Lua de mel de Trump com mercado está perto do fim, dando lugar a “medo primordial”, afirma Roubini

Economista, conhecido por suas previsões pessimistas, destacou seis motivos para isso

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Grande crítico do presidente americano Donald Trump mesmo antes dele assumir a Casa Branca, o economista e professor da Universidade de Nova York Nouriel Roubini – conhecido como Dr. Doom por suas previsões pessimistas de mercado (e também por ter previsto a crise de 2008) – fez mais críticas ao presidente dos EUA.

Em artigo para o Project Syndicate, Roubini afirmou que a “lua-de-mel” entre Trump e o mercado está perto do fim. No começo do seu texto, o economista aponta que o mercado de ações teve um expressivo rali após a vitória do magnata. As promessas de estímulos fiscais, desregulação de mercados como de energia e de serviços financeiros, além de redução de impostos contribuíram para o cenário de maior euforia. “No entanto, os espíritos animais do setor empresarial podem em breve dar lugar ao medo primordial: o rali do mercado já está ficando sem vapor, e a lua de mel de Trump com os investidores pode estar chegando ao fim. Há várias razões para isso”, afirma ele, ressaltando seis razões primordiais. 

Para Roubini, a política de Trump deve fazer com que a taxa de juros para os créditos de longo prazo continue a subir. Isso deve limitar o investimento e atingir setores mais sensíveis às taxas de juro, como é o caso do setor imobiliário. Além disso, o gasto com o pacote de estímulo fiscal do Trump pode acabar sendo muito maior do que os preços atuais do mercado sugerem. Por outro lado, considera provável que o dólar forte leve à destruição de mais empregos industriais, penalizando sobretudo o eleitorado operário de Trump.

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Uma segunda razão para os investidores conterem o seu entusiasmo é o espectro da inflação. Com a economia dos EUA já está perto do pleno emprego, o estímulo fiscal do Trump alimentará a inflação mais do que o crescimento. A inflação forçará então o Federal Reserve de Janet Yellen a subir as taxas de juros mais cedo e mais rapidamente, o que elevará os juros de longo prazo e o dólar ainda mais.

Em terceiro lugar, esta combinação de política fiscal excessivamente frouxa e política monetária restritiva apertará as condições financeiras, prejudicando os rendimentos dos trabalhadores e as perspectivas de emprego. Um governo já protecionista como o de Trump terá então de buscar medidas protecionistas adicionais para manter o apoio desses trabalhadores, dificultando ainda mais o crescimento econômico e diminuindo os lucros das empresas.

Em quarto lugar, as ações de Trump sugerem que o intervencionismo econômico de sua administração irá além do protecionismo tradicional. Ele já demonstrou sua disposição de alvejar as operações estrangeiras das empresas com ameaça de tributos de importação, entre outras medidas, afirma o economista. 

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Em quinto lugar, Trump está questionando as alianças que os Estados Unidos possuem, aproximando-se de rivais americanos como a Rússia e antagonizando importantes potências globais, como a China. “Suas políticas erráticas estrangeiras estão assustando líderes mundiais, corporações multinacionais e mercados globais em geral”, afirma. 

Por fim, Roubini destaca que Trump pode usar métodos para “controlar danos” que só pioram as coisas. Ele e seus conselheiros já fizeram pronunciamentos destinados a enfraquecer o dólar. “Mas falar é fácil e isso pode ter apenas um efeito temporário sobre a moeda”, afirma.

“Com certeza, as expectativas de estímulo, redução de impostos e desregulamentação ainda podem impulsionar a economia e o desempenho do mercado no curto prazo. Mas, como mostra a volatilidade nos mercados financeiros desde a inauguração de Trump, as políticas inconsistentes, erráticas e destrutivas do presidente terão seu impacto no crescimento econômico doméstico e global no longo prazo”, conclui o economista. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.