E-commerce, vestuário, alimentos: em meio a cenário desafiador, quais varejistas serão destaque na temporada do 3º trimestre?

Juros alto deve ser principal problema para e-commerce enquanto deflação impacta companhias mais ligadas a alimentos

Vitor Azevedo

(Shutterstock)

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O terceiro trimestre de 2023 deve ser mais um período marcado como fraco para as varejistas brasileiras, com o cenário macroeconômico ainda influenciando negativamente os resultados das companhias. Contudo, vale destacar a amplitude do setor, que envolve empresas de e-commerce, vestuário, farmacêuticas, entre outros, alguns segmentos devem ter maior resiliência do que outros.

“Antecipamos um terceiro trimestre desafiador para o setor de varejo, em meio a uma demanda ainda fragilizada e margens afetadas, tanto pela base de comparação com trimestres anteriores quanto pelo aumento da competitividade e altos níveis de alavancagem”, comenta a equipe da XP Investimentos, liderada por Danniela Eiger.

“Não há dúvida de que as varejistas estão altamente correlacionadas com o cenário macro. Mas os mercados se recuperaram em meados de 2023, com os investidores considerando que o segundo trimestre seria o pior momento para a maioria dos nomes que cobrimos. Isso provou ser verdade na maioria dos casos, mas o terceiro trimestre deverá apresentar uma tendência mais fraca do que o esperado em comparação com as expectativas de alguns meses atrás”, fala o time do BTG, liderado por Luiz Guanais.

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Em algumas companhias, como de consumo discricionário, os juros altos são os maiores vilões, impedindo o acesso ao crédito. Para outras, como as de alimentos, o processo de desinflação é que impacta os resultados, levando as pessoas a comprar em menores quantidades.

Confira as projeções da Refinitiv para as companhias do setor de varejo:

Companhia Ticker Receita líquida Ebitda Lucro líquido
Grupo Casas Bahia BHIA3
Magazine Luiza MGLU3 R$ 9,18 bilhões R$ 2,4 bilhões R$ – 137,6 milhões
Grupo Soma SOMA3 R$ 1,3 bilhão R$ 232,7 milhões R$ 109,2 milhões
Arezzo ARZZ3 R$ 1,3 bilhão R$ 210,7 milhões R$ 104,9 milhões
Vivara VIVA3 R$ 450,3 milhões R$ 97,9 milhões R$ 72,3 milhões
Lojas Renner LREN3 R$ 3,2 bilhões R$ 354 milhões R$ 192,8 milhões
Guararapes GUAR3
Assaí ASAI3 R$ 16,7 bilhões R$ 1,18 bilhão R$ 159,7 milhões
Carrefour CRFB3 R$ 26,5 bilhões R$ 1,29 bilhão R$ -111,8 milhões
Grupo Mateus GMAT3 R$ 6,9 bilhões R$ 485,8 milhões R$ 301,4 milhões

Grupo Casas Bahia, Magazine Luiza e Mercado Livre

No e-commerce, o faturamento deve continuar sendo afetado, com as famílias ainda consumindo pouco por causa dos juros elevados. Além disso, as companhias do setor – principalmente Grupo Casas Bahia (BHIA3), antiga Via, e Magazine Luiza (MGLU3) – devem sofrer também por conta de suas alavancagens, com os juros mais altos impulsionando o custo das dívidas.

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Para o Grupo Casas Bahia, que passa por uma reestruturação após uma série de prejuízos e queimas de caixa, alguns bancos e casas de análise preferiram não soltar projeções devido à falta de visão sobre o futuro.

“O Grupo Casas Bahia deve apresentar outro conjunto de resultados afetados, com dinâmicas fracas de valor bruto de mercadoria (GMV, na sigla em inglês) e rentabilidade impactada”, fala a XP.

A empresa, em meio ao seu processo de reestruturação, anunciou o fechamento de lojas físicas e a descontinuidade de categorias, duas questões que devem impactar negativamente o faturamento, já que com menos pontos e menos produtos, haverá menos vendas. Além disso, as margens também devem ser afetadas, por causa de promoções.

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“Quanto à rentabilidade, a margem bruta deve ser o ponto baixo do trimestre, caindo 450 pontos-base ano após ano, para 26,2%, afetada pela estratégia do Grupo Casas Bahia de reduzir agressivamente os níveis de inventário, levando a margem Ebitda [Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês] a cair 290 pontos-base ano após ano, para 2,7%”, menciona a corretora.

