Rali do minério de ferro deve continuar? Para o Goldman Sachs, a resposta é não

Analistas acreditam que investidores podem ficar desapontados com os dados macro nos próximos meses, a menos que as manchetes positivas persistam

Lara Rizério

Minério de ferro (Getty Images)
Minério de ferro (Getty Images)

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Em um cenário de forte aversão ao risco para o mercado brasileiro com preocupação sobre o fiscal, as ações de Vale (VALE3) e siderúrgicas têm registrado forte alta nas últimas semanas – com VALE3 e CSN Mineração (CMIN3) com ganhos acumulados em novembro de mais de 20% – em meio ao cenário mais positivo para o minério de ferro.  No mesmo período, o Ibovespa cai mais de 7% até a tarde desta quinta.

O minério registra forte recuperação após o “sell-off” de outubro, alimentada pelo otimismo de que as recentes ações políticas na China aumentariam a demanda por aço e suas matérias-primas. Nesta quinta, o contrato futuro do minério de ferro mais negociado para entrega em janeiro na Dalian Commodity Exchange da China subiu 1,7%, para 740 iuanes (US$ 103,85) a tonelada no final do pregão diurno, depois de oscilar entre perdas e ganhos durante a sessão. No acumulado do mês, os ganhos em dólares são de cerca de 24,6%.

Na Bolsa de Cingapura, o contrato de referência do ingrediente siderúrgico para dezembro subiu 0,2%, para US$ 97,20 dólares a tonelada.

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Uma discussão que tem ganhado força entre os investidores e analistas de mercado é se a alta do minério e, por consequência, das ações dos setores de mineração e siderurgia, é sustentável.

O Goldman Sachs destaca que, entre as ações de sua cobertura nas duas últimas semanas, as de mineração na América Latina têm subido 18%, enquanto o minério avançou 23% e o cobre subiu 11%, enquanto os ativos do setor imobiliário chinês se recuperaram entre 35% e 90% frente suas baixas recentes.

“Isso foi inicialmente desencadeado por um ritmo de reabertura mais claro anunciado pela China e posteriormente alimentado pelas 16 medidas anunciadas pelo gigante asiático para estabilizar o setor imobiliário”, avaliam os estrategistas do banco americano.

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No entanto, os analistas do Goldman apontam, após conversas com investidores do setor, que o rali foi principalmente impulsionado pela cobertura de posições vendidas e investidores ajustando suas recentes posições muito baixas em materiais básicos e commodities em geral.

Esse movimento, na visão deles, parece exagerado, e agora os investidores estão tentando avaliar se devem seguir o rali e adicionar “smart money” ou embolsar lucros (o setor permanece com baixa alocação entre os investidores).

“Os investidores em geral com quem conversamos recentemente concordam que as 16 medidas anunciadas para o setor imobiliário na China não necessariamente suportam uma aceleração da atividade, mas removem um risco significativo de um grande default sistêmico para o setor imobiliário (e também risco sistêmico financeiro geral na China)”, avaliam os analistas.

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A percepção está em linha com a da equipe especializada do banco em setor imobiliário chinês, que acredita que as medidas são uma abordagem mais concreta e sistêmica do governo para lidar com a pressão de liquidez no setor imobiliário e a deterioração do sentimento do mercado em comparação com as medidas anteriores. Assim, não haverá demanda maior para o setor, como também não haverá maior procura por minério de ferro. Mesmo que o cenário mais otimista se concretize, com novas construções caindo entre 2% e 11% em vez de 20%, este último o cenário-base do banco para 2023, é improvável que seja observado um aumento do mercado imobiliário antes de meados do próximo ano.

“Nossas recentes verificações sugerem que a demanda por minério de ferro e aço continua fraca, as margens das siderúrgicas são negativas e os cortes na produção de aço podem continuar”, apontam os analistas.

Assim, eles destacam o risco de que o rali não seja sustentável e os investidores fiquem desapontados com os dados macroeconômicos nos próximos meses, a menos que as manchetes positivas continuem apoiando o sentimento e os preços elevados do minério de ferro.

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“Para o cobre, no entanto, vemos maiores chances de melhora da demanda no curto prazo, uma vez que uma potencial recuperação na conclusão de moradias suporta a demanda por commodities no final do ciclo”, avaliam.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.