Mudanças climáticas mais severas quebram safras e inflacionam alimentos

Problemas no clima foram os maiores responsáveis pelo recuo nas estimativas para a safra 2015/16

Datagro

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A maior frequência de mudanças climáticas mais severas vem aumentando a intensidade das quebras de safras, o que tem consequentemente levado ao encarecimento nos preços dos alimentos. “O aquecimento global vem transformando os eventos climáticos, deixando-os mais rigorosos. Isso afeta diretamente à agricultura, que depende de condições específicas para garantir a produção”, afirma Guilherme Karam, coordenador de Estratégias de Conservação da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, instituição que atua na agenda climática.

Clima reduziu estimativas da produção de alimentos no Brasil

Os problemas no clima foram os maiores responsáveis pelo recuo nas estimativas para a safra 2015/16, verificado nos mais recentes levantamentos dos dois principais órgãos que monitoram a produção agrícola no País. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) projeta que o volume de grãos deverá cair em relação ao registrado no ciclo anterior, devido à influência do fenômeno El Niño. A queda deverá ser de 0,4% para soja, 11,6% para o arroz, 8,4% para o feijão e 14,1% para o milho. Em seu mais recente levantamento, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), também reduziu a expectativa para a temporada 2015/16 em 9,5%. De acordo com a estatal, a colheita deverá cair de 207,7 milhões de toneladas em 2014/15 para 188,1 milhões/ton no ciclo atual.

Com estas quebras de safra, o consumidor já vem sentindo no bolso, desde o início do ano, o aumento de preços em diversos produtos agrícolas. O valor total da cesta básica subiu, em média, 8,32% nas capitais brasileiras no primeiro semestre, segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

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Karam explica que o aquecimento global tornou o El Niño — fenômeno climático associado com o aquecimento das águas do Pacífico entre dezembro e fevereiro — mais intenso neste ano, prejudicando a produção no campo em vários países, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). No caso do Brasil, Karam pontua que o El Niño ocasionou seca nas regiões Norte e Nordeste, e aumentou o volume de chuvas nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

Segundo Karam, no Rio Grande do Sul, por exemplo, algumas áreas ainda estavam alagadas no fim de dezembro, o que atingiu diretamente a produção de arroz. Os dois principais Estados produtores de feijão, assinala Karam, também sofreram os efeitos do fenômeno, com Minas Gerais tendo um veranico intenso no ano passado, e o Paraná registrando fortes chuvas no período de colheita do grão.

Cálculos da Agência Espacial Americana Nasa (NASA) indicam que, no primeiro semestre de 2016, a temperatura da terra foi 1,3 grau Celsius mais alta do que no fim do século 19. “Para minimizar os impactos das mudanças no clima, os governos devem criar e fazer cumprir políticas públicas direcionadas a uma economia de baixo carbono; as empresas precisam reduzir as emissões de gases de efeito estufa; e a sociedade deve fazer um uso racional dos recursos naturais”, acentua Karam.

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