Para o Magazine Luiza, as perspectivas são de que o GMV irá crescer, apesar do cenário macro.

“Esperamos que a Magazine Luiza apresente resultados mistos no trimestre em questão, com um desempenho fraco na receita, mas margens ligeiramente melhores. O GMV total deve aumentar 4% na base anual principalmente apoiado pelo desempenho do marketplace (3P), enquanto o e-commerce (1P) e as lojas físicas devem permanecer afetados (com queda de 6% e estável ano após ano, respectivamente)”, explica a equipe de Eiger.

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No que tange à rentabilidade, com exceção do Grupo Casas Bahia, que apresenta em seu resultado um impacto adverso da reestruturação, o setor de consumo discricionário tem apresentado margens melhores.

Os juros mais elevados elevaram o custo de capital e tornaram a competição mais racional, com todas as companhias cobrando preços maiores dos seus clientes. Mas analistas ainda tentam entender, por exemplo, qual será o impacto das mudanças do Difal, que é a diferença de alíquota sobre uma mercadoria determinada entre o estado de origem da mercadoria e o de destino, nas margens.

“Vemos a margem bruta expandindo 90 pontos-base ao ano, para 28,8%, graças à maior penetração de serviços compensando o impacto negativo da reintrodução do DIFAL. Reconhecemos os esforços da empresa para melhorar a eficiência, mas a desalavancagem operacional provavelmente compensará parcialmente o ganho de margem bruta, resultando em uma pressão de margem Ebitda de 20 pontos-base ao ano para 5,8%”, debate a equipe do Itaú BBA, que tem à sua frente Thiago Macruz, sobre o Magazine Luiza.

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O Mercado Livre (MELI34), por fim, deve ser o destaque positivo do trimestre.

“Provavelmente apresentará novamente resultados fortes em ambas as divisões, tanto de comércio quanto na de fintech. Antecipamos um crescimento de 25% ao ano no GMV, com Brasil e México sendo os melhores desempenhos, impulsionados pela aceleração do 1P, e um crescimento de 40% ao ano no TPV (Valor Total de Pagamento, na sigla em inglês)”, diz o banco, sobre a operação da companhia argentina.

Na mesma linha, o Bradesco BBI aponta que entre os destaques do trimestre, espera que o Mercado Livre entregue, novamente, os melhores resultados da sua cobertura (maior combinação de crescimento e rentabilidade), enquanto projeta que o Grupo Casas Bahia imprima os resultados mais pressionados, marcados por já conhecidos de seu plano de transformação.

No discricionário, alta renda deve continuar sendo destaque

No consumo discricionário (sensível aos ciclos econômicos), quem deve continuar sendo destaque são as companhias voltadas mais ao público de alta renda, que não é tão afetado pelos juros elevados e continua consumindo.

“Os varejistas de vestuário e calçados expostos a famílias com renda mais elevada deverão continuar apresentando um desempenho superior no trimestre em questão, apesar do crescimento mais lento das receitas, semelhante aos trimestres anteriores”, comenta o BTG Pactual.

O Grupo Soma (SOMA3), para o banco, deve ser o destaque negativo do trimestre, com as vendas excluindo a Hering aumentando 5,3% no ano. As vendas da marca recém-adquirida devem crescer 1,5%.

O BBA segue na mesma linha. Contudo, defende que o setor não é “à prova de balas”.

“Arezzo (ARZZ3), Track & Field (TFCO4) e Vivara (VIVA3) provavelmente apresentarão resultados positivos, com a primeira sendo o destaque com um ganho de margem Ebitda de 150 pontos-base ano a ano”, menciona.

“Em contraste, o Grupo Soma provavelmente mostrará 230 pontos-base ano a ano de pressão na margem, principalmente devido a tendências de vendas mais suaves (desacelerando trimestre a trimestre) resultando em alguma desalavancagem operacional no trimestre e à pressão na margem bruta da Soma (excluindo Hering) por maiores reduções de preço”, diz o banco.

Empresas do setor de vestuário voltadas ao público de menor renda, por outro lado, não devem ter a mesma sorte, já que seu público-alvo continua afetado.

“Esperamos que a Lojas Renner (LREN3) reporte outro conjunto de resultados fracos, já que a demanda continua a sofrer com os desafios macroeconômicos enquanto a Realize (braço financeiro da companhia) permanece afetada pelos ainda elevados níveis de inadimplência”, comenta a equipe da XP, sobre a varejista.

