Lojas Renner em busca de pechinchas? Quais empresas devem estar no alvo da varejista em meio à oferta de ações bilionária

Na avaliação da XP, C&A deve ser o principal alvo da companhia em uma aquisição estrategicamente positiva, mas outras compras não são descartadas

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A semana passada foi movimentada para o setor de varejo, passando desde a oferta (não-aceita) da Arezzo (ARZZ3) pela Cia. Hering (HGTX3) até os rumores (depois confirmados) de uma oferta de ações da Lojas Renner.

Considerando o preço de fechamento das ações na sexta-feira, de R$ 46,90 dos ativos LREN3, a oferta pode movimentar R$ 4,78 bilhões ou R$ 6,46 bilhões se considerado o lote adicional, o que abriu margens para muitas especulações sobre uma possível consolidação no setor de varejo de moda, bastante impactado pela pandemia.

Antes mesmo da companhia confirmar os termos da oferta, o rumor no início da tarde de sexta já foi suficiente para os ativos do setor registrarem fortes variações. Entre os destaques, a alta de mais de 8% da C&A (CEAB3) e da Guararapes (GUAR3), ganhos de quase 15% da Marisa (AMAR3) e de quase 7% da Cia. Hering, enquanto Le Lis Blanc (LLIS3) subiu mais de 5% após disparar mais de 17% na quinta-feira, com investidores analisando qual varejista a Renner levaria, enquanto o papel LREN3 saltou quase 12%.

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Danniela Eiger, Gustavo Senday e Thiago Suedt, analistas da XP, também destacam em relatório que, além das listadas, há ainda a possibilidade da companhia olhar para empresas fechadas, como Dafiti por exemplo.

Os analistas do Credit Suisse apontam ainda que, se as ações de vestuário tiveram uma reação positiva ao precificar uma consolidação potencial no mercado atingido pelos impactos das medidas de isolamento social dos últimos meses, o movimento deve persistir por mais algum tempo (ainda que, na sessão desta segunda-feira, os movimentos do setor não sejam muito significativos, com a maior parte dos papéis em leve queda em um movimento de realização dos fortes lucros).

“Nós esperamos que o entusiasmo dos investidores permaneça e as manchetes relacionadas a fusões e aquisições sejam formadoras de preços no curto prazo”, afirmaram Saragiotto e Pinto.

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Em última análise, eles esperam que tal entusiasmo supere até mesmo a decepção potencial nos resultados do primeiro trimestre que devem ser anunciados em 6 de maio, uma vez que a pandemia de Covid-19 ainda afeta as operações dessas companhias.

Victor Saragiotto e Pedro Pinto, analistas do Credit, apontam ainda que a oferta de ações anunciada pela Renner sugere uma mudança de atitude da varejista em relação a movimentos de aquisição e fusões, destacando que o follow-on deixará a empresa com um caixa significativo para partir para as compras.

“A Lojas Renner manteve uma abordagem discreta para os movimentos inorgânicos por muitos anos, mas esta oferta indica que a empresa pode estar mudando de postura”, avaliam. Contudo, eles ressaltam que, nesta fase, ainda não está claro qual tipo de ativo poderia ser um alvo, explicando, por exemplo, categoria complementar, empresas com canal digital mais forte, facilitadores em tecnologia, fintechs.

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Também citam abundância de possibilidades, dado o potencial forte de aumento patrimonial da companhia após a oferta comparado com o valor de mercado de empresas relacionadas ao vestuário, também citando a chance de uma aquisição de um grupo não listado.

Em relação à flexibilidade financeira adicional, eles estimaram que a oferta poderia elevar o caixa da empresa para R$ 4 bilhões a R$ 5,7 bilhões, o que representa um montante “considerável” tanto para aquisições como para aceleração de crescimento orgânico.

Para a Levante Ideias de Investimentos, a Renner parece ter enxergado uma oportunidade de consolidação no mercado, dado que a oferta vem no mesmo timing da Arezzo&Co pela Hering, que foi recusada basicamente por motivos de preço muito abaixo do que a gestão da Hering acredita ser o justo para a companhia.

