Sabesp (SBSP3) dá importante passo para privatização, mas por que ação caiu mais de 4%?

Falta de detalhes desanima e ação registrou queda; além disso, analistas veem desafios políticos, como dialogar com os poderes legislativo e executivo

Lara Rizério

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Na última segunda-feira (31), em um dia em que a ação da Sabesp (SBSP3) atingiu as máximas do ano, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, divulgou as (muito esperadas) diretrizes gerais aprovadas para a privatização da companhia, após o fechamento do mercado.

Contudo, a falta de detalhes e a visão de dificuldade política na condução do processo levaram as ações a registrarem perdas, seguindo também o movimento do mercado. Os ativos SBSP3 caíram 4,13%, a R$ 55,70.

Tarcísio de Freitas confirmou que o modelo de follow on, oferta subsequente de ações, foi o escolhido para a privatização. 

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Além da alternativa selecionada, outros três modelos foram analisados para a desestatização da companhia, segundo Tarcísio. O primeiro deles, seria parecido com o da Eletrobras, com regras mais rígidas e maior pulverização de capital. Na lista apareceram ainda a possibilidade de venda parcial ou total da companhia.

“Vamos seguir modelo de follow on, buscando investimentos de longo prazo”, afirmou em coletiva na véspera.

Tarcísio considera que esse é o modelo mais adaptável para Sabesp por ser mais flexível. “O objetivo é oferecer uma maior concentração de capital para atrair investidores de referência”, complementou.

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A previsão é de que a operação ocorra no próximo ano, provavelmente no primeiro semestre de 2024 (1S24), para evitar o calendário das eleições municipais no final de 2024.

A expectativa do governo de São Paulo é que a privatização da Sabesp seja aprovada pela Assembleia Legislativa do Estado (Alesp) ainda em 2023, segundo a secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, Natália Resende.

Após a aprovação do modelo de privatização, o governo dá início à primeira fase do processo. Nesta etapa, além do envio do projeto de lei para a Alesp, o objetivo é estruturar a modelagem, levando em consideração aspectos regulatórios, contábeis e jurídicos. Para isso, o governo pretende intensificar o diálogo com os municípios.

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Sobre a modelagem, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou que a meta é definir um bom modelo regulatório. “Será um misto de contrato com regulação para garantir que investimentos sejam assegurados”, afirmou.

A segunda etapa está prevista para o início de 2024, de acordo com Natália. O foco é promover conversas de forma mais estruturada com investidores, promovendo roadshows, por exemplo. Na sequência, ainda no ano que vem, o governo espera começar a execução do projeto de privatização.

Com o modelo escolhido, o governo do Estado de São Paulo espera adicionar pelo menos R$ 10 bilhões no plano de negócios da privatização da Sabesp. A previsão agora é de R$ 66 bilhões em investimentos ante R$ 56 bilhões anteriormente, segundo o governador Tarcísio de Freitas.

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Desafios políticos e falta de detalhes

Para a XP, a nova etapa, também com a aprovação da privatização da companhia pelo Conselho do PPI não é surpresa, mas é um passo importante.

“Vemos isso como uma notícia positiva, considerando que o processo está em andamento para concluir a venda até meados de 2024. No entanto, vários assuntos essenciais ainda precisam ser abordados. A venda de participação a um sócio estratégico chamará a atenção dos investidores para a nova estrutura de governança da Companhia. O modelo regulatório é outra questão crítica, visando reduzir tarifas e garantir que os municípios recebam por seus direitos de concessão”, avalia a analista Maíra Maldonado, que assina o relatório.

Por fim, aponta o desafio político é dialogar com os poderes legislativo e executivo paulista. O debate em curso parece apontar para um modelo equilibrado para todas as partes interessadas. A recomendação para as ações SBSP3 é neutra, com preço-alvo de R$ 52 (valor 10,5% frente o fechamento da véspera).