Para a Guararapes (GUAR3), dona da Riachuelo, a corretora usa palavras similares: “Deve apresentar resultados fracos, com desempenho tímido na receita principal, mas ainda com margens afetadas na operação de varejo”.

O Itaú BBA vai na mesma linha.

“Esperamos que o terceiro trimestre tenha sido mais um período desafiador para a Lojas Renner. Na divisão de varejo, esperamos apenas 1% de crescimento nas Vendas nas Mesmas Lojas (SSS), refletindo o cenário macroeconômico adverso, a desaceleração na concessão de crédito e a temporada de inverno mais curta do que o esperado”, fala.

“A Guararapes apresentará números suaves em um cenário desafiador de cima para baixo. As tendências de vendas no varejo provavelmente serão um destaque em uma base relativa, com um aumento de 6% nas Vendas nas Mesmas Lojas (SSS); no entanto, alguma atividade promocional provavelmente reduzirá a margem bruta”, adicionam.

Para o varejo de alimentos, a palavra-chave é deflação

Se as companhias de e-commerce e de moda têm os juros como seu principal vilão, ao analisar o varejo mais ligado a necessidades básicas, o principal obstáculo é a deflação.

Com os preços avançando pouco – ou até mesmo recuando – os consumidores deixam de fazer compras maiores para evitar a inflação, diminuindo o faturamento.

Além disso, essa desvalorização dos preços causa um efeito negativo para as varejistas e atacarejistas: os seus estoques também passam a valer menos, gerando um efeito contábil negativo. O produto adquirido um mês atrás pode, por exemplo, valer menos no momento da sua venda.

“A deflação de alimentos continua sendo um vento contrário. No varejo de alimentos, esperamos que o crescimento negativo das Vendas nas Mesmas Lojas (SSS) continue, impulsionado pela inflação dos alimentos, dinâmicas de volume afetadas pela baixa renda disponível e aumento da concorrência, enquanto a rentabilidade deve ser impactada pelos robustos planos de expansão das empresas e pelo processo de maturação das lojas”, comenta a XP.

Para o Assaí (ASAI3), a equipe da corretora vê o terceiro trimestre de maneira semelhante ao segundo, com as vendas nas mesmas lojas (SSS, na sigla em inglês) caindo por conta da dinâmica de preços. No entanto, a receita deve avançar, por conta da expansão da companhia, que adquiriu unidades do Extra.

“Esperamos um trimestre suave para o Assaí, primariamente devido às dinâmicas de deflação de alimentos, que podem resultar em uma queda de 2% nas Vendas nas Mesmas Lojas (SSS). No entanto, antecipamos um aumento de 22% ano a ano na receita total, impulsionado pelo plano de conversão e expansão”, expõe o BBA, sobre a rede de atacarejos.

No caso do Carrefour, a XP Investimentos prevê um terceiro trimestre desfavorável. Além da deflação alimentar e da integração do BIG, que devem impactar negativamente as receitas, as vendas consolidadas, segundo eles, podem cair 5% em comparação anual, com desempenho negativo tanto no Atacadão quanto no varejo Carrefour devido ao aumento da concorrência.

Neste ano, a concorrência passou a ser uma questão para os dois atacarejos, que atuam principalmente na região Sudeste. Especialistas apontam desde o início de 2023 que as vendas poderiam ser impactadas por uma espécie de “canibalismo”.

O Grupo Mateus (GMAT3), por outro lado, vem aparecendo como favorito – e justamente porque tem menor exposição a essa região, com suas unidades concentradas no Norte e no Nordeste.

“Esperamos um trimestre relativamente positivo marcado por tendências consistentes na receita principal. O crescimento de 5% nas vendas nas mesmas lojas (SSS) e a abertura de 7 lojas no trimestre devem contribuir para uma alta de 18% no faturamento na base anual”, diz o BBA.

O aumento de lojas de atacarejo, no entanto, deve causar a diminuição de 40 pontos-base (bp) na margem bruta na base anual, para 21,8%, já que esse modelo, normalmente, tem margens menores.

“Embora ganhos de eficiência e a maturação da nova rota logística sejam esperados, eles podem não ser suficientes para compensar completamente o crescimento das despesas. Como resultado, esperamos uma pressão de 70 pontos-base na margem Ebitda, para 6,4%”, concluem.

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