Mercado parece mais calmo, mas duração de onda positiva ainda é incerta

Especialistas divergem quanto ao rumo do Ibovespa para a semana e alertam: não faltam referências para definir o sentido das bolsas

Tainara Machado

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SÃO PAULO – Os mercados acionários globais atravessaram uma semana positiva. O Ibovespa, por exemplo, subiu 1,33%, e encostou nos 68 mil pontos, enquanto os principais índices acionários em Wall Street acumularam alta próxima a 3% nos últimos sete dias. E isto a despeito dos fatores de instabilidade ainda presentes, como a intervenção militar na Líbia, o problema nuclear no Japão e frente a perspectiva de que um resgate à Portugal é iminente

Para Paulo Hegg, assistente de análise da Um Investimentos, no entanto, o ambiente para a bolsa ainda é nebuloso e é provável que os próximos dias ainda sejam de indefinição, com o Ibovespa mantendo-se na faixa entre 66 mil e 68 mil pontos. “Ninguém sabe a direção certa do mercado. Vimos uma semana positiva, mas acho que desempenho dependerá dos desdobramentos na Europa”, avalia. 

Para Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, a visão é mais otimista. Sem nenhuma surpresa negativa no Oriente Médio e no norte da África, os principais índices acionários podem estender as altas recentes para a próxima semana. “Acredito que poderemos contar com certo otimismo na semana que vem”, declara. 

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Resgate: precificado ou não?
Na visão de Rosa, um resgate à Portugal já é bem aguardado pelo mercado, até mesmo porque os prêmios cobrados para o financiamento da dívida do país nos últimos leilões de títulos mostravam-se cada vez mais altos, evidenciado a desconfiança do mercado da capacidade do país de honrar seus compromissos. 

Ainda assim, o que precipitou a imagem de que Portugal será obrigada a pedir ajuda financeira à União Europeia e ao FMI (Fundo Monetário Internacional) foi a crise política que se instalou no país com a votação contrária, por parte da oposição, de um programa de austeridade fiscal patrocinado pelo governo e liderado pelo primeiro-ministro José Sócrates. Com isso, Sócrates pediu sua renúncia e novas eleições devem ser convocadas para breve. 

Enquanto Rosa acredita que o efetivo pedido de socorro será uma incerteza a menos para o mercado, Hegg vê de maneira diferente a situação, e não acredita que os mercados atravessarão ilesos mais um país europeu em dificuldades irremediáveis de financiamento. Em sua opinião, é possível que novidades sejam anunciadas já neste final de semana, mas será preciso monitorar o noticiário, pois a crise da dívida na Europa poderá guiar o destino dos índices na próxima semana. 

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Drivers no mercado internacional
Outro driver importante, ainda no cenário externo, serão os dados do mercado de trabalho norte-americano. Na quarta-feira (30), o ADP Employment Report, que mensura as contratações no setor privado, será publicado. Nos últimos dois meses, o índice trouxe forte surpresa positiva, com mais postos de trabalho abertos do que o previsto. 

Já na sexta, as atenções estarão concentradas no Relatório de Emprego, que além da criação de vagas, também mede a taxa de desemprego. Rosa, da SulAmérica, lembra que o mercado de trabalho ainda é uma grande preocupação do Fed, embora a evolução dos dados deva continuar. Para Hegg, o mercado pode ganhar força com números positivos, mas uma surpresa negativa traria de volta à pauta a questão da recuperação lenta nos EUA, e por isto este é um dado bastante importante. 

Ainda na cena externa, os outros dois assuntos preponderantes são Líbia e Japão. Embora a reconstrução após o terremoto possa causar recessão no curto prazo, o que mais preocupa é o risco nuclear, com o vazamento de radiação em um dos reatores da usina de Fukushima Daiichi. No entanto, a situação parece sob controle, e não tem causado stress para os investidores. 

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Já a Líbia e a situação no Oriente Médio e no norte da África podem ser o fator surpresa da semana. Aparentemente, a ação militar para garantir a imposição de uma zona de exclusão aérea na Líbia por parte da coalizão ocidental foi bem sucedida em conter o avanço de forças leais a Muammar Gaddafi em territórios dominados por manifestantes. Ainda assim, até agora o ditador não deu sinais de que irá retroceder em sua resistência, e relatos de manifestações continuam a despontar na Síria, no Iêmen e no Bahrein, principalmente. 

Inflação é o assunto doméstico
No mercado doméstico, dois eventos ganham importância, e são relacionados ao tema mais debatido internamente no momento: a política monetária e as medidas macroprudenciais. Na terça-feira (29), o Banco Central deve publicar nota referente às operações de crédito realizadas em fevereiro, e a leitura desse relatório será importante para a avaliação do efeito que as medidas macroprudenciais adotadas em dezembro tiveram sobre a demanda por empréstimos. “Crescimento do crédito acima de 15% será mal visto e pode levar o Banco Central a adotar medidas não tradicionais de política monetária”, avalia o Itaú Unibanco. 

Mas para o Bradesco, se os sinais de que a economia está em processo de desaceleração – e um freio no crédito seria prova disso – continuarem a aparecer, ações desse tipo pela autoridade monetária não devem ser iminentes. No entanto, Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, avalia que os dados aliados ao Relatório de Inflação na quarta-feira (30) poderiam servir de base para a adoção de novas medidas no curto prazo. 

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A expectativa de que o Governo estenda a imposição de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre captações de empresas brasileiras no exterior deve ocupar a pauta doméstica, acredita o economista. A medida pode ter algum impacto sobre a taxa de câmbio, que está próxima ao piso informal estipulado pelo governo de R$ 1,65, mas nada radical, avalia.

Para Paulo Hegg, assistente de análise da Um Investimentos, o comportamento da inflação deve ficar no radar com a divulgação do IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado) e da produção industrial de fevereiro. 

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