Itaú (ITUB4) lidera transformação digital entre os “bancões”? Analistas destacam visão para empresa e ação após o Investor Day

Transformação digital e cultural, indo de uma visão do produto para visão do cliente, aparece como pilar central; analistas têm visão positiva para ativos

Lara Rizério

Aplicativo do Itaú
Aplicativo do Itaú

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Na última quinta-feira (15) , o Itaú (ITUB4) realizou o seu Investor Day, que trouxe os principais pilares da administração para o futuro do banco, contando com sessões abertas ao público de manhã e uma série de reuniões com analistas e investidores durante a tarde.

Foco em clientes de alta renda, alguma melhora nas condições do mercado de crédito corporativo e a integração da Rede em sua oferta bancária para pequenas e médias empresas foram algumas das principais mensagens do evento, de acordo com relato da equipe do Citi liderada por Rafael Frade.

Em relatório a clientes, eles afirmaram que o Itaú destacou no evento seu foco em se inserir na jornada do cliente, aumentando o engajamento e o “share of wallet” – quanto dos recursos do clientes estão sendo aplicados no banco.

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“A administração reafirmou a preferência pela criação de valor sobre ganhos de market share, reiterando seu guidance (projeções), embora reconhecendo pressões em algumas linhas, que poderiam ser compensadas pelos recentes ganhos de eficiência”, afirmaram os analistas do Citi, avaliando que, no geral, foi uma mensagem construtiva.

No caso específico do crédito corporativo, a percepção é de que o pior pode ter ficado para trás, segundo o relato do Citi.

“O segmento corporativo continua desafiador devido ao macro difícil e a eventos específicos durante o ano. Ainda assim, a administração permanece construtiva e otimista devido à sua recente integração de análise de dados qualitativos. Por enquanto, o apetite do banco está voltado para grandes empresas, com originação ainda fraca entre pequenas e micro empresas.”

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De acordo com Frade e equipe, o Itaú vê as expectativas de crescimento do PIB muito concentradas no segmento agro, enquanto a atividade geral não está realmente ganhando força, o que neste momento pode indicar crescimento de tarifas e crédito na extremidade inferior do guidance. Por outro lado, o custo do crédito e as despesas podem ter um desempenho melhor.

O Citi reiterou sua recomendação de compra para as ações, em linha com outras casas de análise após o Investor Day.

“Transformação digital e cultural continua sendo o pilar central” do banco, avalia a XP, apontando que o evento reforçou a sua perspectiva positiva em relação ao Itaú, especialmente, devido às transformações culturais e digitais em andamento, que devem permitir ao banco manter sua posição dominante em termos de eficiência, qualidade da carteira e disciplina na alocação de capital. “Como resultado, reafirmamos nossa visão positiva sobre as ações do Itaú, com uma recomendação de compra e um preço-alvo de R$ 34 por ação”, destacou a XP.

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O Goldman Sachs também reiterou recomendação de compra para os ativos, dada a sua rentabilidade sólida e consistente, avaliando que o banco navegou com sucesso no atual ciclo de crédito, resultando em uma boa lucratividade, que acredita estar ligada a suas abordagens racionais de negócios e gerenciamento de risco.

A Genial destacou que o Itaú está na frente em termos de jornada tecnológica entre os grandes bancos. “Para promover a transformação tecnológica, acreditamos que a transformação cultural era necessária. A quebra de visão produto para visão cliente é profunda. Para quem está do lado de fora, a leitura da transformação parece perfeita, mas a verdade é que não sabemos 100% o quanto disso é da boca para fora. Mas o fato é que o desempenho do banco tem sido consistentemente superior aos seus rivais. Assim, reiteramos Itaú como nossa preferência de longo prazo entre os bancos.”, avalia, tendo recomendação de compra para a ação ITUB4 e preço-alvo de R$ 33,60.

Por outro lado, o Bradesco BBI manteve sua visão cautelosa e seguiu com recomendação neutra e preço-alvo de R$ 29 para a ação ITUB4 após o evento. O BBI cita que a gestão do banco destacou um novo modelo operacional focado no cliente, além de observar melhorias e diferenciais recentes para o banco em relação às fintechs. Além disso, o Itaú se mantém conservador sobre o crescimento de empréstimos relacionados a pessoas físicas e jurídicas. Os executivos do banco acreditam que o Itaú deva ser capaz de entregar lucro líquido dentro de seu guidance para 2023, apesar de enfrentar desafios especialmente na frente de receitas.

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“Após o evento, nossa percepção é de que, embora o Itaú deva se beneficiar de possíveis cortes de juros em breve, sua administração ainda vê um ambiente macroeconômico desafiador e parece cautelosa em relação à dinâmica de crédito, especialmente relacionada ao crescimento dos empréstimos”, aponta o BBI.

