Preços mais baixos e investimentos acima do esperado: os fatores que pressionaram Klabin (KLBN11) e Suzano (SUZB3) na Bolsa

Segundo Goldman Sachs, os preços de papel na China têm mostrado tendência negativa, enquanto vê pressão de preços para celulose

Felipe Moreira

Foto: Klabin/Divulgação

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As ações das empresas de papel e celulose registram uma sessão de forte queda nesta sexta-feira (1), com Suzano (SUZB3) em baixa de mais de 2%, enquanto as units da Klabin (KLBN11) têm o segundo pregão de forte desvalorização. Os papéis KLBN11 caíram 6,25% (R$ 21,16) após baixa de 3,67% na véspera, enquanto Suzano (SUZB3) teve desvalorização de 3,76% (R$ 51,76) no mesmo horário.

O noticiário tem sido movimentado para o setor de papel e celulose, tanto no macro quanto no micro.

Conforme destaca o Goldman Sachs, os preços de papel na China mostraram no último mês tendências diferentes, mas principalmente negativas. Algumas linhas de produção, como sulfite e  papéis para higienização (“tissue”) caíram cerca de 150 iuanes a tonelada (t), enquanto os preços do papel gráfico aumentaram 110-200 iuanes/t (embora abaixo do aumento de 300 iuanes/t).

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A RISI, uma das principais fontes de informações sobre os mercados globais de papel, ainda tem falado que os armazéns dos distribuidores estão agora cheios e as carteiras de encomendas começam a enfraquecer sazonalmente.

“Acreditamos que a produção agressiva de papel da China nos últimos meses foi apoiada por exportações elevadas e pela reposição de estoques em um ambiente de aumento dos preços da celulose. Com o reabastecimento chegando ao fim, enfraquecimento sazonal da demanda e pausa no aumento do preço da celulose, esperamos que haja mais fraqueza nos preços do papel no futuro (e também alimente o potencial declínio do preço da celulose)”, avalia o Goldman.

Já para a celulose, o banco acredita que a pressão por preços mais baixos está aumentando, especialmente no ano novo chinês sazonalmente fraco e antes do início de um grande projeto de celulose em junho de 2024.

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Do ponto de vista das empresas, nos últimos dois dias, Suzano e Klabin divulgaram suas projeções de investimentos para 2024, com capex acima do esperado.

A Klabin divulgou na véspera suas estimativas de investimentos, sendo R$ 4,5 bilhões previstos para 2023 e mais R$ 4,5 bilhões ao longo de 2024. Em 2023, a maior partes dos aportes está dividida entre Puma II, com R$ 1,5 bilhão, e R$ 1 bilhão para continuidade operacional.

Já para 2024, grande parte dos recursos serão destinados para continuidade operacional, com previsão de R$ 1,3 bilhão e R$ 1,1 bilhão para compra de madeira em pé.

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Para os analistas, o grande destaque (com um viés ligeiramente negativo) foi o anúncio de um nível de investimentos ainda alto no curto prazo, acima do que era esperado pelo consenso. Essa elevação ocorre principalmente visando acelerar a execução do ramp-up da MP28 em 2024.

Para a XP, embora as indicações de custos e investimentos não tenham sido materialmente diferentes das suas estimativas, houve reação negativa do mercado por conta do aumento de preocupações sobre a geração de fluxo de caixa no futuro próximo devido a desembolsos de investimentos potencialmente maiores por mais tempo. “Reiteramos nossa visão neutra sobre a Klabin principalmente em relação aos níveis de valuation pouco atraentes”, avalia a casa.

Já o Itaú BBA cortou a recomendação para a unit da Klabin de marketperform (desempenho em linha com a média do mercado, equivalente à neutra) para underperform (desempenho abaixo da média do mercado, equivalente à venda) também devido a perspectiva de fluxo de caixa (FCF) limitado após a incorporação das novas projeções de despesas de capital e resultados mais fracos do que o esperado para 2024.

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Em termos de avaliação, Klabin sendo negociada a 7,8 vezes o Valor da Firma (EV)/Ebitda para 2024, o que parece ligeiramente esticado, na visão do BBA, além de um rendimento limitado de FCF de cerca de 2% de 2024 a 2026, “prejudicado pelos investimentos em despesas de capital para a nova caldeira na planta Monte Alegre e desembolsos de capital para madeira de terceiros no primeiro ciclo do Puma II”. Com isso, o banco reduziu preço-alvo de R$ 24 para R$ 22 ao final de 2024.

