Lojas Renner (LREN3) salta 5,77%, Alpargatas (ALPA4) fecha em alta: o que explica o ânimo com as ações após os balanços fracos?

Além de avaliação de que números fracos já estavam precificado nas ações, visões de que principais problemas estão sendo endereçados animam mercado

Lara Rizério Augusto Diniz

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Os números foram fracos, mas as ações sobem. O movimento de ações neste sentido não é tão incomum durante a temporada de balanços mas, mesmo assim, intrigam muitos investidores.

Nesta sexta-feira (4), o movimento aconteceu particularmente com duas ações de consumo e varejo, Lojas Renner (LREN3) e Alpargatas (ALPA4), que divulgaram resultados do segundo trimestre de 2023 (2T23) longe de empolgar os investidores, ainda que ALPA4 tenha perdido o fôlego no fim da sessão.

Os ativos LREN3 saltaram 5,77%, a R$ 19,62, enquanto ALPA4 fechou em alta de apenas 0,89%, a R$ 9,09, mas ainda no positivo em uma sessão volátil. As ações ALPA4 saíram de uma queda de 6,88% no início do pregão para uma forte alta durante a tarde, que chegou a ser de 5,33%, para depois amenizar na reta final do pregão. Já na máxima do dia, LREN3 chegou a subir 8,63%.

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Um primeiro motivo para explicar esse movimento é a avaliação de que os números mais fracos já eram esperados e refletidos no desempenho das ações, não só nos últimos dias, como nos últimos meses.

No acumulado de 2023, as ações da Lojas Renner registram queda de cerca de 2%, enquanto a Alpargatas tem queda bem mais expressiva, de 38%. Em relatório desta semana, antes da divulgação de resultado, o Bradesco BBI destacou que, apesar de esperar números fracos, já avaliava como precificado, com queda de cerca de 9% nos últimos dois meses.

Apenas na véspera, as ações da Renner tiveram queda de 2,37%, enquanto as da Alpargatas tiveram baixa de 5,26% (após rebaixamento para neutro ontem pelo JPMorgan).

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Outro ponto é a expectativa de melhora nos próximos trimestres.

No caso da Renner, o braço financeiro Realize foi novamente o destaque negativo, mas houve indicações positivas em outras frentes.

No braço de varejo, os números ficaram praticamente em linha com as estimativas, mas com sinais de recuperação para o terceiro trimestre, de acordo com a administração da companhia, segundo apontou o Itaú BBA.

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A margem bruta de varejo caiu 220 pontos-base ao ano, para 53,9%, devido a descontos mais altos. Já nos próximos trimestres, conforme ressaltou o BTG, esperam-se custos de matéria-prima mais baixos, câmbio mais favorável e níveis de estoque mais normalizados, o que deve impulsionar as margens.

Já a Realize não atingiu as estimativas do Itaú BBA ao reportar um lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) negativo de R$ 54 milhões, afetado por uma piora nos indicadores de inadimplência.

Em relatório antes da abertura do mercado, o BBA destacou: “apesar dos resultados fracos, esperamos que os investidores se concentrem no discurso da empresa sobre suas perspectivas de curto prazo. Esperamos que os resultados no braço de varejo (a operação-chave do grupo) melhorem no segundo semestre, mas estamos preocupados que a situação da Realize possa se tornar ainda mais desafiadora”, ponderou.

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De qualquer forma, apontou ver LREN3 como a ação mais assimétrica em seu atual universo de cobertura de varejo, recomendando compra para o papel, com preço-alvo de R$ 27 ao fim de 2024.

Para o BTG, depois de um primeiro semestre fraco, quando os investidores repetidamente cortaram suas projeções para a Renner, as perspectivas para a segunda metade do ano parecem melhores, com sinais de demanda melhorando gradualmente nos últimos meses, inflação e taxas de juros mais baixas, além dos custos de matérias-primas mais baixos.

“Além disso, a lucratividade deve aumentar com as iniciativas que a companhia vem implementando, como otimizar as equipes de TI e reduzir os custos extras da migração do Centro de distribuição, apesar do ambiente ainda desafiador para as receitas da Renner e os números operacionais da Realize”, apontam os analistas.

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Enquanto isso, preocupações estruturais dependem da concorrência de players puramente digitais como a Shein (especialmente considerando a isenção de imposto de importação para plataformas internacionais) e a lucratividade muito menor no negócio de financiamento ao consumidor em relação aos níveis históricos.

Porém, apontam, a preços atuais, a Renner é negociada com um valuation atraente de 12 vezes o preço sobre Lucro (P/L) esperado para 2024, o que, juntamente com uma esperada melhora gradual na rentabilidade e uma confortável posição de caixa líquido, ainda justifica a recomendação do banco de compra para a ação.

Analistas do Santander apontaram ainda que o desempenho fraco da companhia no período era amplamente esperado e que agora, que o trimestre ficou para trás, o foco deveria se voltar aos comentários da administração sobre as tendências de melhoria em junho, com aumentos de volume e níveis de estoque adequados. Isso “poderia indicar um melhor começo para o segundo semestre de 2023”, disseram.

Por outro lado, a Genial Investimentos segue com recomendação de manutenção dos ativos, com preço-alvo de R$ 20,50. A casa de análise ressaltou que a empresa errou no sortimento, precificação e timing da troca de coleção de outono/inverno no 1º trimestre e que esses erros, junto ao cenário macroeconômico ainda restritivo para varejo discricionário, acabaram sacrificando parte da margem desse 2º trimestre.

Apesar de um fluxo de caixa livre maior (que pode ser explicado dado o menor nível de investimentos nas controladas, menor capex do período e otimização do contas a receber), a companhia mostra um resultado operacional ainda mais anêmico do que o apresentado no 1º trimestre – resguardado os impactos sazonais, avalia.

