Petróleo renova máximas de dez meses após cortes de oferta de Rússia e Arábia Saudita: o que esperar para a commodity?

Alta era esperada por mercado mas foi adiantada por cortes de Arábia Saudita e Rússia; previsão para preço médio do barril segue em US$ 93,00

Camille Bocanegra

(Crédito: Shutterstock)
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As cotações do petróleo renovaram máximas em dez meses nesta quarta-feira (6), um dia após a Arábia Saudita e a Rússia anunciarem uma nova extensão nos cortes voluntários de oferta até o fim do ano. A decisão trouxe alta dos contratos futuros do petróleo Brent em US$ 1 por barril, chegando a US$ 90 e também preocupou investidores, já que há expectativa de aumento de demanda nos meses de inverno.

Na decisão, a Arábia Saudita anunciou corte de produção em 1 milhão de barris por dia até o final do ano, de acordo com a agência estatal saudita de notícias, a Saudi Press. A Rússia apresentou redução de exportações de petróleo em 300 mil barris por dia até dezembro.

“Foi absolutamente uma surpresa”, disse Nadia Martin Wiggen, diretora do fundo de hedge Svelland Capital, focado em commodities, à Bloomberg. “Quando olhamos para o início do próximo ano após esses cortes, veremos níveis de estoques comerciais da OCDE em mínimos que não vimos, exceto em anos muito fortes.”

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Apesar disso, a consultoria Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) segue com a projeção de US$ 93 neste segundo semestre, com possibilidade de chegada à casa dos US$ 95 entre outubro e dezembro. O aumento do Brent até o patamar de US$ 90 era esperado por analistas mas o anúncio de prorrogação dos cortes adiantou a elevação.

“Ainda é prematuro definir o quanto isso vai afetar a média anual. Mantemos a previsão de US$ 93, mas pode ficar um pouco acima disso “, diz Pedro Rodrigues, diretor do CBIE.

Alta segue nas cotações de WTI e Brent

Neste cenário, as cotações do petróleo WTI seguem em alta, assim como as do Brent. Nesta quarta, o WTI fechou com elevação pela nona sessão consecutiva, ao passo que o Brent subiu pelo sétimo pregão.

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Os preços renovaram as máximas de 10 meses, com WTI (outubro) subindo 0,98%, a US$ 87,54, e o Brent (novembro), com alta de +0,62%, a US$ 90,60. Os benchmarks chegaram a subir US$ 1 mas reduziram ganhos.

No radar do setor, os estoques de petróleo bruto dos EUA enfrentaram queda de 2,1 milhões de barris na semana, desde 1° de setembro e refletem grandes retiradas impulsionando os preços, de acordo com especialistas ouvidos pela Reuters.

Cabe ressaltar que os preços da commodity inicialmente caíram com a temores com o aumento da taxas de juros e com o desenvolvimento da economia dos EUA após os dados do PMI de ISM ficarem em 54,5, ante expectativas de 52,5.

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Além disso, houve impacto no dólar, que subiu acima da máxima de seis meses registrada durante a noite. O Índice DXY (conhecido como “dólar contra cesta de moedas”) chegou a 105, ante os 104,9 alcançados a noite. O aumento também preocupa quando somado à elevação do petróleo, em especial para países detentores de outras moedas, como é o caso do Brasil.

Cortes esperados até outubro

Em agosto, a Arábia Saudita informou que o corte na produção de setembro poderia ser “estendido ou estendido e aprofundado”. Ainda assim, a expectativa era de manutenção dos cortes voluntários, instituídos em julho, até o mês de outubro mas a decisão pela ampliação do prazo surpreendeu investidores.

“A decisão pode funcionar, exceto se houver sinais muito fortes de crise ou de desaceleração da economia mundial. Por isso, vale acompanhar o comportamento da economia chinesa, que vem patinando, e dos mercados financeiros dos EUA, que andam ressabiados”, comentou Adhemar Mineiro, pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep).

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A decisão acompanha o movimento iniciado em junho de limitar o fornecimento de petróleo até 2024. A iniciativa partiu da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e de aliados como a Rússia, conhecidos coletivamente como OPEP+.

“A Arábia Saudita e a Rússia estão tentando dar as cartas nos preços, como sinalizaram há alguns meses. É a tentativa de manter o cartel”, entende Mineiro.

O pesquisador destaca que a tentativa de manutenção dos preços da commodity em patamares mais elevados pode ser frustrada pelo cenário da economia mundial. Em sua visão, não há segurança para tanto na conjuntura econômica: ““É um ambiente para pescadores de águas turvas”.

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“A notícia é favorável para os preços do petróleo, que devem começar a entrar em um período de menor demanda ciclicamente a partir de outubro. A decisão provavelmente leva em consideração os riscos contínuos de desaceleração na China”, entende o Bradesco BBI.

De acordo com análise do Goldman Sachs, as medidas trouxeram riscos de alta para a perspectiva de preços. Entre os cenários previstos pelo banco, está até mesmo uma projeção do Brent chegando a patamar acima dos US$ 100 por barril. O relatório destaca, contudo, que este não seria o cenário base.

Impacto para Brasil

O impacto para o cenário brasileiro dependerá, na visão de Mineiro, da flutuação de preços internacionais e da variação do dólar. O país, como exportadores de petróleo bruto e importador de derivados poderá ser favorecido se o dólar cair em relação ao real.

Nesse caso, poderá haver compensação do aumento de preços no mercado externo. Se isso não ocorrer, deverá haver impacto na inflação, em razão da dependência atual do diesel para toda a cadeia de preços da economia brasileira.

De acordo com a análise do BBI, nomes como PRIO (PRIO3), PetroReconcavo (RECV3) e 3R Petroleum (RRRP3) poderão se beneficiar com a notícia.

Os três nomes, contudo, fecharam em queda a sessão desta quarta-feira (6), com baixa de -1,47% para PRIO; -3,63% para PetroReconcavo e; -1,93% para 3R Petroleum.

(Com Reuters e Bloomberg)

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