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Cair no boato, subir no fato? Não foi isso que aconteceu com as ações da Petrobras (PETR3;PETR4) após a nomeação de Jean Paul Prates como CEO da estatal, no fim da manhã da última quinta-feira (26). Muito pelo contrário.
Ontem, antes mesmo de Prates ser oficializado no cargo, as ações da Petrobras já tinham perdido força no fim da manhã e passaram a ter queda, com as duas classes de ações fechando com baixa de cerca de 2,7%, apesar da alta do petróleo no dia. Nesta sexta, o movimento continuou, com os ativos ON encerrando o dia em queda de 2,27% (R$ 28,90) e os PN em baixa de 2,21% (R$ 25,62). As ações ficaram em queda em boa parte da sessão, mesmo quando o petróleo registrava ganhos (a commodity fechou a sexta com perdas).
Isso apesar de já ter sido bastante esperado que ele fosse eleito CEO (por enquanto interino, mas devendo ser efetivado na próxima assembleia de acionistas). Lula anunciou o seu nome como indicado ao cargo em 30 de dezembro sendo que, antes mesmo, o nome de Prates já era tido como o mais provável para assumir a estatal, o que elevou os temores de aumento dos investimentos em capital e de diminuição dos investimentos. Contudo, desde então e até o dia 25, as ações preferenciais subiram 10%.
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Apesar de o mercado não ter esperado a rejeição do nome pelo Conselho de Administração na véspera, alguns “detalhes” da aprovação de Prates acabaram repercutindo negativamente no mercado. Segundo o BTG Pactual, o fato de seu nome ter sido aprovado por unanimidade pode ter reduzido a confiança do investidor de que a atual diretoria executiva fornecerá os freios e contrapesos que os investidores esperavam.
“Em nossa opinião, isso abre espaço para mais ruído sobre (i) política de preços, (ii) política de distribuição de dividendos e (iii) plano de capex (investimentos em capital) nas próximas semanas”, apontam os analistas da casa. Segundo eles, a incapacidade geral de traçar uma estratégia clara para a empresa prejudicou a capacidade do mercado de chegar a uma conclusão sobre os atuais múltiplos justos da ação.
Os analistas destacam que “o melhor cenário para Prates” aconteceu, uma vez que ele foi nomeado como CEO dentro dos trinta dias após a sua indicação. “Agora que isso se concretizou, acreditamos que ele possa definir os novos membros da equipe de gestão da Petrobras mais rapidamente, embora ressaltemos que todas as indicações também terão que ser aprovadas pelos comitês internos da empresa”, avaliam.
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As primeiras falas de Prates em vídeo a funcionários já mostraram uma grande mudança de estratégia para a estatal, que passou os últimos anos vendendo diversos ativos para se concentrar em seus campos de petróleo marítimos mais lucrativos e aumentar os dividendos. Ele disse ver a gigante petroleira como a grande impulsionadora da transição energética no Brasil, mas disse que também trabalhará para que a companhia siga sua jornada na indústria de petróleo e gás.
As indicações de diretores e conselheiros também devem vir nesse sentido. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, Prates planeja criar uma nova diretoria dedicada à transição energética e energias renováveis. Se confirmada, já haveria um nome forte para assumi-la: o professor da UFRJ Maurício Tolmasquim, ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
Segundo a Reuters, o agora CEO da estatal teve reuniões nos últimos dias com diferentes alas do seu partido para fechar sua lista de indicados para a diretoria da estatal. Prates tem falado também com integrantes do mercado, acadêmicos e da Petrobras, em busca de indicações para compor a diretoria da empresa.
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As reuniões, segundo a agência, apontam que o PT terá a palavra final sobre a escolha dos diretores, com o PSB do vice-presidente Geraldo Alckmin tendo pouca voz, embora o companheiro de chapa de Lula tenha se reunido com alguns indicados, segundo a agência. Partidos como o PCdoB e do chamado Centrão também gostariam de emplacar nomes, mas a maioria das indicações deve vir do partido do presidente.
Assim, essas sinalizações geraram mais impacto para as ações, tanto pela visão de dedicação à transição energética e menos na estratégia lucrativa dos últimos anos quanto pelas indicações do PT, em meio a maiores temores de intervenção estatal.
“Agora, já como comandante da estatal, o ex-senador do PT deve começar a anunciar os nomes para a diretoria da companhia. A expectativa é de que alguns sejam anunciados ainda nesta semana, para que já sejam avaliados pelo comitê interno. Outras iniciativas são esperadas pelo mercado, principalmente com relação ao prazo de implementação, para que não haja mudanças drásticas na estratégia da empresa”, destaca a Levante Ideias de Investimentos.
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Prates, que é contrário à política de preços atualmente praticada pela Petrobras (PPI), assume na mesma semana em que a companhia anunciou o primeiro reajuste nos preços dos combustíveis do ano, de 7,4%, destaca a Levante. O aumento, anunciado na terça-feira (24), traz um certo alívio para o mercado, mesmo que não tenha fechado a defasagem com relação ao preço no mercado internacional.
Segundo a Abicom, a defasagem da gasolina nos Polos Petrobras no dia de ontem (26) era de 4%, ou R$ 0,13 por litro.
