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Dono do bordão “Vamos fazer história e ponto final”, o influenciador digital e empresário do setor de criptomoedas Philip Han, de 40 anos, mantém uma rotina de ostentação nas redes sociais, regada a roupas de luxo, preferencialmente das marcas Gucci e Louis Vuitton, joias, carros esportivos e viagens internacionais, sempre em primeira classe.
Philip Han e sua mulher, a também influenciadora digital Carla Moreira Han, com 34 anos, foram alvos de uma operação de busca e apreensão na manhã desta terça-feira, 23, no condomínio de luxo Tamboré 10, em Santana de Parnaíba, cidade da Grande São Paulo.
Eles são suspeitos, entre outras atividades, de prática de pirâmide financeira e lavagem de dinheiro por meio de gestoras de recursos que operam pelo País sem licença de funcionamento.
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O casal estaria por trás, segundo os policiais, de ao menos seis empresas investigadas por prática de pirâmide financeira: a WCM777, Mr. Link, ifreex, Fx Trading, F2 Trading e My Hash – as três últimas, prometendo lucros de até 50% sobre o capital aportado por meio de transações especulativas com moedas virtuais, como o Bitcoin (BTC).
Dubai
Nos últimos anos, Philip e Carla Han vêm dividindo sua vida entre duas cidades: Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e a casa própria no bairro de Tamboré, em Santana de Parnaíba.
No último dia 7 de julho, segundo dados obtidos pela reportagem junto à Polícia Federal, eles desembarcaram no Aeroporto Internacional de Guarulhos, após uma temporada de sete meses no exterior. Foi a oportunidade que a polícia encontrou para interpelar o casal, já que era provável que retornariam ao exterior.
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Nos últimos quatro anos eles saíram do Brasil para os Emirados Árabes Unidos ao menos cinco vezes, sempre para longas temporadas. Da última vez, vieram ao Brasil após quase cinco meses fora, permaneceram para as festas de fim de ano e regressaram ao destino na Ásia, para nova jornada de sete meses.
A suspeita da polícia é que o casal estabelece um padrão para eventual fuga. Os Emirados Árabes não têm acordo de extradição com o Brasil e, nos últimos anos, tornaram-se destino de outros suspeitos de crime de estelionato, semelhantes aos que o casal é suspeito.
Bitcoin e dinheiro vivo
O casal mantém o mesmo costume tanto no exterior quanto no Brasil: compras recorrentes envolvendo valores vultuosos em lojas de grife e joalherias. Documentos obtidos pela reportagem revelam faturas superiores a R$ 100 mil. Em uma única ocasião, Philip Han desembolsou R$ 156.150 numa unidade da Gucci. Pagou R$ 70.830 em dinheiro vivo. A operação levantou suspeita dos órgãos de fiscalização já que, por lei, a loja precisou reportar a transação ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
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Há duas espécies de comunicação encaminhadas ao Coaf. A mais comum é a Comunicação de Operação em Espécie (COE), que é uma notificação enviada automaticamente pelos setores obrigados por lei a mandar informações ao órgão sempre que um cliente faz transação em dinheiro vivo acima R$ 50 mil.
A outra é a Comunicação de Operação Suspeita (COS), encaminhada quando os chamados setores obrigados percebem em negociações de seus clientes indícios de lavagem de dinheiro, financiamento de terrorismo ou de crime organizado e outras atividades ilícitas.
Ostentação
No Instagram, o casal desfila parte dessas aquisições e compartilha fotos de viagens. Philip Han também registra sua atividade preferida: o automobilismo. O que se vê é o influenciador em poses ou dirigindo uma coleção de carros de luxo que passa por Lamborghini, Mercedes e Ferrari.
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Esse hobby de Philip Han já era conhecido há alguns anos. Entre 2018 e 2019, ele frequentava feiras e encontros de carros esportivos em São Paulo. Era hábito encontrar colecionadores que paravam seus automóveis no estacionamento de um shopping no bairro de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. Em 2019, com o fim da operação da FX Trading, ele colocou sua Ferrari à venda e, segundo conta um desses colecionadores mais próximos a ele, mudou-se para Dubai.
Entenda o caso
As seis empresas investigadas por prática de pirâmide financeira, segundo o inquérito da Polícia Civil, foram lançadas e descontinuadas de maneira sequencial ao longo dos últimos nove anos. Todas prometiam investimentos em produtos ligados ao ramo de tecnologia ou de criptoativos e apostavam no modelo de marketing multinível para ganhar escala rapidamente.
Marketing multinível é uma modalidade de negócio que envolve a venda direta de produtos. Além dos próprios revendedores se engajarem na comercialização, eles constroem redes de colaboradores associados e passam a receber comissões sobre o faturamento de todo o grupo.
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Segundo os investigadores, contudo, a jornada dessas empresas invariavelmente terminava com investidores lavrando boletins de ocorrência por se julgarem vítimas de estelionato.
A prática de pirâmide financeira é um esquema considerado criminoso pelo qual novos investidores pagam pelos ganhos elevados dos mais antigos, até que o negócio “estoura”, quando o novo dinheiro que entra é insuficiente para sustentar os lucros.
Investigação
Em 2019, após reportagem do Estadão, a Polícia Civil instaurou uma investigação para apurar as denúncias de investidores que se diziam enganados por Philip Han.
Na ocasião, ele tinha encerrado a captação da FX Trading, que prometia 1,5% de lucro ao dia para o investidor. Ele justificava o retorno a partir de operações de day trader no mercado de opções (compra e venda de contratos futuros de bitcoin) e técnicas de arbitragem internacional das moedas, que consiste em comprar barato em um país com alta liquidez pelo ativo para vender mais caro em outro, com menos liquidez.
Segundo o próprio Han, em posts em redes sociais da época, a FX alcançou a marca de 2 milhões de investidores. A reportagem presenciou uma convenção da marca na casa de show Vibra (antigo Credicard Hall), na zona sul da capital paulista. O evento reuniu cerca de sete mil pessoas, lotação máxima da casa até então.
No mês seguinte, Han anunciava o fechamento da empresa e o lançamento de uma nova, a F2 Trading. Alguns investidores que não migraram para a nova versão acusaram problemas com o saque de seus investimentos, tratados pela FX como problemas técnicos.
A reportagem tentou contato telefônico com Philip Han e Carla Moreira Han, mas não obteve sucesso.
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