“Não faz sentido para o Sofisa fechar o capital”, diz diretor de RI do banco

Ricardo Simone fala à InfoMoney sobre investimento maciço para ampliar força de vendas e explica o foco em middle market

Julia Ramos M. Leite

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SÃO PAULO – Não é incomum que se comente no mercado que alguma empresa está planejando fechar capital – especialmente no caso de uma small ou mid cap, como são chamadas as empresas de menor porte listadas na bolsa.

Recentemente, rumores apontavam que o banco Sofisa (SFSA4) estaria se preparando para fechar o capital devido à baixa liquidez de suas ações e também pelas recompras por parte da instituição financeira. Em entrevista à InfoMoney, Ricardo Simone Pereira, diretor de Relações com Investidores do Sofisa, negou qualquer verdade por trás dos boatos.

“Certamente vamos continuar como um banco de capital aberto”, afirmou Pereira, atribuindo os rumores às grandes recompras de ações realizadas pelo banco para se aproveitar da cotação dos papéis. O executivo também destacou que, apesar de operar com segurança e baixa alavancagem, o banco também quer crescer – por isso, está com um plano de estratégia de crescimento na área comercial inédito em sua história. o executivo avaliou ainda os impactos do caso do banco PanAmericano (BPNM4) na empresa. Confira a entrevista:

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InfoMoney – Por que o banco optou por se focar em pequenas e médias empresas?
Ricardo Simone Pereira – Além de ser uma decisão antiga – há mais de 20 anos que o Sofisa atua nesse segmento, com prêmios de melhor banco de middle market e uma tradição construída em cima desse setor de pequenas e médias empresas – se você sabe trabalhar com essas empresas, você tem um setor que tem uma boa margem, e você consegue atuar como um banco de nicho.

Qual é a “receita de bolo”, vamos dizer, para atuar bem com pequenas e médias empresas? Você precisa ter um processo de seleção de crédito bastante cuidadoso. Como as empresas são pequenas e médias, elas não têm balanço, ou o balanço não reflete toda a realidade da companhia; você tem que conhecer detalhes operacionais que às vezes os balanços não capturam. Então, você tem que estar muito próximo do seu cliente, ter gerentes com experiência, que entendam o segmento e consigam trazer essas informações para que o banco possa analisá-las de acordo com critérios de crédito, capital de giro, ferramentas de crédito específicas do setor de middle market e trabalhar com garantias.

A partir do momento que você consegue aliar conhecimento do cliente com garantias reais líquidas, você consegue cobrar uma taxa razoável – porque são clientes que pagam uma taxa um pouco maior mesmo – e você tem um nível de inadimplência baixo. Então é um binômio vencedor: um spread relativamente alto e perdas relativamente baixas.

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Outra coisa interessante é que como é um setor de taxas mais altas, ele não é tão sensível a custo de captação. Temos um custo de funding um pouco mais alto, mas uma margem que cobre bem. Desde que você tenha paciência, disciplina, sistemas, investimento, para você capturar, entender, avaliar esses clientes pequenos e médios – ou seja, que tenham entre R$ 5 milhões e R$ 300 milhões – você dorme tranquilo.

Você está operando com uma carteira diversificada e pulverizada – só para dar alguns números, trabalhamos com 98% das operações com garantias reais, e mais da metade dessas duplicatas, que conseguimos trabalhar muito bem a checagem. Ou seja, você trabalha diluindo risco, não fica dependente de nenhum setor da economia e consegue uma margem boa. Isso é o que nos fez optar por continuar no middle e definitivamente parar de operar com consignado e financiamento de veículos.

A ideia do banco é não diversificar sua atuação, mas se focar no segmento de middle market?
O Sofisa tem uma especialização tão grande, já investiu bastante nos sistemas de controle de garantias e clientes, e continua investindo, então é um espaço onde o banco se sente bem. Não temos a pretensão de subir muito o target – como alguns bancos vêm fazendo –, trabalhando com clientes maiores. Por quê? Porque você tem que dar tickets maiores, operar sem tantas garantias como gostaríamos, e você fica muito mais dependente do seu custo de captação para poder fazer uma operação viável.

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Se eu for emprestar dinheiro para uma corporação, tem uma hora que meu spread será mínimo, e eu não vou conseguir remunerar corretamente o risco/ retorno da operação. Com clientes de middle, temos uma margem na faixa de 10% ao ano que é confortável para pegar qualquer oscilação do nosso custo de captação. Como trabalhamos com uma perda projetada abaixo de 2% na carteira, sobra uma margem bruta razoável, e o banco consegue trabalhar com menos alavancagem.

