Marcos Lisboa: “O setor privado é tão culpado quanto o governo. O BNDES gastou bilhões, para que mesmo?”

Para o presidente do Insper, as políticas fiscal e monetária estavam funcionando e a agenda de reformas avançava, mas, agora, há o risco de chegarmos em 2018 com a casa mais desarrumada

Paula Barra

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SÃO PAULO – O presidente do Insper, Marcos Lisboa, afirmou que o Brasil estava em uma trajetória de recuperação econômica com ajuste fiscal mais consistente, mas a crise política, desencadeada pela delação premiada dos executivos da JBS, travou esse avanço.

“As políticas fiscal e monetária estavam funcionando e a agenda de reformas avançava. Agora, temos o risco de chegar em 2018 com a casa mais desarrumada”, disse o economista em debate realizado na Expert 2017, evento promovido pela XP Investimentos. Participou também Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, e Zeina Latif, economista-chefe da XP (veja aqui a íntegra). 

“Hoje a agenda de Temer está mais com a do governo anterior, buscando conceder favorecimentos em troca de garantir sua sobrevivência. Enquanto isso, a agenda importante não andou”, disse o economista.

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Ele classificou como “preocupante” o fato de que no maior desemprego da nossa história a elite dos servidores fiscais tenha tido reajuste, enquanto apontou o dedo também para o setor público. “O setor privado é tão culpado por essa crise quanto o governo. O BNDES gastou bilhões de dólares, para que mesmo?”.

Para o economista, a reforma da Previdência é apenas uma solução para metade do problema e, se sair enfraquecida, a outra metade vira dois terços. Embora seja necessária, ele disse que é preciso realizar um segundo ajuste fiscal, de R$ 350 bilhões, ou 6% do PIB (Produto Interno Bruto). Para se ter uma ideia do que isso representa, comentou, “se o governo parar de gastar tudo o que ele pode, fechar hospital, ele tem R$ 120 bilhões. É quase três vezes menos [do que o ajuste necessário]”.   

Lisboa lembrou que os problemas enfrentados atualmente não são novos. “Estavam já em 2013, 2014. A eleição de 2014 foi uma negação, o debate político ignorava o problema fiscal e da Previdência”. Contudo, o economista afirma que, embora tenha ocorrido um avanço do debate econômico, ainda há uma resistência das corporações às mudanças, tanto no setor público quanto privado, e um silêncio da sociedade civil. “Se a sociedade civil não se manifesta, ela é cúmplice de seu fracasso. E não vamos ter um ajuste fiscal se não fizermos muitas reformas”, disse o economista (veja aqui a íntegra do debate).

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