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SÃO PAULO – Depois das restrições bastante fortes à mobilidade no início do ano por conta da pandemia (que ainda continuam em algumas localidades), a flexibilização das medidas permitiu o afrouxamento das atividades comerciais e a reabertura dos shoppings, setor este que sofreu consideravelmente durante a pandemia. Paralelamente, as vacinações continuam progredindo (embora em um ritmo mais lento do que em outros países), evento considerado fundamental para a retomada da recuperação da saúde financeira dos lojistas.
Em meio a esse cenário, analistas de mercado destacam como se dará a recuperação do setor de shoppings no Brasil – e quais ações estão mais atrativas para a tão esperada retomada, ainda mais levando em conta que parte dessa volta já pode estar no preço dos ativos.
Em evento realizado em meados de maio com analistas de shoppings da Austrália e do México, Daniel Gasparete e Pedro Hajnal discutiram a dinâmica de reabertura e as novas tendências da indústria de shoppings pelo mundo e apontaram que, apesar da pandemia ter gerado mudanças de longo prazo nos hábitos de consumo, o setor deve superar essa crise e continuar crescendo na sua proposta de ser um centro de lazer atrativo e de consumo experimental.
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“A recuperação dos shoppings na Austrália indica uma luz no fim do túnel para a indústria em países onde a normalização esta acontecendo em ritmo mais lento, mais ainda no Brasil e no México, onde os shoppings atendem a uma falta estrutural de alternativas seguras de lazer. A medida que a vacinação avança nos países, acreditamos que a recuperação deve acelerar”, apontam.
Na Austrália, onde a reabertura está mais adiantada, o tráfego atingiu entre 80% e 95% dos níveis pré-Covid em shoppings regionais. A exceção fica para aqueles localizados em distritos comerciais centrais que foram mais afetados pelo lento retorno de funcionários de escritório, bem como pela falta de turismo. O México está se recuperando relativamente rápido desde que a segunda onda atingiu o país em janeiro, com tráfego de cerca de 100% fora da Cidade do México e de cerca de 80% na Cidade do México, onde a maioria dos shoppings listados estão localizados. No Brasil, o fluxo de clientes é de aproximadamente 60%, de acordo com o índice IPV calculado pela FX Data.
Com relação à multicanalidade, integrando o digital e o físico, os analistas destacam que, na Austrália, as vendas online tiveram uma participação estimada de cerca de 9% do total de vendas no varejo antes da pandemia, proporção esta que está agora em cerca 13% e pode chegar a 20% em um período entre dois e três anos. No México, a penetração era de 4,6% em 2019 e quase dobrou para 8,5% em 2020. De acordo com a Euromonitor, o e-commerce pode representar 19% do total das transações de vendas até 2023. No Brasil, a penetração saltou de 8% em 2019 para 14% em 2020.
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“A tendência omnichannel se espalhou pelo mundo, mas o Brasil parece estar à frente [no processo de transformação]”, apontam os analistas, citando iniciativas como ter um marketplace próprio de luxo, como o Iguatemi 365, do Iguatemi (IGTA3) até criar companhias fulfillment. O termo fulfillment, muito usado no e-commerce, quer dizer que o estoque dos vendedores é gerenciado pela própria empresa – desde o armazenamento da mercadoria até a entrega para o cliente. Os analistas do Credit destacam visão positiva para Multiplan (MULT3) e Iguatemi dentre as ações de sua cobertura no Brasil.
Vendo a vacinação e o relaxamento das medidas de restrição como catalisadores já em andamento, Renan Manda e Lucas Hoon, analistas da XP, veem o período mais desafiador da pandemia no passado e reafirmam a visão positiva para o segmento.
Os analistas atualizaram as estimativas para as companhias, incorporando os resultados do primeiro trimestre de 2021 e destacando que, de modo geral, apesar da forte performance no ano, continuam vendo potencial adicional para as ações dado a perspectiva mais positiva da velocidade de reabertura e da performance resiliente dos portfólios.
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“Apesar dos desafios após a recente restrição do varejo físico, a performance das operadoras de shoppings tem sido resiliente e em abril todos os shoppings dos portfólios das companhias reabriram e operam agora entre 80% e 90% da capacidade (em relação às horas em funcionamento em 2019). Adicionalmente, a atividade de locação de ativos de qualidade continuou forte, impedindo um maior aumento nas taxas de vacância. Daqui para frente, vemos o afrouxamento das restrições comerciais e as vacinações em todo o país fomentando uma recuperação mais rápida em relação ao ano passado, além de reduzir significativamente o risco de novas rodadas de lockdowns e novas restrições”, apontam.
Os analistas têm preferência por companhias com portfólio de shopping centers de alta qualidade e dominantes, pois acreditam que essas devem recuperar mais rapidamente do que média do setor após a recente reabertura dos shoppings.
