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Tão discreto como um chimpanzé numa loja de louças, o Congresso faz movimentos que espera passarem despercebidos para tentar salvar a pele da maioria dos políticos encalacrados com denúncias de financiamentos irregulares de suas campanhas eleitorais – a sonhada (por eles) anistia para o caxia 2, caixa, caixa n, indiscriminadamente, à esquerda e à direita, ao norte e ao sul.
Está prevista para depois de amanhã e apresentação da proposta de reforma eleitoral aos cuidados do deputado petista de São Paulo, Vicente Cândido. Ela trará entre uma ou outra proposta positiva, como regras para reduzir a farra de multiplicação de partidos políticos no Brasil e um amontoado de excrescências, como o voto em lista fechada e o aumento desmesurado do financiamento estatal das campanhas.
Mas nenhuma tão escabrosa como está sendo a chamada “criminalização do caixa 2”. Parece coisa séria e foi tentada temos atrás de criticada pela opinião pública (e por isso abandonada então) quando se percebeu a manobra que ela escondia. A jogada é simples: como o caixa 2, segundo essa interpretação, não era crime, só passa a ser depois da lei, tudo que se passou antes disso não é irregularidade e portanto está livre de punição o político e o partido que dele se beneficiou.
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Movimentos como esse e outros, como do voto em lista, que no fundo é para garantir a reeleição da maioria dos parlamentares no ano que vem, mostra mais uma vez o quando o mundo político, por autismo ou por mero cálculo, está andando cada vez mais na contramão dos sentimentos e desejos da sociedade. Há dois mundos no Brasil: o dois políticos e o da opinião pública, que está com outros desejos, outras aspirações e outra visão da política, dos políticos e suas obrigações.
Devemos ao colunista Hélio Gurowitz, em seu blog no portal G1, a revelação de uma pesquisa feita pelo Instituto Perseu Abramo, o órgão de estudos do PT, com petistas da periferia de São Paulo, com o objetivo de entender a razão da acachapante derrota reeleitoral do ex-prefeito Fernando Haddad. Com nuances, é uma radiografia do que vai ela cabeça do eleitor brasileiro:
1) Não há luta de classes entre ricos e pobres – ao contrário, há empatia com empresários e patrões;
2) O inimigo é o Estado, ineficaz e incompetente. O mercado é mais confiável;
3) Há um “liberalismo popular”, com demanda de menos Estado – “se pago impostos, tenho direito de cobrar”;
4) Há identificação não com quem pertence ao mesmo grupo, mas com o grupo a que se almeja chegar;
5) A ascensão social está associada à coragem, ousadia, disciplina, mas acima de tudo ao mérito;
6) Estudar é fundamental para subir na vida;
7) O empreendedorismo é a aspiração de quem quer vencer pelas próprias forças;
8) Há um desejo por bens de consumo e, entre os jovens, marcas de status;
9) Há mais individualismo que solidariedade;
10) Religião e família são o centro da vida;
11) A igreja é vista como instituição de apoio para evitar o caminho do desemprego e do crime;
12) A vinculação entre política e religião é mal vista;
13) A política é suja e gera desconforto, mas influencia a vida – dos serviços públicos aos impostos altos;
14) A corrupção é o principal problema do país, de onde derivam os demais;
15) Não há lógica no uso de termos como “esquerda” ou “direita”, nem polarização – todos os partidos são iguais.
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Vale o alerta: o Paraguai não é aqui. Porém…
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