Com relação à lucratividade, o banco projeta Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de R$ 6,5 bilhões em 2024, uma redução de 6% em relação à previsão anterior, principalmente devido a resultados mais fracos do que o esperado nas divisões de papel e embalagem.

Para celulose, o BBA possui espera uma dinâmica decente entre oferta e procura e um ponto de partida mais elevado para os preços da pasta (embora inferior em termos homólogos).

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Já para papel e embalagem, “melhores volumes provavelmente mais do que compensarão os preços mais baixos na divisão de papel; espera-se que o segmento de embalagens apresente um melhor desempenho geral em 2024”, projeta BBA.

O Bradesco BBI, por sua vez, manteve recomendação neutra e preço-alvo de R$ 24, avaliando que a previsão de investimentos da Klabin entre 2023 e 2023 não foi bem recebida pelo mercado pois potencialmente levanta preocupações de que o fluxo de caixa da empresa possa ser prejudicado por maiores desembolsos de investimentos por mais tempo.

Durante o Dia do Investidor Klabin, a empresa também mencionou que o foco em 2024 deve ser na aceleração do PM27 e PM28 e na coleta de sinergias, pois ainda aguarda um momento macroeconômico mais favorável para submeter projetos à aprovação.

Em relação à dinâmica de mercado para os principais negócios, o BBI destaca que a Klabin espera que os preços da celulose se mantenham firmes nos níveis atuais pelo menos até a entrada em operação do Cerrado no 4T24, enquanto os preços do papel poderão apresentar uma recuperação no primeiro semestre de 2024.

Já a Suzano, maior fabricante de celulose de eucalipto do mundo, anunciou nesta sexta-feira previsão de investimento de R$ 14,6 bilhões, ante expectativa de desembolsos de R$ 18,5 bilhões neste ano.

A redução do orçamento ocorre principalmente pela queda nos desembolsos da empresa no Projeto Cerrado, a maior fábrica de celulose da companhia que está sendo erguida no Mato Grosso do Sul, informou a Suzano em fato relevante.

A previsão de investimento no projeto em 2024 é R$ 4,6 bilhões ante R$ 8,9 bilhões neste ano. A empresa, que programa o início das operações produtivas da fábrica para até junho de 2024, afirmou que um montante “residual” de R$ 500 milhões será investido na unidade em 2025.

Ao todo, o investimento do Projeto Cerrado é calculado pela Suzano em R$ 22,2 bilhões. Do total previsto para o próximo ano, R$ 7,7 bilhões serão destinados para a manutenção de instalações, enquanto o montante para expansão, modernização e outras atividades será de R$ 900 milhões.

O Itaú BBA destaca que os anúncios foram ligeiramente negativos para a Suzano. A projeção de investimentos está apenas R$ 600 milhões (4%) acima da estimativa da casa de R$ 14,0 bilhões, mas o BBA vê que as estimativas de consenso de mercado estavam oscilando entre R$ 13-14 bilhões.

“A principal divergência em relação aos nossos números foi o investimento em manutenção acima do esperado, principalmente devido aos maiores gastos florestais relacionados a arrendamentos, manutenção de rodovias e silvicultura, que reflete o aumento da área plantada da Suzano. Isso mais do que compensou os investimentos abaixo do esperado para o Cerrado (com R$ 500 milhões sendo adiados para 2025) e para projetos de eficiência e outros (R$ 300 milhões abaixo das estimativas do BBA)”, afirmam os analistas.

Mas o BBA vê que uma melhoria no perfil de geração de fluxo de caixa livre (FCF) está chegando. “Em termos absolutos, notamos a desaceleração significativa na implantação total de investimentos em relação aos níveis de 2023, o que por si só se traduz em um rendimento de FCF ‘adicional’ de 4,8%”, avalia o BBA.

O banco acredita que o perfil de geração de fluxo de caixa livre da Suzano melhorará significativamente a partir da segunda metade do ano que vem, dado o menor desembolso para projetos de crescimento e a contribuição para o Ebitda do Cerrado.

Olhando de forma setorial, o BBA segue com preferência por Suzano à Klabin, por conta do valuation e maior exposição da Suzano ao negócio de celulose, que acredita poderá continuar a surpreender positivamente os investidores com um comportamento de preços mais resilientes em 2024 e além.

O Morgan Stanley, por sua vez, segue com recomendação equalweight (exposição em linha com a média do mercado, equivalente à neutra) para SUZB3, vendo um perfil balanceado de risco-retorno, enquanto vê o guidance de investimentos 9% acima das estimativas do consenso e 4% além da projeção do Morgan.

(com Reuters)

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