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“As grandes empresas do setor de varejo de moda (Lojas Renner e Arezzo como as maiores em valor de mercado) estão despontando em relação às demais em termos de valor de mercado, abrindo uma janela de consolidação”, avaliam os analistas da casa de research. Só o valor da oferta padrão da Renner, apontam, é capaz de “engolir” na totalidade suas principais concorrentes, considerando o valor de mercado atual.

“As empresas do varejo de moda são as que mais foram penalizadas tanto nas operações como no preço de suas ações no mercado devido à pandemia e consequente restrição de suas atividades. Porém a rápida resposta com o investimento e integração das vendas e operação com canais digitais, além da recuperação dos resultados, vem gerando um descasamento entre os fundamentos de longo prazo e o valor de mercado destas empresas”, afirmam os analistas da Levante, que também esperam a continuidade de alta das ações do setor em meio às especulações.

Lojas Renner + C&A é a união que mais faz sentido?

Em caso de crescimento via fusões e aquisições, com relação às companhias abertas, a Guide Investimentos aponta que, com valor de mercado de R$ 4,2 bilhões, a C&A deve ser o principal alvo da companhia, visto que rumores sobre uma possível venda do controle surgiram recentemente.

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Em todo caso, Luis Sales, analista da Guide, não descarta que Lojas Marisa (R$ 1,6 bilhão em valor de mercado) ou mesmo Hering (R$ 3,8 bilhão) possam estar no radar da Renner.

Entre as possíveis ofertas, os analistas da XP também apontam que veem uma potencial combinação de Lojas Renner e C&A como positiva estrategicamente.

Em primeiro lugar, porque ambas atendem o mesmo público alvo (classes A-/B/C+), o que mitiga o risco de execução em relação a entender um novo tipo de consumidor.

Além disso, veem duas grandes fortalezas na C&A: (i) velocidade de lançamentos de coleções e forte atuação em novas tendências, inclusive através de collabs (associação com outras marcas ou nome de personalidades para fornecer diferentes serviços ou produtos para um certo público), que complementariam o portfolio da Lojas Renner; e (ii) atuação no digital, através do marketplace Galeria C&A e do social commerce, um complemento à visão da Renner de se tornar um ecossistema de moda e lifestyle.

“Nesse sentido, destacamos a campanha da companhia junto ao BBB, com passarelas digitais e vitrines de fácil acesso aos consumidores como iniciativas que demonstram sua força em seguir novas tendências não só de moda, mas de consumo de um modo geral”, avaliam Danniela, Senday e Suedt, da XP.

Já a principal lacuna em que a C&A tem trabalhado é a melhora da sua operação logística, o que é uma fortaleza da Lojas Renner e que poderia ser rapidamente endereçada sob a gestão da companhia, afirmam. “No entanto, destacamos que ainda não possuímos nenhuma informação concreta para ter uma opinião melhor fundamentada”, ponderam.

Sobre as outras possibilidades, eles veem desafios em relação a uma potencial integração com Marisa ou Le Lis Blanc pelas companhias atenderem públicos diferentes do atendido pela Renner (Marisa atendendo mais classes D/E e Le Lis Blanc mais classes A/B) enquanto ambas as companhias passam por um período de reestruturação das suas operações.

Portanto, acreditam que essas potenciais transações demandariam maior dedicação por parte da Renner, o que pode tirar o foco do seu planejamento estratégico de estruturar o seu ecossistema. A XP mantém recomendação de compra para a ação da C&A, com preço-alvo de R$ 18 por ação, enquanto tem recomendação neutra para Renner, com preço-alvo de R$ 50 por ativo.

Os analistas também possuem recomendação de compra para a Soma (SOMA3), com preço-alvo de R$ 17 por ação. Vale destacar que o grupo de moda, dono de marcas como Animale e Farm, informou em comunicado ao mercado na última sexta-feira que está avaliando uma combinação de negócios com a rede de moda feminina Shoulder, ressaltando que as negociações ainda estão em fase preliminar.

Assim, com tantas incertezas e especulações no mercado, a expectativa é de que o setor de varejo, durante boa parte da pandemia esquecido na B3, ganhe ímpeto, com as especulações sobre fusões e aquisições no setor ofuscando a temporada de resultados.

(com informações da Reuters)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.