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O Itaú BBA aponta que o modelo proposto de follow-on com investidores estratégicos é a melhor alternativa para a Sabesp. Contudo, antes da abertura do mercado, destacou que a ação poderia sofrer devido à falta de detalhes apresentados na reunião e ao fato de que vários pontos importantes só serão definidos nas próximas fases.

“Além disso, estamos preocupados com o timing das próximas fases dada a proximidade com as eleições municipais do segundo semestre de 2024”, aponta. O banco tem recomendação outperform (desempenho acima da média, equivalente à compra) para as ações da Sabesp, com preço-alvo de R$ 74,95, ou alta de 29% frente o fechamento da véspera.

Conforme destaca o Bradesco BBI, dentro de uma janela relativamente apertada para a privatização, as diretrizes gerais ainda precisam ser detalhadas antes que o Estado de São Paulo possa: (i) finalizar as negociações com os municípios para aderir à privatização, assinando novos contratos de concessão –note que de um total de 375 municípios, cerca de 10 deles respondem por 60 a 70% da receita da Sabesp; e (ii) encaminhar o projeto de privatização à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo até o final deste ano.

Para os analistas do banco, embora várias pendências precisem ser esclarecidas, o anúncio é positivo, pois o Estado de São Paulo selecionou um esquema de privatizações que parece aumentar as chances de concretizá-lo na primeira metade do próximo ano.

O modelo, aponta o BBI, atende a todos os atores envolvidos na privatização da Sabesp, e inclui: (i) o Estado manter uma participação significativa no capital da Sabesp, para supervisionar a universalização dos serviços a serem conduzidos por um operador estratégico (Capital da Sabesp não tão pulverizado quanto o da Eletrobras); (ii) a Sabesp atingirá as metas de universalização até 2029 (antes do prazo de 2033 exigido por lei), realizando maiores investimentos; e (iii) as tarifas serão imediatamente reduzidas como parte da privatização.

Ao preço atual, os analistas do BBI veem SBSP3 sendo negociada a 0,80 vez o múltiplo EV/RAB  (EV = enterprise value, ou valor de mercado + dívida líquida”; RAB = base de ativos regulatórios) esperado para 2023.

Isso significa que o risco/retorno ainda é atraente: (i) como estatal, assumindo que não haverá mais cortes de custos além dos 1.862 funcionários que irão deixar a Sabesp até 2024, o múltiplo justo seria de 0,65 vez (o que significa R$ 41,00/ação); e (ii) como uma empresa do setor privado, assumindo, entre outras coisas, uma redução no custo de capital e melhor desempenho operacional de longo prazo, o múltiplo justo seria aproximadamente 1,2 vez (o que implica em cerca de R$ 100,00/ação).

A recomendação do BBI para os ativos é outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra), com preço-alvo de R$ 88, ou potencial de valorização de 51,5% frente o fechamento da véspera.

O Citi reforça que o anúncio é positivo no sentido de mostrar avanço na pauta, também ponderando que faltam muitos detalhes e as negociações com os municípios ainda precisam acontecer formalmente. “Este pontapé inicial por si só não é apenas um gatilho importante, mas abre a porta para todos os outros gatilhos. Então foi um passo fundamental, sem o qual a venda não seria possível”, avalia.

Agora, reforça, o estado vai negociar os termos da privatização com todos os seus 375 municípios. A modelagem jurídica e financeira do processo será influenciada por essas negociações.

“É razoável esperar que os municípios façam diferentes tipos de solicitações na negociação. Alguns podem exigir redução de tarifas, outros mais investimentos e outros taxas de concessão para aumentar os orçamentos dos municípios. Então a modelagem, a nosso ver, vai ter que responder a isso”, apontam os analistas do Citi, que possuem recomendação de compra para a ação, com preço-alvo de R$ 73, ou potencial de 26% frente o fechamento da véspera.

(Com Reuters e Estadão Conteúdo)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.