O que explica a queda de 10% do Bitcoin e para onde o preço pode ir agora

Analistas apontam que criptomoeda pode ir abaixo de US$ 30 mil, mas que visão de longo prazo ainda é positiva

Rodrigo Tolotti Paulo Alves

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Depois de chegar a esboçar uma alta para US$ 40 mil na quarta-feira (4) após a decisão do Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos) de aumentar em 0,5 ponto percentual a taxa de juros, o Bitcoin (BTC) engatou uma forte queda desde quinta, que chegou a 10%, perdendo o nível de US$ 36 mil, cenário que segue nesta sexta.

O movimento ocorre em meio a uma nova corrida de investidores para reduzir exposição a ativos considerados arriscados, e acompanha o comportamento das bolsas americanas.

Os motivos da queda seguem ligados ao receio de que a política de aperto monetário dos EUA e outros bancos centrais no mundo afetem o desempenho de ativos mais arriscados.

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“A queda do Bitcoin nas últimas 24 horas acompanhou a queda de todos dos ativos de ‘risco’ logo após a declaração do banco da Inglaterra, que prevê recessão e inflação de 2 dígitos para os próximos anos”, explica Bernardo Schucman, vice-presidente sênior da divisão de moedas digitais da CleanSpark.

Às 14h15 (horário de Brasília) desta sexta, o Bitcoin operava com queda de 2,6% no acumulado de 24 horas, cotado a US$ 36.102.

O início das perdas, porém, parece ter sido motivado por uma fala específica de Jerome Powell, presidente do Fed, na quarta. Em coletiva após a decisão do Federal Open Market Committee (Fomc), ele mencionou que existe disposição do Fed de tolerar uma recessão para reduzir a inflação. “Não hesitaremos em fazê-lo”, afirmou.

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Essa fala ocorreu após ele afirmar que não haveria uma aceleração na alta das taxas de juros e que isso não é algo “ativamente considerado”, o que chegou a animar os mercados, já que era amplamente esperado que no próximo encontro haveria um aumento de 0,75 ponto percentual, gerando uma grande confusão – e volatilidade – na interpretação dos investidores sobre os próximos passos.

“Houve uma completa perda de confiança em Wall Street”, disse o analista de mercado sênior da Oanda Americas, Edward Moya, ao CoinDesk. “O rali de quarta que elevou ações, criptos e todos os ativos de risco foi interrompido com investidores começando a ter dúvidas sobre a recuperação econômica global”.

Segundo Moya, Powell pode ter exagerado ao telegrafar a relutância do Fed em aumentar os juros em maior ritmo. “Ele mostrou aos mercados que pode não estar pronto para combater totalmente a inflação”, disse ele, acrescentando que o suporte de US$ 33 mil será fundamental para o Bitcoin e que a volatilidade semelhante aos últimos dois dias provavelmente se repetirá. “Não devemos nos surpreender se continuarmos a ver esses tipos de oscilações nos próximos dias”.

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Já, Schucman, alerta para um movimento ainda volátil nos próximos dias: “O preço do Bitcoin vai se comportar muito parecido com todos os ativos de risco, uma vez que o ativo é incluído nessa categoria por investidores e deve voltar a subir pós este momento de incerteza dos mercados em relação ao abastecimento de gás na Europa e quais os reflexos disso na economia mundial pós guerra”.

Para onde vai o Bitcoin?

Especialistas ressaltam que é difícil prever o movimento das criptos neste momento, mas seguem otimistas com o médio e longo prazo. “É muito difícil prever as volatilidades no mercado, principalmente no curto prazo. O que vemos é que independente do mercados, a aceitação e entendimento do mercado cripto só aumenta no Brasil e no mundo, o que é um ótimo sinal para o médio e longo prazo”, avalia Ricardo Dantas, CO-CEO da Foxbit.

Já para Alexandre Ludolf, diretor de investimentos da QR Asset Management, o movimento neste momento é “uma capitulação dos investidores ao cenário desafiador para crescimento e inflação que estamos vivendo”. “Mas acredito que as eficiências geradas pelas tecnologias descentralizadas e toda adoção de cripto que temos visto pelo mundo fazem desse setor uma das melhores apostas de inovação e tecnologia no médio prazo”, diz.

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Vale ressaltar que nas últimas edições do programa Cripto+, do InfoMoney, o analista Vinícius Terranova já vinha alertando que os gráficos do Bitcoin indicavam um cenário complicado, com os investidores mostrando pouca empolgação e deixando espaço para que os vendedores ganhassem força.

Pela análise técnica (veja mais no vídeo acima), o Bitcoin agora tem perdido suportes importantes e caso perca o nível atual entre US$ 35 mil e US$ 36 mil, poderá testar novos níveis abaixo de US$ 30 mil, podendo ir até US$ 28 mil, patamar próximo da mínima atingida em 2021.

Diante disso, especialistas ouvidos pelo InfoMoney ressaltam que, para os investidores com foco no longo prazo, quedas como essa podem abrir boas oportunidades, lembrando sempre que novas compras no mercado devem ser feitas aos poucos, durante o movimento de queda, e não tudo de uma vez só.

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“De tempos em tempos os sistemas tendem a expurgar os excessos, tentando sempre encontrar um novo equilíbrio. Em sistemas complexos e descentralizados, como no caso do Bitcoin, alguns gatilhos isolados podem desencadear esse expurgo, e, quando isso acontece, normalmente a volatilidade é muito grande, podendo ocorrer grandes quedas repentinas”, avalia Fred Biscaia, Co-CEO da Insignia.

“Já vimos isso acontecer várias vezes na história do Bitcoin, e grandes janelas de oportunidades costumam se abrir nesses momentos”, continua ele avaliando que o mercado não entrou em um mercado de baixa.

“O cenário econômico mundial é de subida nos preços e alto endividamento público e privado. Do outro temos a Web 3.0 e o mundo cripto em franca expansão, com novas aplicações sendo lançadas e projetos inovadores sendo propostos. É claro que sempre teremos o lado especulativo, momentos de stress e de alta volatilidade, mas no médio prazo ainda se sustenta um mercado de alta”, conclui.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.