SÃO PAULO — No dia 18 de maio de 2017, o Ibovespa chegou a cair 10,47% no intraday e gerou o primeiro circuit breaker da bolsa brasileira desde a crise de 2008. No fim do dia, o índice fechou em queda de 8,8%, o maior tombo diário desde 22 de outubro de 2008.
O dólar disparou mais de 8%, saindo da casa de R$ 3,14 para R$ 3,38. O motivo? O dono da JBS, Joesley Batista, gravou um áudio onde aparecia até o então presidente da República Michel Temer dando aval para comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha, que estava preso por desdobramentos da Lava Jato.
O aúdio fazia parte de uma delação premiada fechada entre Joesley e a PGR para reduzir sua pena por lavagem de dinheiro e corrupção. Muitos investidores deram como certa a renúncia de Temer e, por isso, o caos se instalou nos mercados.
O Joesley Day é o tema do terceiro episódio de Os Pregões que Fizeram História. É possível seguir e escutar o programa pelo Spotify, Google Podcasts, Spreaker, Deezer, Apple Podcats (iTunes), Castbox e Podchaser. Se preferir, faça o download do episódio clicando aqui.
“A gente estava vindo de uma virada de chave no Brasil. No final de 2015, houve uma perda de esperança completa dentro do país. Bagunça fiscal, inflação sem controle, Banco Central sem credibilidade nenhuma, nem se falava a palavra impeachment. Quando entrou 2016, e isso começou a ganhar corpo, a gente teve as manifestações (…), acabou que o governo em um processo de impeachment trocou”, contou Henrique Bredda, gestor da Alaska Asset Management.
“Entrou o Temer, e no primeiro dia, na hora que o Temer sentou na cadeira ele já veio com uma linha de conduta, uma promessa de reformas que o país estava ansiando há muito tempo. Começou a vir, não lembro da sequência, mas se falava na Lei das Estatais, teto de gasto, já estava se pensando na Reforma Trabalhista e a Reforma da Previdência estava andando”, completou.
A reação negativa no dia da delação refletiu o medo dos investidores especialmente com a possibilidade de o conteúdo exposto por Joesley Batista acabar com a chance de aprovação da tão promissora agenda de reforma do governo, a qual o mercado já esperava que fosse ser possível cumprir.
“A Reforma da Previdência é aquela bicicleta que você quer desde criança, aí parece que vai ganhar e não vem. Era um sonho do mercado por anos e anos, tanto que agora nos últimos tempos quando a gente conseguiu alcançá-la foi uma alegria, uma comoção. A Reforma da Previdência ter sido colocada em xeque é importantíssimo”, disse Luiz Nunes, gestor da Forpus Capital.
“Mas tem outro ponto que é bem importante. A gente estava vindo de um processo de melhoria institucional brasileira, muito comandado pela Lava Jato. (…) Era um momento de transição. Todo mundo acabou colocando um pouco em xeque também essa esperança. Com a saída da Dilma, veio um novo sentimento nacional de esperança: será que a gente vai conseguir melhorar o país de maneira mais institucional? E aí você vê o presidente Temer envolvido numa delação com caso de corrupção. (…) Essa desesperança pegou o mercado como um todo e foi aquele banho de sangue”, completou.
Na gravação de Joesley Batista, o dono da JBS solicitava ao presidente Temer o seu favorecimento para resolver uma pendência junto ao CADE, órgão que avalia as questões de concentração de mercado. Ao longo da conversa, discutiu-se o pagamento de propina, sinalizando um eventual esquema de corrupção.
Pelo teor da gravação, armavam-se ali todas as evidências para um impeachment de Temer, enterrando qualquer chance de que a Reforma da Previdência seria aprovada ainda naquele mandato. Temer conseguiu encerrar seu mandato em 2018 e a Reforma da Previdência foi aprovada em 2019, já no governo de Jair Bolsonaro.
Temer foi preso em março de 2019 em cumprimento de mandado expedido pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª vara federal criminal do Rio de Janeiro, dentro da operação Descontaminação, desmembramento da operação Radioatividade, no âmbito da operação Lava Jato, no estado.
Sobre o podcast
Os Pregões que Fizeram História é o novo podcast do InfoMoney e conta bastidores de dias emblemáticos para os mercados, seja por uma queda drástica ou por uma disparada, através da voz de quem estava lá — ou de quem entende muito do assunto. Ele vai ao ar toda semana, sempre às sextas-feiras.
O Plano Collor e o congelamento da poupança em 1990, a mudança para câmbio flutuante e a maxidesvalorização do real em 1999, o investment grade do Brasil em 2008, a crise do subprime naquele mesmo ano que colapsou os mercados do mundo inteiro, o Joesley Day e a delação dos irmãos Batista em 2017. Esses e muitos outros momentos marcantes para a Bolsa brasileira estarão na série.
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