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O mercado de varejo de moda passou recente por algumas grandes movimentações: o Grupo Soma (SOMA3), por exemplo, concluiu no ano passado sua fusão com a Hering, e a Arezzo (ARZZ3) vem avançando na compra de marcas, como no caso da Reserva e da Carol Bassi. A Lojas Renner (LREN3), maior varejista de moda do Brasil, mesmo com um caixa líquido de R$ 1,2 bilhão, aparenta não tanto interesse em seguir o mesmo caminho e prefere dar prioridade no desenvolvimento do seu canal omnichannel.
Em entrevista ao InfoMoney, Daniel Martins dos Santos, diretor executivo (CFO) da companhia falou sobre o resultado do segundo trimestre, divulgado nessa quinta-feira (4) e também sobre as perspectivas para o futuro.
“Nosso grande foco em M&A’s [fusões e aquisições, na sigla em inglês] está no que podemos fazer para acelerar nosso crescimento digital e o nosso omnichannel“, comentou o executivo. “A Uello, nossa aquisição mais recente, é, por exemplo, uma logitech que tem tudo a ver com nossa estratégia de oferecer multicanais. Estamos buscando oportunidades para acelerar nessa frente”.
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A logitech fundada em 2017 trabalha com um software de gestão de rotas, com foco na prestação de serviços logísticos e na melhora da entrega a clientes finais de médias e grandes empresas. Em julho do ano passado, a Lojas Renner havia comprado a Repassa, plataforma de brechó online, em sua primeira aquisição após realizar uma oferta de ações de quase R$ 4 bilhões em abril.
Segundo Santos, a ideia da companhia é, cada vez mais, avançar no conceito de uma loja multicanais. “O cliente pode começar no digital e terminar na loja física, ou começar na física e ir para o digital. Trabalhamos para criar a melhor jornada de compra possível”, diz.
Parte do plano da Lojas Renner é entregar no online muito mais produtos, uma vez que as lojas físicas são limitadas, e de forma cada vez mais eficiente, conquistando o público mais interessado em moda com maior diversidade e boa experiência de usuário.
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“O que observamos é que as pessoas voltaram a comprar no shopping, mesmo os clientes com presença no digital. Enquanto a loja física tem de 20% a 24% de todo o portfólio de roupas da companhia, de forma segmentada, o digital tem tudo. São esses clientes que queremos atrair”, explica Santos. “É nesse mundo, entre o físico e o digital, onde queremos investir.”
A Lojas Renner vem atuando também através do seu braço de venture capital, a RX, lançado em março deste ano. Há cerca de uma semana, a companhia fez seu primeiro aporte, na Logstore, que desenvolve soluções de tecnologia para o varejo.
“Pretendemos fazer aportes em startups que tenham um conceito que conversem com os interesses da nossa companhia. Nesse ecossistema é onde queremos estar. Há uma série de ideias e inovações com as quais queremos contribuir, e, se viável, fazer testes e pilotos nas nossas lojas”, explica o CFO.
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De certa forma, o investimento em tecnologia ajudou a Lojas Renner o resultado que trouxe no segundo trimestre, visto com bons olhos por analistas.
Entre os destaques, a alta de 1,1 ponto percentual da margem bruta, para 56,1%, e da Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações, na sigla em inglês) em 1 ponto, para 22,1%. O crescimento de vendas online, com volume bruto de mercadoria (GMV, na sigla em inglês), saltando 27,3% na base anual, para R$ 545,8 milhões, mesmo com a volta às lojas físicas, também chamou a atenção, bem como o desempenho das entregas online no segmento same/next day chegando a 48% no Rio de Janeiro e em São Paulo, e as entregas feitas em até dois dias, que foram a 45%
Há cerca de dois anos, a Renner implementou o push and pull, concentrando os estoques em centros de distribuição automatizados, que identificam produtos que estão vendo bem nas lojas e os repõem imediatamente. Neste ano, a companhia adotou a RFID, sistema de etiquetagem por radiofrequência que ajuda na gestão, controle, reposição e segurança de estoques – e que deve impulsionar os caixas de autoatendimento.
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“Tivemos vários ganhos de eficiência, principalmente no market down. Na indústria de moda, é muito importante o sucesso das coleções e a gestão do estoque, para não ficarmos com produtos velhos, sem sentido, e que posteriormente temos de liquidar com descontos altos”, diz o executivo.
O bom resultado no trimestre, para Daniel Martins dos Santos, teve um empurrão do fato de a companhia ter conseguido repassar custos e também de uma demanda reprimida do pós-pandemia. Mas, para o CFO, a Lojas Renner vem entregando uma boa dinâmica de crescimento na frente de dados, gestão de estoque e abastecimento.
“Estamos aplicando o digital na criação de moda, tivemos coleções feitas totalmente desta forma. Traz ganho de eficiência e agilidade em identificar tendências e rapidamente converter em produtos que chegam às lojas e é um dos pilares estratégicos que temos. Queremos coleções mais assertivas e que cheguem mais rápido ao consumidor”, diz Santos.
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Para o segundo semestre, a Lojas Renner espera continuar avançando em seus diferenciais operacionais, mas é mais cautelosa – o cenário macroeconômico mais difícil e a base de comparação mais apertada devem impedir um resultado tão bom quanto o visto entre abril e junho, apesar de Santos acreditar que um crescimento o dos primeiros três meses do ano seja palpável.
“Seguimos cautelosos, mas acreditamos que podemos ter um crescimento similar no primeiro trimestre, sendo que o segundo foi um ponto fora da curva. De qualquer forma, vemos que é um bom momento econômico para se ter uma posição de caixa sólida”, defende o diretor. “Teremos de continuar a trabalhar na assertividade de coleções, fazer produtos diferenciados e a ganhar preferência”.
Após ter investido R$ 393,7 milhões no primeiro semestre, a Lojas Renner pretende completar R$ 1 bilhão em aportes até o final do ano, planejando abrir mais 20 lojas.