Queda do Bitcoin: o que aconteceu e o que esperar a partir de agora, segundo especialistas

Criptomoeda chegou a superar US$ 43 mil na quinta, mas durante a madrugada passou a cair forte perder os US$ 38 mil

Rodrigo Tolotti Paulo Alves

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Depois de ameaçar ganhar força na tarde de ontem e superar a marca de US$ 43 mil, o Bitcoin (BTC) engatou uma forte queda durante a madrugada desta sexta-feira (21), perdendo o suporte dos US$ 40 mil e chegando a menos de US$ 38 mil, levando algumas altcoins a caírem dois dígitos.

Às 15h30 (horário de Brasília), a maior criptomoeda do mundo registrava perdas de 10,5% no acumulado de 24 horas, cotada a US$ 38.300. A queda ainda é menor do que a de Ethereum (ETH) e Solana (SOL), por exemplo, que perdem 13,7% e 11,5%, respectivamente, cotadas a US$ 2.781 e US$ 124.

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O recuo pegou alguns traders de surpresa, principalmente por conta das leves altas nos últimos dias. De acordo com a CoinGlass, nas últimas 24 horas, houve quase US$ 900 milhões em liquidações (prejuízo de traders alavancados). Desses, US$ 336 milhões foram em Bitcoin, US$ 256 milhões em Ethereum e US$ 22 milhões em Solana.

O movimento é visto como uma continuação da tendência de fuga de capital para ativos considerados mais seguros, em meio ao receio de que os bancos centrais devem começar a incrementar o ritmo de retomada das taxas de juros, aumentando a atratividade de títulos públicos.

Os criptoativos nesse momento apresentam forte correlação com as ações de tecnologia, que seguem em forte queda nas bolsas americanas nos últimos dias – a Netflix, por exemplo, caiu quase 25%. Em relatório, a casa de análise Delphi Digital avalia que os investidores estão precificando vários aumentos de taxas de juros, o que está impactando significativamente os ativos de risco.

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“O assunto da semana é o mais recente salto nos rendimentos dos títulos, principalmente nos títulos do Tesouro dos EUA, já que os investidores continuam se posicionando para um cronograma de aperto monetário acelerado”, diz o relatório.

Para a casa de research, embora o noticiário tenha dado destaque principalmente os os rendimentos nominais, é o recente aumento dos rendimentos reais que importa mais nesse cenário, especialmente para ativos não geradores de renda, como Bitcoin e ouro.

Segundo a equipe de analistas da Levante, parte dessa queda refere-se à desmontagem de posições especulativas. “Essa desalavancagem do mercado ocorreu depois que os investidores ao redor do mundo recalcularam as probabilidades de o Fed elevar os juros ainda em 2022”, explicam.

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“Além de apertar a liquidez, as medidas destinam-se a baixar a inflação. E há algum tempo, as criptomoedas vêm funcionando como uma estratégia de hedge contra a inflação. Com menos necessidade de hedge, as posições são desmontadas”, afirma a Levante.

Nesta sexta, a Bloomberg também divulgou um levantamento com economistas, que esperam que os representantes do banco central dos EUA vão sinalizar que elevarão a taxa básica de juros em março, marcando o primeiro aumento em mais de três anos, e que passarão reduzir o balanço patrimonial da instituição logo em seguida.

A maioria dos 45 economistas participantes da pesquisa acredita que o Fed usará o encontro dos dias 25 e 26 de janeiro para comunicar um aumento de 0,25 ponto percentual na taxa de referência para combater as pressões inflacionárias. Dois deles esperam um acréscimo mais substancial, de 0,50 ponto, que seria o maior desde 2000.

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Bitcoin pode cair mais?

Para analistas, a chave para a recuperação do Bitcoin é a volta dos investidores institucionais, que vêm realizando lucros desde o último trimestre do ano passado.

“As entradas institucionais ainda não voltaram e, com o suporte de US$ 40 mil do BTC quebrado, o mercado como um todo foi empurrado para baixo”, disse Laurent Kssis, especialista em ETFs e diretor da CEC Capital.

Porém, na opinião dele, a perspectiva de curto prazo é ruim e o preço da criptomoeda deve cair ainda mais, ocasionando possivelmente uma nova onda de liquidações de traders alavancados.

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“Ainda há US$ 100 milhões em posições compradas em aberto, metade dos quais na exchange BitMEX, algo que eu não via há algum tempo”, disse Kssis. “Como o BTC caiu da noite para o dia, essas posições compradas com alavancagem devem ser liquidadas, é apenas uma questão de tempo”.

Já Valdiney Pimenta, CEO da BitPreço, fala da possibilidade do mercado estar no chamado “inverno cripto”. “Historicamente, após um bull market como o que presenciamos em 2021, segue-se de um período longo de bear market, conhecido como inverno cripto. Eu creio que há fortes chances de estar começando esse período, que pode se estender por todo este ano”, avalia.

Por outro lado, o especialista ressalta que é nesses momentos de queda que ocorrem as melhores oportunidades pra investimento visando médio e longo prazo.

Humberto Andrade, trader do Mercado Bitcoin, por sua vez, diz que apesar da queda de 44% desde a máxima histórica atingida em novembro, ainda é cedo para afirmar que o mercado cripto entrou definitivamente no bear market.

“Estamos num momento de volumes mais baixos e com maiores posições de longo prazo, que tem aproveitado as quedas para aumentar posição. A volatilidade recente está muito vinculada aos motivos do mercado de maneira geral, que seriam o aumento dos casos de covid com a variante ômicron pelo mundo e, também, a recente escala de uma possível guerra entre Rússia e Ucrânia”, afirma o especialista.

“O que percebemos é que o mercado tem se exposto mais ao risco de produtos com marketcap (valor de mercado) menor, o que ‘drena’ o dinheiro dos principais ativos do mercado para os chamados emergentes ou gemas”, conclui.

O trader e investidor anjo Vinícius Terranova é mais cauteloso, e alerta para uma possível queda mais aguda. “US$ 34.500 é onde eu começo a comprar, onde está o próximo suporte”, aponta. Suporte é uma zona de preços com alta quantidade de ordens de compra. Para Terranova, se o BTC cair abaixo dessa região, corre o risco de desabar para US$ 28 mil, preço registrado pela última vez em julho de 2021.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.