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Nesta terça-feira (2), a retomada dos negócios após o feriado foi ainda mais negativa para a Bolsa brasileira e para a maioria dos mercados internacionais, uma vez que as principais bolsas da Europa e os índices futuros em Nova York estenderam as perdas dos mercados à vista registradas ontem nos Estados Unidos (que foram mais tímidas).

O contrato do Brent para julho recuou 5,16%, a US$ 75,22 o barril. Com isso, as ações ordinárias e preferenciais da Petrobras (PETR3;PETR4), fecharam com queda de mais de 4%. Entre os principais índices americanos, o Dow Jones recuou 1,08%, S&P 500 teve baixa de 1,16% e o Nasdaq desvalorizou 1,08%.

A China retoma o fôlego perdido por sua atividade no ano passado, quando imperava a política de “covid zero”, mas num ritmo menor do que o esperado. Já o cenário para os juros nos EUA e na Europa elevaram a cautela, com os investidores precificando um  risco de recessão.

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“Se por um lado a compra do First Republic pelo JPMorgan ontem ajudou a reduzir (em muito) os temores sobre um risco sistêmico no mercado bancário da maioria economia do mundo, por outro lado cresceu a percepção de que o Federal Reserve talvez não tenha tanta urgência assim em reduzir o ritmo do aperto monetário por lá”, destaca a Ágora Investimentos em comentário de mercado.

A expectativa por mais aperto monetário de 0,25 ponto percentual, nesta quarta-feira, se tornou praticamente unânime, assim como os investidores aparentemente também entendem que um ajuste adicional possa ser implementado.

Essa perspectiva também é refletida em outros mercados, com dólar mais forte frente a outras moedas, os contratos futuros do petróleo operando em baixa moderada e os preços futuros do minério de ferro encerrando em queda de 0,97% na madrugada em Dalian, cotados ao equivalente à US$ 103,31 por tonelada. As ações ordinárias da Vale (VALE3) caíram cerca de 4%.

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“O real teve um desempenho ainda pior que seus pares em comparação ao dólar. Além dos fatores externos que geram maior aversão ao risco, como o retorno dos temores com o setor bancário nos EUA e a desvalorização das commodities, o dólar se sobressaiu ao real devido à repercussão negativa da taxação sobre ganhos de capital no exterior, que traz um viés desfavorável para o ambiente de negócios”, diz Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.

Por aqui, às vésperas do Copom – que tende a manter a taxa Selic em 13,75% -, os investidores também adotam  uma postura mais cautelosa, especialmente após a confirmação do governo de aumento no salário mínimo e da faixa de isenção do Imposto de Renda, colocando ainda mais pressão sobre a aprovação do arcabouço fiscal para que os prêmios sejam enfim retirados da curva a termo, avaliam os analistas da Ágora.

Num geral, a manutenção da Selic em nível elevado tem sido apontada como um pilar de sustentação da moeda brasileira, uma vez que torna os retornos da moeda mais atraentes (estimulando operações de carry trade). Por outro lado, muitos investidores ponderam que esse patamar alto dos juros se deve, em grande parte, a grandes incertezas fiscais e inflacionárias.

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“A confirmação do aumento do salário mínimo e reajuste para servidores, além da elevação da banda de isenção do Imposto de Renda, pressionam do lado do fiscal, que já vem mostrando piora tanto nos números quantos nas expectativas desde o envio do texto do novo arcabouço ao Congresso”, disse equipe da Guide Investimentos em nota a clientes.

“As decisões de todos esses bancos centrais já são mais ou menos esperadas. No Brasil, espera-se a manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano. No entanto, o que interessa a mercado é o que o Comunicado divulgado na noite da quarta-feira (3) vai
dizer sobre as perspectivas futuras para os juros”, avaliou a Levante Ideias de Investimentos.

Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, destaca que a autoridade monetária ainda não tem sinais consolidados de que o processo de desinflação está em curso. “Vimos no último dado do IPCA melhora nas medidas subjacentes, mas que ainda não garantem a convergência da inflação para a meta, como indicado nas expectativas do Focus. Assim deve realizar mais uma manutenção da taxa de juros. Esperamos que os cortes comecem a partir de setembro e que a Selic termine o ano em 13%”, aponta.

Sobre o Fed, os analistas da Levante também ressaltam as duas expectativas, sendo que a segunda delas está pressionando o mercado. Uma é o aumento de 0,25 ponto percentual, mandando os juros para a faixa entre 5% e 5,25% ao ano. Isso é esperado, sabido e definido. A outra é uma visão do que deverá ocorrer com os juros no restante do ano e em 2024.

“Há uma grande certeza de que o aumento esperado para a quarta-feira será o último de uma série de dez elevações sucessivas. E há uma certeza não tão grande de que as taxas deverão começar a cair. Os mais otimistas esperam essa queda para o segundo semestre deste ano, os mais pessimistas para o início do próximo. Qualquer sinalização diferente disso pode provocar ondas de choque nos preços dos ativos financeiros”, aponta.

Investidores ainda ficam de olho na decisão tendo como pano de fundo o impasse sobre o teto da dívida dos EUA. A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, disse que o governo norte-americano pode ficar sem dinheiro dentro de um mês.

Além disso, na quinta-feira (4) haverá a reunião, de um dia, do Banco Central Europeu (BCE). A situação é semelhante à dos Estados Unidos. Entre julho de 2022 e março de 2023 houve seis elevações consecutivas dos juros, que avançaram de 0,50% negativo para 3,% ao ano. Agora, deverá haver mais uma elevação de 0,25 ponto percentual, e esperam-se mais informações no comunicado.

“Tudo muito previsível. Porém, o mundo dos bancos centrais sempre pode surpreender. Na madrugada desta terça, o RBA (Reserve Bank of Australia) surpreendeu o mercado elevando a OCR (Official Cash Rate), a Selic local, em 0,25 ponto percentual, para 3,85% ao ano. A economia australiana é relativamente pequena em termos globais e tem pouca relação com o Brasil. Porém, isso mostra que nem tudo é previsível. Será uma semana de muitas expectativas”, avalia a Levante.

Otimismo cauteloso

Estrategistas do BTG Pactual afirmaram que o ambiente de investimentos permanece sombrio no Brasil, mas que estavam começando o mês “cautelosamente otimistas”.

Carlos Sequeira e equipe escreveram em relatório a clientes com as recomendações de ações para maio que, com o início da discussão do novo arcabouço fiscal no Congresso, esperam algumas melhorias no projeto de lei, especialmente em temas relacionados à aplicação de regras. “Com as ações locais sendo negociadas com valuations extremamente descontados a aprovação da estrutura fiscal pode ter um impacto positivo marginal no preço dos ativos brasileiros.

Eles ainda acrescentaram que o provável fim do ciclo de alta dos juros (ainda incerto) pelo banco central dos Estados Unidos pode oferecer suporte extra para ações globais e de mercados emergentes.

Para a XP, as ações brasileiras continuam atrativas com uma relação de Preço/Lucro (P/L) de 7 vezes, um desconto de mais de 30% em relação à média dos últimos 15 anos em 11 vezes. “Nós mantemos o valor justo do Ibovespa em 128 mil pontos para o final do ano. Mantemos nossos três principais temas em nossas carteiras: 1) Commodities; 2) Histórias de crescimento secular; e 3) Qualidade a um preço razoável”, apontam os estrategistas.

(com Reuters)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.