A top pick (preferida) do setor para Manda e Hoon é a Multiplan. Isso porque, além do portfólio premium e dominante, a ação é negociada a um valuation atrativo na avaliação dos analistas. Em relatório desta semana, eles ainda elevaram o preço-alvo para os papéis MULT3 de R$ 25 para R$ 29,50, ou potencial de alta de 15% em relação ao fechamento de segunda-feira.
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Por outro lado, apesar de terem também elevado o preço-alvo de R$ 41 para R$ 48 (potencial de alta de 11%), as ações da Iguatemi tiveram a recomendação reduzida de compra para neutra. “Os fundamentos da Iguatemi permanecem intactos, mas vemos seu upside potencial limitado após a recente alta”, destacam. Manda e Hoon veem o seu valuation atual já refletindo em grande parte a nossa perspectiva positiva para a empresa após a alta recente (de 17,5% em maio), limitando o espaço para um upside mais robusto.
A brMalls (BRML3), por sua vez, teve a recomendação elevada de neutra para compra, com o preço-alvo indo de R$ 10,70 para R$ 13, ou potencial de alta de 16,3%, visto que veem a ação negociando em patamares atrativos.
“Ainda, reconhecemos o esforço dos executivos em fortalecer seu portfólio core (focado em manter somente os principais ativos) após o desinvestimentos de ativos de menor qualidade nos últimos anos. Como um primeiro sinal da nova estratégia, os números operacionais foram razoavelmente resilientes durante a pandemia, mantendo uma taxa de ocupação de 96,3% (queda de apenas 0,6 ponto percentual em comparação ao primeiro trimestre de 2020)”, apontam os analistas.
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Aliansce Sonae é top pick do BBI
Em comum com a XP, o Bradesco BBI possui recomendação equivalente à compra (outperform, ou desempenho acima da média do mercado) para a Multiplan, com preço-alvo de R$ 32 (upside de 24,7%), enquanto tem recomendação neutra para a Iguatemi, com preço-alvo de R$ 50, ou potencial de alta de 15,6% frente o fechamento de segunda. Já para a brMalls, a recomendação também é neutra, com preço-alvo de R$ 13,50 (potencial de alta de 20,75%), enquanto a sua ação preferida no setor é da Aliansce Sonae (ALSO3), com preço-alvo de R$ 39 para os ativos (ou alta de 30% em relação ao último fechamento de segunda-feira).
Bruno Mendonça e equipe, analistas do Bradesco BBI, destacam, além do momento positivo de reabertura, que os ativos ativos são de qualidade a aparente desconto, considerado o player mais propensos a realizar consolidações no setor e com uma combinação de operação resiliente e menor alavancagem. Os analistas apontam que a operadora de shoppings conseguiu sustentar taxas de ocupação saudáveis e uma geração de caixa positiva, mesmo em meio à pandemia.
Já sobre a Multiplan, os analistas destacam as vendas acima da média nos shoppings da operadora, fazendo com que haja uma disputa maior dos varejistas, além de citar novos empreendimentos e projetos multiuso para aluguel ou venda.
Com relação às empresas para as quais possui recomendação neutra, o BBI cita que a Iguatemi tem alta qualidade, sendo que seu portfólio é concentrado em poucos e bons ativos, muito resilientes. Contudo, esta característica também gera uma limitação em suas alternativas estratégicas. Outro ponto é que a empresa possui a maior taxa de desocupação, de 10%, entre todas as companhias de sua cobertura.
Já para a brMalls, os analistas veem como ponto positivo a mudança de estratégia nos últimos cinco anos para elevar a a qualidade média do portfólio, colocando a companhia em uma “posição melhor do que nunca”. Os números operacionais também foram razoavelmente resilientes durante a pandemia, mantendo taxas de ocupação saudáveis e sendo conservadora nas provisões para inadimplência, além de possuir uma ampla gama de iniciativas digitais realistas, com um foco claro na integração seus ativos com os consumidores. Contudo, a alavancagem mais alta pode gerar maior volatilidade em caso de novos fechamentos por conta da pandemia.
Assim, as perspectivas, no geral, estão mais positivas para o setor, mas os analistas ainda veem que algumas ações estão com um potencial mais limitado de alta.
Confira as recomendações dos analistas, de acordo com compilação da Refinitiv, para as ações de shoppings:
Empresa | Recomendação de compra | Recomendação neutra | Recomendação de venda | Preço-alvo médio | Upside (%)* |
Aliansce Sonae | 8 | 1 | 1 | R$ 34,31 | 14,40% |
brMalls | 7 | 4 | 1 | R$ 12,45 | 11,40% |
Iguatemi | 7 | 5 | 0 | R$ 43,40 | 0,40% |
Multiplan | 7 | 5 | 1 | R$ 26,60 | 3,70% |
*Em relação ao fechamento de 31 de maio
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