O resultado trimestral muda a decisão de investimento de longo prazo?

Para especialistas, um trimestre não pode ser usado para a tomada de decisão, mas pode detectar um desvio de projeções anteriores

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SÃO PAULO – Em 31 de janeiro os bancos Bradesco e Santander abriram a temporada de balanços do quarto trimestre de 2011 no Brasil. Durante um mês, os dados de geração de caixa, lucro e receitas movimentam o noticiário das companhias listadas em bolsa e o desempenho dos índices. Mesmo com tanta euforia, fica a dúvida: a avaliação de um único trimestre é capaz de impactar uma decisão de investimento de longo prazo?

“Para quem ainda não é investidor, um trimestre não pode ser usado para a tomada de decisão”, diz Ricardo Rocha, professor da Fundação Vanzolini. Em uma avaliação de longo prazo, no entanto, um trimestre pode ser o suficiente para identificar desvios nas premissas feitas quando o dinheiro foi investido, afirma Roberto Gonzalez, professor de governança corporativa na Trevisan Escola de Negócios.

“Uma empresa de capital aberto possui um compromisso de transparência nas informações. Quanto mais aberta for essa informação trimestral, mais fácil é entender sua estratégia e seus planos de crescimento. É importante também o compromisso de explicar, através de teleconferências, reuniões e encontros da Apimec (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais), os motivos que levaram a cada resultado”, afirma Gonzalez.

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Teoricamente, o lucro projetado para o ano é a soma dos resultados trimestrais. Mas os dados já são parte do passado. “Não basta olhar o lucro ou o prejuízo. O investidor precisa buscar informações de caráter estratégico e qualitativo”, diz Rocha. E para fazer isso, não há outro jeito senão colocar a mão na massa. Fazer a leitura dos relatórios, ver a consistência entre os valores projetados e os entregues, ser crítico. 

Revisar o preço-alvo faz sentido?
Há diversas formas para calcular o preço-alvo de uma companhia. Uma delas é o método de fluxo de caixa descontado, quando a geração de caixa dos próximos dez anos é trazida para o presente, com uma taxa de desconto. Em um horizonte tão longo, três meses, aparentemente, seriam pouco significativos para o recálculo do preço da ação.

“Para quem acompanha a empresa, seria um ajuste, não uma nova revisão”, diz René Coppe Pimentel, consultor do CEMEC (Centro de Estudos do Mercado de Capitais). Segundo ele, o refinamento das análises torna mais fácil trazer para centavos ou reais a mudança de perspectiva para a companhia após o balanço. “Depende muito do conhecimento do analista. Há analistas que são muito sérios e conhecem muito as companhias. Neste caso, se percebem uma mudança, devem sim fazer a revisão”, afirma Pimentel.

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Estratégias mudam com o prazo de investimento
Os tipos de análises e seus objetivos para o investimento em bolsa mudam de acordo com o prazo de investimento. Um analista fundamentalista está preocupado com a projeção de lucros, de dividendos, de fluxo de caixa; ou seja, fatos que podem surtir efeitos sobre as projeções das companhias no longo prazo. Já o analista gráfico busca o comportamento de curto prazo e a formação de preço no mercado, dando pouca importância à parte contábil, explica Pimentel.

“Os fatores macroeconômicos e políticos, ao lado dos balanços trimestrais, também são importantes para ajustar a rota esperada para uma empresa no caso de um investimento mais longo”, alerta Gonzales. Guerras ou crises podem mudar a projeção para quase todos os setores econômicos. “No início de 2011, era projetado um desempenho de 85 mil pontos para o Ibovespa, mas o cenário ruim levou o índice a fechar na linha dos 57 mil pontos”, compara. 

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