Os dois lados dos investimentos da Shein no Brasil para as ações das varejistas locais

"É verdade que capacita um novo entrante com poder de fogo, mas também nivela o jogo no mercado interno", aponta o Itaú BBA em análise

Lara Rizério

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No final da semana passada, a Shein anunciou seus planos de acelerar suas operações no Brasil nos próximos anos, com um investimento inicial de R$ 750 milhões, de forma a aumentar a quantidade de produtos de origem local. O anúncio ocorre no contexto de uma discussão sobre uma maior tributação (e fiscalização) pelas autoridades brasileiras sobre remessas internacionais de empresas estrangeiras de comércio eletrônico para consumidores locais.

O investimento será usado para estabelecer um moderno centro de produção têxtil no país, gerando até 100 mil novos empregos nos próximos três anos, segundo a companhia.

Como comparação, o Itaú BBA observa que a Lojas Renner (LREN3) investiu R$ 1 bilhão em capex em 2022, enquanto a Guararapes (GUAR3), dona da Riachuelo,  investiu R$ 600 milhões.

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A Shein também assinou um Memorando de Investimentos (MoU) com a têxtil Coteminas (CTNM4), descrevendo um esforço conjunto para cerca de 2 mil de seus clientes fabricantes de roupas para se tornarem fornecedores da Shein para os mercados doméstico e latino-americano. Inclui também financiamento para capital de giro e contrato para exportação de produtos domésticos. Além disso, a Shein reiterou sua ambição de ter 85% de suas vendas locais, 1P (estoque próprio) ou 3P (marketplace), até o final de 2026.

Para o BBA, este tópico traz diversas interpretações dado a sua complexidade. “É verdade que capacita um novo entrante com poder de fogo, mas também nivela o jogo no mercado interno”, aponta.

Isso pode ser um pouco negativo para os players domésticos de vestuário, no sentido de que o ambiente competitivo se torna mais desafiador. No entanto, o jogo agora será nivelado internamente; a Shein estará sujeita às mesmas leis brasileiras e estrutura regulatória.

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“Acreditamos que os players domésticos de vestuário estarão mais bem posicionados para competir localmente com a Shein”, avalia o BBA.

O banco também observa que o mercado brasileiro de vestuário também é altamente fragmentado (os analistas da casa estimam que os três principais players tenham aproximadamente 20% de participação de mercado, com o líder de mercado apresentando uma participação de um dígito alto até o final de 2021) e pode haver espaço para grandes players coexistirem daqui para frente.

Na mesma linha, o Goldman Sachs ressalta que, embora os planos de investimento da Shein possam significar maior concorrência direta para empresas locais como a Lojas Renner, dada uma certa sobreposição de públicos-alvo (e possivelmente também fornecedores), a construção de cadeias de suprimentos locais robustas, confiáveis e rápidas é um processo de vários anos.

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O varejo de vestuário do mercado de massa é dominado por players locais no Brasil, com fornecimento predominantemente local, ilustrando os desafios dos concorrentes estrangeiros para integrar o mercado em suas cadeias de suprimentos globais existentes ou construir cadeias de suprimentos locais com sucesso.

Ainda não está claro quanta vantagem de preço a Shein poderia reter se o fornecimento fosse transferido predominantemente para fornecedores locais. Para contextualizar,  hoje a Renner conta com cerca de 75% dos fornecedores do Brasil e o restante do exterior (principalmente da Ásia; com tributação total).

“Acreditamos que desenvolver uma rede forte e confiável de fornecedores locais (como a que a Lojas Renner possui) levará tempo e esforço. O mercado de varejo de vestuário do Brasil é dominado por empresas locais, com exceção notável da C&A (CEAB3), que entrou no Brasil há quase cinquenta anos”, avaliam.

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Os analistas também apontam que outras empresas como a Inditex, dona da rede de lojas Zara, construíram algum fornecimento local, mas enfrentaram desafios no processo e nunca escalaram totalmente a operação (o Goldman entende que a Inditex vende predominantemente produtos importados no Brasil).

Dito isso, embora tenham informações limitadas sobre o modelo de negócios da Shein, reconhecem que a empresa oferece uma abordagem diferenciada para fast fashion, aproveitando intensamente a tecnologia para identificar novas tendências de produtos, com estoques disponíveis limitados e prazos de entrega menores que a média. Os investimentos que a Shein está planejando no Brasil visam transformar a cadeia de suprimentos local para digitalizar mais processos e treinar a força de trabalho.

Já para a Genial Investimentos, com a maior concorrência, empresas de varejo como Marisa (AMAR3), C&A e Renner podem precisar comprometer margens para lidar com a nacionalização da Shein.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.