Além disso, apesar de entender que a partir do 2º semestre, a base comparativa começa a ficar mais interessante, mantém a recomendação neutra e cita que, ao analisar os acessos mensais dos apps de vestuário low price, vê a Shein ganhando espaço no mercado vestuário. “Ainda que não seja possível inferir sobre a conversão desses acessos em compras, continuamos a ver o consumidor ainda sensível a preço”, aponta. Nesta linha, ao InfoMoney, o diretor financeiro (CFO) da companhia, Daniel Martins, destacou que a varejista de moda pretende se posicionar mais em produtos de entrada, ou seja, mais baratos.

“Em release, a companhia sugeriu que a estratégia começou a trazer resultados em junho (a ver). Se acertada, essa estratégia poderia voltar a alavancar operacionalmente a companhia”, aponta a Genial, que ressaltou estar atenta aos movimentos da companhia.

Em teleconferência com os analistas sobre os resultados, o presidente-executivo da varejista, Fabio Faccio, disse esperar melhora operacional “contínua daqui para frente”.

Faccio afirmou que já se observa uma melhora no cenário de resultados desde junho, tanto em venda, como margem e despesas, e acrescentou que a previsão é de um segundo semestre melhor do que o primeiro, “ganhando em alavancagem operacional e geração de rentabilidade”.

Alpargatas: como anda a reestruturação?

Os sinais sobre Alpargatas , dona da marca Havaianas, já tinham sido dados. Conforme ressaltado acima, na véspera, o JPMorgan cortou a recomendação das ações por ver que a reestruturação da companhia ia demorar mais que o esperado.

“Ao longo dos últimos trimestres e com contínuas decepções, nós aprendemos que os processos internos da Alpargatas não eram bem coordenados, com a fábrica operando de forma um tanto independente do departamento comercial, enquanto a comunicação entre ambos também era ruim”, avaliaram os analistas.

Além disso, a Alpargatas enfrenta altos estoques no Brasil, com produtos que são marcados a preços de mercado mais altos do que os atuais, tornando caro acelerar o processo de redução de estoque.

Os resultados refletiram isso, enquanto que, em teleconferência, os executivos da Alpargatas trataram de dizer que o momento ainda é difícil e de mudanças de rumo, mas que as questões estão sendo endereçadas.

“Ao longo dos últimos quatro meses iniciamos o processo de turnaround da Alpargatas. Infelizmente os resultados do trimestre continuam sendo muito ruins, mas eles são reflexos dos ajustes que estamos fazendo”, disse Luiz Edmond, CEO da companhia, a analistas de mercado, logo na abertura da tele.

A companhia registrou prejuízo líquido consolidado de R$ 53,1 milhões no segundo trimestre de 2023, revertendo lucro de R$ 48,2 milhões de um ano antes. O Ebitda foi negativo em R$ 8,3 milhões no 2T23 ante resultado positivo de R$ 177,8 milhões no 2T22. Isso levou a uma queda da margem Ebitda de 17,6 p.p. (pontos percentuais), para -0,9%.

Ficou claro na apresentação a analistas que a companhia está focada principalmente em resolver a questão dos altos estoques da companhia.

André Natal, CFO, explicou que embora não seja possível precisar a duração do ciclo de redução dos estoques, o processo está em curso e que, à medida que o ajuste se complete, a performance de sell-in (vendas de distribuidores e varejistas) deverá andar mais perto da dinâmica de sell-out (vendas diretas ao consumidor).

“Qualitativo do estoque está razoavelmente ajustado”, afirma Natal, mas, segundo ele, a questão está na desconexão do sell-in e sell-out, já que o equilíbrio entre ambos é imprescindível para o negócio. “A gente estancou o crescimento do estoque e vai haver normalização (até o final do ano)”, acrescentou Luiz Edmond.

O cancelamento de ordens de 1,2 milhão de pares na Europa, afetando a reposição do verão no continente, é talvez o maior retrato dos problemas enfrentados pela Alpargatas no 2T23, que amargou um prejuízo líquido consolidado no período de R$ 53,1 milhões.

A Alpargatas atribui o resultado ruim na Europa aos problemas na mudança do parceiro logístico, que impactaram as entregas do primeiro trimestre, refletindo no 2T23.

A companhia informou que trabalha para reduzir entre US$ 80 milhões e R$ 120 milhões de custos e despesas. A redução virá de gastos com vendas, gerais e administrativas, e outra parte em despesas que compõem o custo de produção vendida (CPV).

“O ano que vem deverá ser bastante diferente”, crê André Natal. Luiz Edmond afirmou que o “o mercado em geral vem estável agora”. O executivo complementou que as lojas próprias têm surpreendido em volumes de vendas nessas últimas semanas. Inclusive, a empresa quer focar a melhora de vendas por esse canal.

O CEO da Alpargatas acrescentou que o plano de ação adotado pela empresa deve começar a surtir efeito neste segundo semestre. Há também expectativa das vendas de final de ano no Brasil equilibre os estoques da empresa.

Apesar da recuperação na sessão e de que as medidas tenham impacto nos próximos meses, analistas têm reiterado cautela com a companhia.

“No geral, mantemos nossa visão conservadora sobre a Alpargatas no curto prazo devido à falta de visibilidade”, aponta o Bradesco BBI, que tem recomendação neutra para a ação, com preço-alvo de R$ 9.

Por outro lado, apesar de enxergar um cenário desafiador nos próximos meses, avalia que a força da marca Havaianas deve ajudar a empresa a recuperar market share e margens históricas.

Na mesma linha, XP e JPMorgan reforçaram recomendação neutra para as ações.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.