O setor de middle market tem menos concorrência?
Todos os setores têm concorrência, mas estamos satisfeitos em ser o terceiro ou quarto banco dos clientes, e não o maior banco de cada cliente. A empresa típica do segmento de middle é atendida por uma média de cinco a sete bancos: dois ou três bancos grandes e talvez três pequenos.

“Estamos satisfeitos em ser o terceiro
ou quarto banco dos clientes, e não
o maior banco de cada cliente”

E sempre sobra uma fatia para nós, porque quando o cliente vai se relacionar com o Sofisa, ele vai se sentir num relacionamento mais próximo com o banco do que com um grande banco, onde ele pode ser bem atendido, mas pelo gerente da agência ou pelo chefe da plataforma, no máximo, mas nunca pelo presidente do banco – e isso é uma vantagem importante em relação às grandes instituições. Conhecemos, de visitar, 85% dos clientes – de saber como ele opera, quais são as dificuldades e oportunidades do setor dele.

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Atualmente, o financiamento oferecido às pequenas e médias empresas é suficiente para a demanda?
Acho que teve desdobramentos importantes nos últimos anos, apesar da crise. Avaliamos que os prazos médios têm aumentado progressivamente, ou seja, também oferecemos operações de prazo mais longo atualmente para os bons clientes, até 48 meses. Notamos um amadurecimento do cliente em relação a técnicas de gestão, houve uma evolução importante do pequeno e médio empresário brasileiro nos últimos anos. Você sente as empresas mais profissionalizadas, entendendo melhor, utilizando mais tecnologia.

Então sim, há mais demanda, o BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) tem ajudado, mas de maneira geral, quando as coisas estão bem, como estão agora, a oferta de crédito está bastante presente – os grandes bancos também estão oferecendo dinheiro para as pequenas e médias.

O fato de que os desembolsos do BNDES devem cair em 2011 altera as perspectivas para o Sofisa no ano?
Quando a política fala de menos desembolsos, entendemos que se está falando de menos desembolsos monumentais como aqueles que aconteceram nos últimos anos, e não tanto reduzir empréstimos na faixa de empresas menores. Pelo contrário, acho que é possível ter mais eficiência emprestando mais para companhias menores e deixando de emprestar grandes quantias para empresas que podem recorrer a outros mercados, como debêntures, Eurobonds, capitalização.

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Como as medidas tomadas recentemente pelo Banco Central para esfriar a concessão de crédito devem afetar o banco?
Eu acho que o BC mostrou que não está querendo mexer no lado de criação de oferta – ou seja, está restringindo o crédito ao consumidor, especificamente em financiamento de veículos e consignado, mas não quer tirar a capacidade das empresas de investirem. As medidas que ele adotou podem afetar indiretamente o ritmo de atividade do Brasil, mas nenhuma foi para o setor de investimento e de empresas – o que ele fez muito bem, porque não se combate inflação cortando a oferta. Até porque as empresas estão investindo para atender a demanda. É muito claro que as medidas macroprudenciais que ele tomou até agora – e que deve continuar tomando – são mais no sentido de conter demanda do que mexer em financiamento para empresas, o que não seria bom.

As perspectivas para 2011 são positivas?
Estamos esperando um ano bom para o Brasil e obviamente para o Sofisa, tanto que estamos aprovando um plano de estratégia de crescimento na área comercial como nunca fizemos na história do banco.

“Estamos falando em contratar 40%
a mais da força total de vendas (…) 
Isso é bastante relevante para o banco”

Estamos falando em contratar 40% a mais da força total de vendas, ou mais de 60 gerentes ao longo de 2011, e abertura de no mínimo seis agências ou plataformas em 2011. Isso é bastante relevante para o banco, e dá uma ideia da importância que estamos dando para esse cenário de crescimento do Brasil, para as pequenas e médias empresas, que estão amadurecidas.

O empréstimo do Inter-American Development Bank está sendo usado nesse sentido?
O banco tem muitas fontes de captação – o IDB é uma delas. Para operações de longo prazo, ela é ideal, porque tem um prazo de três a cinco anos. Para o resto das operações, que são a grande maioria no banco, usamos a nossa fonte de captação natural, que é o CDB, que casa bem com o prazo que emprestamos contra duplicatas, por exemplo. Então sim, estamos usando, vamos demorar uns quatro meses ainda para poder alocar todo esse dinheiro em operações de longo prazo, e aí devemos voltar ao mercado com uma nova operação.

