Retirada de estímulos nos EUA pode ser precipitada, diz fundador da Pimco

Bill Gross afirma que "erro de cálculo" do Fed custar caro na economia e minar a confiança dos investidores no mercado

Lara Rizério

Publicidade

SÃO PAULO – “As nuvens de junho”, que costumam perdurar nesta época do ano na Caifórnia, parecem ter se espalhado para o Federal Reserve, destaca Bill Gross, fundador da Pimco, a maior gestora de renda fixa do mundo. Em coletiva de imprensa na semana passada, o presidente da autoridade monetária, Ben Bernanke, afirmou que o Fed pode por o pé no freio e diminuir o ritmo de compras de títulos no final de 2013 e encerrando em 2014. 

“Concordamos que o QE (Quantitative Easing) deva ser retirado. Há incentivos distorcidos e os preços dos ativos estão inflacionados a níveis artificiais. Mas achamos que o plano do Fed pode ser apressado demias”, destaca Gross.

De acordo com o gestor, o “nevoeiro” tem embaçado a visão da economia pelo Federal Reserve, impedindo-o de ver os problemas estruturais que impedem a economia norte-americana de apresentar um maior crescimento e inflação. Bernanke projeta que a taxa de desemprego nos EUA caia para cerca de 7% até a metade do próximo ano o que, segundo Gross, é um “tiro no escuro”.

Continua depois da publicidade

Desta forma, os comentários do presidente do Fed sinalizam a adoção de uma visão cíclica da economia. Ele culpou a austeridade fiscal pelo menor crescimento, sugerindo que, caso ela fosse removida da equação, a economia poderia crescer 3% de repente, destaca Gross. Além disso, o aumento de preços de imóveis não ocorreu em meio as maiores taxas de hipoteca, segundo Bernanke.

Visão estrutural
Segundo Gross, a economia deve ser vista de um modo estrutural, em meio à atenuação dos salários frente à globalização, o envelhecimento da população norte-americana levando ao menor consumo e a tecnologia eliminando postos de trabalhos ao invés de criá-los. Segundo o fundador da Pimco, Bernanke não fez menção a esses fatores, que são significativos para impedir que o desemprego atinja o limiar de 7% no próximo ano.

Além disso, a visão do Fed sobre a inflação também é nebulosa, uma vez que Bernanke vê a inflação acelerando para 2% o que, segundo Gross, está bem fora da realidade. “O plano do Fed nos parece um pouco irônico, na verdade, porque Bernanke tem preocupações de longa data com a inflação”, aponta Gross, uma vez que o presidente do Fed cita as décadas perdidas do Japão e quer evitar o erro de um aperto prematuro, como ocorreu na crise de 1930.

Continua depois da publicidade

Entretanto, Gross avalia que é claramente razoável que Bernanke tente preparar os mercados para o vento inevitável e para a necessidade de reduzir o QE. “Mas se ele tiver que acenar uma bandeira branca daqui a três meses e dizer: ‘Desculpe, mas calculei mal’, a confiança e a menor volatilidade que tem impulsionado os mercados nos últimos dois ou três anos poderiam nunca ser mais totalmente recuperadas”, aponta o gestor. “Neste caso, levaria ainda mais  tempo para o nevoeiro sobre a economia se levantar”, conclui.

Newsletter

Infomorning

Receba no seu e-mail logo pela manhã as notícias que vão mexer com os mercados, com os seus investimentos e o seu bolso durante o dia

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.