A Levante também reitera os principais pontos de incerteza da Petrobras para este ano: i) política de preços; ii) alocação de capital; iii) política de desinvestimentos; e iv) política de dividendos.
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“A expectativa atual é de que haja uma alteração na política de preços, deixando de repassar as altas do mercado internacional, mas ainda sem maiores indicações de como funcionaria a nova precificação, além de mudanças na alocação de capital, aumentando investimentos, principalmente em refino, encerrando os desinvestimentos e a grande distribuição de dividendos”, ressalta a Levante.
O fundo de estabilização de preços de combustíveis, uma das ideias defendidas pelo novo presidente da Petrobras, também não é bem recebido por muitos analistas de mercado. Apesar de não ter um impacto direto para a Petrobras, o desafio de encaixar esse fundo no Orçamento da União é uma grande fonte de preocupação para os investidores.
Proventos no radar
Mais especificamente sobre os dividendos da Petrobras, analistas do Bradesco BBI afirmam que, se a aprovação dos novos membros da diretoria da Petrobras for realizada rapidamente pelo conselho da administração da estatal, o pagamento dos dividendos relativos ao quarto trimestre de 2022 (4T22) pode ficar sob ameaça.
“Todos os nomes precisarão ser ratificados pelo conselho de administração da Petrobras de acordo com as regras de governança da empresa. Se as mudanças na administração forem aprovadas rapidamente, isso pode ser uma ameaça aos dividendos do 4T22”, apontaram.
Porém, eles avaliam ser incerta a rapidez com que o novo presidente da estatal fará mudanças na administração, destacando notícias que alternam entre a intenção de Prates de mudar rapidamente a diretoria da Petrobras e informações de que as mudanças devem ser graduais.
Olhando mais à frente, o BTG destaca que, assumindo a atual política de dividendos (60% do fluxo de caixa operacional menos capex), a ação seria negociada com um dividend yield (valor do dividendo em relação ao preço da ação) de 23% em 2023.
“Nosso cenário base é que a Petrobras retornará ao modo de crescimento e precisará reduzir seu payout, ou pagamento em relação ao lucro (Prates defendeu publicamente isto antes). Como qualquer payout acima de 55% dos lucros implicaria pouca ou nenhuma redução no valor nominal dos dividendos distribuídos, acreditamos ser justo supor que a empresa distribuirá algo entre 25% e 50% dos lucros em 2023, o que implicaria em um dividend yield entre 9% e 19%”, aponta o banco.
Segundo os analistas, pode-se argumentar que esse tema poderia oferecer um suporte relevante para a história, mas não está muito longe de muitos de seus pares globais e outros nomes de commodities no Brasil – a Vale, por exemplo, negocia entre 10-11%. Assim, o banco segue com recomendação neutra para os ativos.
Para eles, os recentes fluxos estrangeiros para as ações brasileiras e o aumento dos preços do petróleo são os principais impulsionadores do desempenho mais “técnico” (fluxo) da Petrobras recente em relação ao mercado, com alta das ações.
“Isso pode continuar por mais algum tempo, principalmente porque continuamos otimistas com os preços do petróleo. Mas notamos que os altos preços do petróleo acabarão por aumentar as pressões sobre os preços dos combustíveis no Brasil, consequentemente elevando o ruído político em torno da política de preços de combustíveis da empresa. Com base nas mensagens transmitidas pelo novo governo do Brasil, os investidores devem esperar mudanças radicais na maior estatal do país. Embora não descartemos um cenário em que o pragmatismo supere essa narrativa, apostar nela é extremamente arriscado, a nosso ver”, avaliam.
Na mesma linha, o Goldman Sachs destaca seguir cautela com a empresa, embora veja o valuation como atrativo. “Reconhecemos o aumento da incerteza sobre as políticas a serem adotadas nos próximos anos”, reiteram.
O Citi, por sua vez, mantém recomendação de compra para o ADR (recibo de ações negociado na Bolsa de Nova York), com preço-alvo de US$ 19 para o ativo PBR, mas destaca ver riscos à tese de investimentos na estatal com Prates. Os analistas citam mudanças na estratégia de longo prazo da empresa e a incerteza sobre sua alocação futura de capital.
“Uma das áreas de discussão mais importantes, a nosso ver, é a futura política de dividendos da empresa, que pode convergir para o mínimo de 25%. Neste cenário, vemos as ações sendo negociadas a um rendimento de dividendos de aproximadamente 9%, implicando potenciais riscos negativos para o preço da ação”, apontaram.
Cabe destacar ainda que os temores com as mudanças na Lei das Estatais seguem no radar dos mercados. Nesta sexta, a Folha de S. Paulo noticiou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conta com o STF e o Congresso para mudar a legislação, abrindo espaço para a nomeação de políticos em estatais, o que gera temores sobre a governança corporativa.
De acordo com compilação de casas de análise feita pela Refinitiv, de doze casas que cobrem os papéis PN da estatal (PETR4), três apenas recomendam compra, oito possuem recomendação neutra e um tem recomendação de venda, mostrando que cada vez mais os analistas de mercado estão cautelosos com a tese de investimentos na estatal.
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