Previsões de curto prazo podem se tornar falhas para fazer investimentos

Pesquisa da Reuters mostra que quem apostou em uma tendência geral do mercado, em vez de ver suas especificidades, acabaram tendo rentabilidade menor

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Quando começa o ano, muitos analistas pelo mundo fazem previsões acerca de como será o novo período. Entretanto, de acordo com pesquisa realizada pela Reuters, a maioria dos analistas e gerentes de fundos acabam subestimando alguns fatores e falhando em suas previsões, apesar do esforço para prever movimentos nas principais bolsas de valores da Europa.

Segundo dados da Lipper, uma empresa do grupo Thomson Reuters, os onze fundos europeus com melhor desempenho ao longo dos últimos quinze anos, todas eles investiram em empresas individuais com fortes fundamentos em vez de apostar se todo o mercado irá subir ou cair. Estes fundos viram o seu valor crescer entre 150% e 500% no período, em comparação ao crescimento médio de 53% dos 290 fundos pesquisados.

“O ambiente macroeconômico ajuda a entender qual é a melhor forma de alocar o capital, mas eu não gastaria muito tempo olhando para as previsões dos índices”, disse Feras Al-Chalabi, cujo fundo de ativos Odey ficou em segundo lugar no ranking da Lipper.

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A reportagem destaca ainda que o principal problema dos gestores de fundos é que eles parecem se perder em meio às reviravoltas políticas e econômicas inesperadas que causam aumentos ou quedas drásticas no mercado. Alguns dos eventos podem ser razoavelmente previstos, mas os gestores não trabalham com cenários muito extremos, aponta a matéria.

Além disso, as expectativas se baseiam na crença de que as ações, de modo geral, tendem a subir ao longo do tempo. “Quando você perguntar previsões às pessoas, elas acambam se dirigindo ao resultado mais provável, o que retira a capacidade de pensar sobre cenários extremos”, afirma Greg Davies, chefe de finanças comportamentais e quantitativas no Barclays Wealth.

Desde 1997, a crença era de alta média de 8,7% ao ano para o índice FTSE da Grã-Bretanha e de 14,4% para o DAX da Alemanha, números estes bastante incompatíveis com o que realmente se deu. Ambos registraram perdas em cinco destes anos. Para 2013, as expectativas também são de alta para os índices de bolsa, uma vez que eles devem subir 8% com as projeções de melhora de crescimento da economia, segundo compilado pela Thomson Reuters.

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Além da percepção de que o mercado em geral sempre deve subir, há outro problema, de acordo com gestores. “Quando os especialistas observam o que os outros estão fazendo, pode haver algum tipo de efeito manada”, disse à Reuters Arnaud Servigny, chefe global de gestão de riquezas do Deutsche Bank.

Indicativo do mercado, mas às vezes falho
Entretanto, as previsões são um elemento-chave para os mercados financeiros, valorizadas por muitos como um indicador do sentimento de mercado. Para outros, as estimativas são um guia do que não irá acontecer.

“Um acionista pode ser bastante desapegado com relação às manchetes”, disse Sam Copper, cujo fundo de investimento está em segundo lugar no ranking Lipper. Ele somou suas posições no banco belga KBC no final de 2011, ano em que o preço das ações registrou forte queda e quando havia perspectivas sombrias para os papéis. Já em 2012, as ações subiram 168%.

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No ano passado, de acordo com a reportagem, os fundos de hedge globais que baseiam seus investimentos em visões macroeconômicas entregaram retornos negativos e aqueles que tentaram prever a direção do mercado tiveram desempenho inferior ao índice MSCI global em cerca de três vezes.

“O que a indústria deve fazer, em vez de uma previsão mais precisa, é pensar mais no longo prazo, em um horizonte de cinco a dez anos”, disse um gestor do Barclays, ressaltando que os gestores não podem agir como se estivessem com uma “bola de cristal de curto prazo”.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.