Os movimentos do bilionário Luiz Barsi na pandemia de coronavírus e os bastidores da Bolsa por Finkelsztain

Escalada da Covid-19 em março de 2020 parou o mundo e causou seis circuit breakers na B3; entenda o caminho do vírus e as reações dos investidores

Anderson Figo

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SÃO PAULO — No dia 9 de março de 2020, o temor com o avanço do coronavírus e seu impacto nas economias globais, além da guerra do petróleo, derrubaram as bolsas pelo mundo. O Ibovespa teve um circuit breaker, uma paralisação automática dos negócios, quando atingiu queda de 10,02% na primeira meia hora de pregão.

No fim do dia, o índice fechou em baixa de 12,19%. Foi só o primeiro dia de caos nos mercados de uma série que viria. A escalada da epidemia de coronavírus na China e o colapso do sistema de saúde na Itália deixaram claro que a Covid-19 se espalharia pelo mundo todo.

O vírus desconhecido gerou num primeiro momento informações imprecisas ou até mesmo incorretas. Em 11 de março, o Ibovespa acionou outro circuit breaker após bater queda de 10,11% com a notícia de que a Organização Mundial da Saúde, a OMS, tinha declarado pandemia de coronavírus.

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No dia seguinte, 12 de março: pânico. O Ibovespa acionou um novo circuit breaker ao cair mais de 10%. Quando as negociações voltaram, o índice continuou em queda livre e acionou o segundo circuit breaker daquele dia, ao cair mais de 15%.

O Ibovespa ficou a um triz de uma terceira parada: no pior momento do dia, chegou a derreter 19,59%, indo aos 68.488 pontos — a menor pontuação intradiária até então desde 17 de agosto de 2017. Mas, no fim do dia, fechou com perda de 14,78%.

Outros dois circuit breakers foram registrados em março de 2020, nos dias 16 e 18, quando o Ibovespa fechou com baixas de 13,92% e 10,35%, respectivamente. No acumulado de março, o Ibovespa caiu 29,9%, perdendo mais de 30 mil pontos. Foi a maior queda mensal do índice desde 1998, em meio à crise russa.

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A pandemia do coronavírus é o tema do último episódio da primeira temporada de Os Pregões que Fizeram História. É possível seguir e escutar o programa pelo SpotifyAmazon MusicGoogle PodcastsSpreakerDeezerApple Podcats (iTunes)Castbox e Podchaser. Se preferir, faça o download do episódio clicando aqui.

“Nós aprendemos que era um vírus multissistêmico. O que quer dizer isso? Ele pode acometer praticamente qualquer parte do nosso corpo porque existem receptores para esse vírus no cérebro, no coração, no intestino, nos rins, ou seja, de tem o potencial de causar uma doença grave inflamatória”, explicou a médica Rosana Richtmann, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.

“O vírus é mais transmissível do que a gente imaginava lá no começo. O desenvolvimento de vacinas é, sem dúvida nenhuma, uma das grandes esperanças para combater a Covid-19. Desde o começo se imaginava que isso poderia ser uma boa estratégia. Muitas empresas, institutos e universidades perseguiram esse objetivo. São centenas de produtos que entraram na linha de experimentação”, afirmou Esper Kallas, infectologista e professor da USP.

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A escalada do número de casos no começo da pandemia derrubou as bolsas, mas os mercados se recuperaram ao longo de 2020 conforme eram anunciados avanços no desenvolvimento de vacinas e os governos estruturaram planos de reabertura parcial das economias.

“A surpresa não foi a reação dos mercados, mas sim o tamanho da crise. Acho que ninguém estimava que a gente estivesse diante de uma crise tão grande, com um desenvolvimento tão rápido”, disse Gilson Finkelsztain, presidente da B3. “Os mercados ficaram totalmente perdidos ao final de março e só foram encontrar algum rumo quase 60 dias depois, quando a gente começou o mês de maio. Ficou um pouco mais claro o diagnostico do tamanho da crise, quem seriam os vencedores, os muitos perdedores, e de alguma forma como é que a sociedade ia reagir”, completou.

O advogado e economista Luiz Barsi, o maior investidor pessoa física da B3, com mais de R$ 1 bilhão investido, enfrentou a crise com a sabedoria de quem já passou por diversas turbulências no mercado. Ele aproveitou a baixa dos papéis para comprar mais ações de empresas que julga ser bons negócios e, principalmente, que pagam bons dividendos (mesmo em momentos de crise).

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“O coronavírus teve uma conotação diferente das crises políticas, econômicas, financeiras e de credibilidade também. Ele afetou a população. Ele não afetou os meios de pagamento, ele não afetou exclusivamente às finanças. Ele afetou o cidadão, então ele gerou um clima de preocupação muito forte. Gerou problema de haver aglomeração de pessoas. Então isso afetou todas as áreas ligadas a isso, como aviação, transportes, turismo, as casas de espetáculos, os restaurantes, os shoppings”, disse. “O ser humano parou de consumir, parou de utilizar serviços.”

Thiago Salomão, analista e apresentador do podcast Stock Pickers, do InfoMoney, era responsável pela carteira da corretora Rico em março, quando o Ibovespa enfrentou seis circuit breakers. “Foi tudo muito difícil e tudo muito inesperado. Parece até que foi cinco anos atrás”, disse.

“Tudo o que a gente estuda de value investing, de investimento em ações com foco no longo prazo, é nessas horas que surgem as oportunidades. O problema é que o mercado continuou caindo, e as oportunidades que eram claras foram ficando cada vez mais chamativas. Mas aí também vem outra máxima do mercado que não é só comprar na baixa e vender na alta, mas o mercado pode ficar irracional por mais tempo do que a sua solvência aguenta. Em outras palavras você pode ficar insolvente antes de o mercado retomar sua racionalidade”, completou.

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O que sabemos sobre o coronavírus até agora pelas vozes dos médicos Rosana e Kallas, e os bastidores dos mercados no olho do furacão causado pela Covid-19, segundo o presidente da bolsa, Barsi e Salomão. Ouça o episódio acima.

Na segunda semana de dezembro de 2020, o mundo já registrava mais de 72 milhões de casos confirmados de Covid-19, com mais de um milhão e 600 mil mortes. No Brasil, eram mais de sete milhões de infectados, com mais de 183 mil mortes.

O país estava atrás apenas dos Estados Unidos em número de mortos, que tinham mais de 300 mil vítimas do coronavírus. Enquanto isso, o Ibovespa zerou seu desempenho acumulado no ano até então.

Sobre o podcast

Os Pregões que Fizeram História é o podcast do InfoMoney que conta bastidores de dias emblemáticos para os mercados, seja por uma queda drástica ou por uma disparada, através da voz de quem estava lá — ou de quem entende muito do assunto. Ele vai ao ar toda semana, sempre às sextas-feiras.

O Plano Collor e o congelamento da poupança em 1990, a mudança para câmbio flutuante e a maxidesvalorização do real em 1999, o investment grade do Brasil em 2008, a crise do subprime naquele mesmo ano que colapsou os mercados do mundo inteiro, o Joesley Day e a delação dos irmãos Batista em 2017. Esses e muitos outros momentos marcantes para a Bolsa brasileira estão na série.

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Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.