Roubini e Bremmer: Brasil deve se afastar do capitalismo de Estado se quiser decolar

Em artigo, os economistas apontam que mundo vive um momento de transição para o chamado "novo anormal", em que não haverá líderes globais e que os pressupostos devem ser questionados

Lara Rizério

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SÃO PAULO – “Fique atento se o seu cinto de segurança está bem preso, porque o momento não é de descanso. Entramos no momento em que todos os pressupostos de mercado devem ser questionados e que o investidor mais sábio deve estar preparado para se surpreender”.

É o que afirmam o economista Nouriel Roubini, considerado o Dr. Doom por conta de suas previsões pessimistas para o mercado, e Ian Bremmer, presidente da Eurasia Group em um artigo chamado “Unveil the New Abnormal”, destacando o que ocorre com a economia global e sobre como as novas crises estão certamente vindo na nossa direção.

Neste sentido, a expectativa é de que o mundo esteja saindo do ambiente do “novo normal”, expressão cunhada pelo fundador da Pimco, Mohamed El-Erian, em 2008, para caracterizar o fato de que aquela crise não seria apenas cíclica e sim com ajustes estruturais para o “novo anormal”, em um mundo sem líderes.  

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Eles destacam que o novo mundo deve passar agora pelo chamado G-Zero – referindo-se a um vazio de liderança, onde cada nação trabalha por si -, em meio à diminuição do crescimento da China, outra crise na Europa e a turbulência no Oriente Médio. Além disso, devemos esquecer dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) como os salvadores da economia mundial.

Outro importante ponto mencionado pela dupla refere-se aos Estados Unidos. A atuação do Federal Reserve para reduzir o programa de estímulos à economia norte-americana, mesmo que seja demorada, ainda será bastante sentida pelos investidores. “Saindo rápido demais, a autoridade monetário irá de encontro à economia real. Ao sair muito lentamente, o Fed irá criar primeiro uma enorme bolha e depois travar o sistema financeiro”, afirmam os economistas.

E quando chegar finalmente a “hora do aperto”, a expectativa é de que haja ainda mais caos. No último ciclo, que teve início em 2004, o Fed levou cerca de dois anos para normalizar a política, em um cenário de menor endividamento e desemprego. Assim, destacam, se os mercados já estão bastante nervosos, espere o início da política de reversão de estímulos do Fed. 

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Para eles, as injeções de liquidez só vêm aumentando a alavancagem e a percepção de riscos nos mercados financeiros. Com isso, é bastante factível que novas bolhas de ações se formem nos próximos dois anos, apontam Bremmer e Roubini. 

Apesar de tudo, relativamente otimista com o Brasil
Mesmo não vendo os BRICs mais como os “salvadores”, Roubini e Bremmer veem a China ultrapassando os Estados Unidos nos próximos anos, o que merece destaque especial por ser uma nação ainda não desenvolvida que se torna a economia mais importante do mundo. Assim, os chineses ainda precisam enfrentar muitos desafios do ponto de vista social, no mercado de trabalho e na comunicação. E, dado que ela é muito maior do que os BRICs somados, os seus fracassos e seus sucessos serão sentidos globalmente.

Desta forma, o “novo anormal” irá produzir vencedores e perdedores porque alguns mercados são mais resilientes e adaptáveis do que outros. Assim, alguns destes países vão ter que tomar decisões politicamente difíceis, mas economicamente necessárias. 

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Dentre os emergentes, o Brasil possui uma presidente atualmente bem aceita pela população e ainda é um dos países mais seguros para se investir, destacando que, enquanto a corrupção e o crime organizado são problemas crônicos, a probabilidade de um conflito militar na comparação com outros países sul-americanos é bem mais baixa. Com isso, o Brasil não precisa gastar quantias vultuosas e capital político para defender as suas fronteiras como a China, Rússia e Índia. 

Por outro lado, eles apontam que o crescimento econômico baixo no País não é somente cíclico. “Ele também parte de um conjunto de elementos de um capitalismo de estado associado a um atraso na infraestrutura, as regras confusas das empresas estatais, nacionalização de recursos, substituição de importações e protecionismo”. Neste sentido, o Brasil deve se afastar do capitalismo de estado para crescer mais rápido, apontam os economistas. O capitalismo de estado se refere à forte intervenção do Estado na economia, onde este se esforça para desenvolver as forças produtivas. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.