Há rumores no mercado de que o Sofisa estaria planejando fechar seu capital, e já estaria inclusive retirando ações do mercado com esse fim. Qual a posição do banco sobre esse assunto?
Certamente vamos continuar como um banco de capital aberto. O que talvez possa ter originado os rumores é que fomos muito ativos em recompras, até porque o preço da ação caiu muito e não achamos que ele está compatível com os fundamentos do banco, mas de maneira nenhuma pensamos em fechar capital.

“Fomos ativos em recompras porque
achamos que o preço das ações não está
compatível com os fundamentos do banco,
mas de maneira nenhuma
pensamos em fechar capital”

Pelo contrário, o banco sempre ganhou prêmios por transparência, e é uma condição que queremos manter, de estar reportando ao mercado e ter ação negociada em bolsa. Não tem sentido nenhum para o banco fechar capital. Pelo contrário, queremos entregar resultado para o acionista e ver o papel andar naturalmente.

E por que tantas recompras?
Quando o preço começou a cair abaixo do book value, aceleramos a recompra, porque vimos isso como oportunidade de reduzir o capital e remunerar o acionista de certa maneira. Mas estamos bem próximos do limite e 25% de free float, então não estamos com programa de recompra ativo. E fazemos questão de continuar visíveis na bolsa.

O Sofisa estuda a contratação de um formador de mercado para incrementar a liquidez dos papéis?
À medida que tivermos com a trajetória de resultados retornando ao patamar de rentabilidade anterior, nosso incentivo em ter um market maker vai aumentar muito. Talvez precisemos de mais um ou dois trimestres para consolidar que estamos voltando a uma trajetória boa de resultados para atrair mais atenção para o papel e certamente contar com uma instituição para ser market maker.

A receita e o lucro devem retomar em 2010 os patamares vistos em 2008?
O banco vai buscar esse patamar de rentabilidade ao longo de 2010, 2011 e 2012. Esse é o período que o Sofisa vai precisar para retomar o patamar de rentabilidade cheio, numa trajetória gradual de retomada de resultado. Esperamos que com esses investimentos que estamos fazendo na força de vendas consigamos até acelerar isso, mas projetamos um retorno ao patamar histórico de rentabilidade do banco, na faixa de 18% ao ano, até 2012.

Para 2011, acreditamos que esse processo de recuperação de crédito que vimos um pouco mais forte ao longo do terceiro trimestre deve continuar ocorrendo, porque como o banco opera com garantias, ele tem que lançar a provisão antes do tempo que ele tem para recuperar a garantia. Então, invariavelmente, estamos lançando agora as provisões de empresas e vamos entrar em regime de recuperação no final de 2010 e 2011. Já a carteira de varejo segue outro tipo de estatística.

A fraude envolvendo o PanAmericano teve algum efeito para o banco?
O fato de o Sofisa operar de uma maneira um pouco mais tradicional que o PanAmericano, no sentido de que não tínhamos dependência nenhuma de cessão de crédito, sempre operamos com estratégia de provisionamento bastante ajustada, não tivemos um impacto muito grande do PanAmericano. Acho que o mercado diferenciou de certa maneira os bancos que fazem mais cessão de crédito e os que fazem menos, os que operam com varejo e os que operam com empresas. Então o Sofisa, por só operar com empresas, sempre ter tido um planejamento de caixa alto, foi pouquíssimo afetado pelo caso.

A empresa tem diversas controladas, como a Sofisa Corretora de Seguros e a Sofisa Serviços Gerais. Há planos no sentido de incorporar essas controladas para simplificar a estrutura societária?
Não, na verdade cada uma cumpre bem o seu papel, não têm um custo associado muito grande. Não há nada acontecendo nesse sentido, acho que elas estão bem equacionadas, e na prática, não fazem muita diferença, é tudo tratado corporativamente, não onera na parte de estrutura.

Conheça mais sobre o Sofisa

O Banco Sofisa foi fundado em 1961, com foco em financiamento de pessoa física. Na década de 1990, o banco passou a se concentrar em pessoa jurídica, com destaque para as pequenas e médias empresas – segmento também conhecido como middle market. A preferência do banco são empresas com faturamento anual entre R$ 5 milhões e R$ 300 milhões.

Em março de 2010, o Sofisa vendeu a Sofcred para a GVI, controlada do Banco Fibra, além de alienar parte da carteira de créditos de suas operações de varejo, com o objetivo de concentrar os esforços no desenvolvimento de do middle-market.