De acordo com compilação da Refinitiv, de 17 casas que cobrem os ativos ITUB4, 12 recomendam compra e 5 recomendam manutenção, com preço-alvo médio de R$ 31,83, ou potencial de valorização de 11,5% em relação ao fechamento da véspera.

Confira abaixo os principais destaques do Investor Day do Itaú, segundo analistas.

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Mudança cultural, transformação digital e PME entre os destaques

“As discussões ressaltaram a importância da mudança cultural e da transformação digital para a evolução contínua do banco”, aponta a XP em relatório. Segundo a gestão do banco, a combinação da transformação digital com uma cultura centrada no cliente (mudando o foco dos produtos para os clientes) tem contribuído para um aumento no NPS (Net Promoter Score) entre os clientes.

“Acima de tudo, o Itaú entende que precisa reduzir a diferença, do ponto de vista tecnológico, em relação às fintechs e neobanks”, apontam os analistas.

Um de seus objetivos é implementar toda essa transformação digital numa velocidade maior do que o ritmo de envelhecimento da população, a fim de manter uma participação de mercado relevante à medida que a concorrência evolui.

Pedro Moreira Salles e Roberto Setubal, ambos co-presidentes do conselho de administração da empresa, reiteraram a importância da cultura da empresa no evento. O Itaú passou por uma forte mudança cultural nos últimos anos, junto com a entrada de um novo comitê executivo, e reforçada por uma pesquisa interna que apontava que 90% de seus colabores aprovavam uma profunda reformulação cultural, cita a Genial.

Segundo a casa de análise, a adoção da visão cliente nos parece estar mais adiantada para o atacado/grandes empresas e está sendo implementado em etapas para PME (pequenas e medias empresas) e o varejo (pessoa física).

“A implementação da visão cliente permitiu com que a empresa ficasse mais ágil e eficiente, com equipes distribuídas em comunidades, com maior integração entre as diversas áreas internas, otimização da jornada do cliente e aumento de satisfação. O resultado vem trazendo um usuário mais engajado, com aumento de receita e com menor taxa de churn. A transformação tecnológica permitiu a melhor interpretação de dados, ajudando o banco a compreender melhor as necessidades do cliente, aperfeiçoando ações preditivas e reativas (pré e pós-venda)”, aponta.

Segundo os executivos, aponta a XP, o Itaú deu maior ênfase aos clientes de alta renda. Embora isso tenha levado a uma perda de participação de mercado, a maior rentabilidade alcançada com os clientes Uniclass e Personnalité compensou amplamente.

“Os membros do comitê executivo destacaram que a mudança para uma perspectiva centrada no cliente nos últimos anos permitiu uma abordagem mais próxima e assertiva desse perfil de cliente, o que se refletiu em maior engajamento e, consequentemente, maior rentabilidade”, avaliam os analistas.

Enquanto isso, as PMEs podem ser um novo motor de crescimento. O banco afirmou ter se tornado líder de mercado nesse segmento, que representa 20% do lucro antes de juros (EBT) do Itaú e gera um sólido retorno ajustado ao risco do capital alocado (Risk adjusted return on capital, ou RAROC) de 35%. A administração ressaltou que o Mercado Endereçável Total (TAM, ou Total Addressable Market) potencial nessa linha de negócio poderia ser de 4 a 5 vezes a base de clientes atual.

O Itaú conseguiu conceder crédito a esse grupo com um índice de inadimplência controlado (inferior ao dos concorrentes) e ainda expandir sua carteira de crédito a uma sólida taxa de crescimento anual composta de 13% de 2015 a 2022.

A Genial ainda aponta que, com um time de 15,5 mil colaboradores em tecnologia, o management acredita que as mudanças tecnológicas estão trazendo bons frutos, como: melhora da velocidade em 40% em 2 anos; 10 vezes mais implementações em 5 anos; redução de quase 100% de incidências. Em tecnologia, os principais desafios são migração para nuvem, uso de dados, analytics, machine learning e inteligência artificial.

Um outro ponto é ter a inadimplência controlada como diferencial. Nos últimos trimestres, ressalta a XP, o Itaú superou a maioria de seus concorrentes em termos de inadimplência.

“Segundo a alta administração, esse resultado se deve em grande parte a um modelo de crédito bem estruturado, que incorpora aspectos comportamentais, bem como informações fornecidas por bureaus de crédito”, citam os analistas.

Os executivos foram questionados se o desempenho superior atual, aliado aos maiores desafios enfrentados pelos demais bancos tradicionais no controle da inadimplência, poderiam indicar que o Itaú poderia ser mais agressivo em termos de originação de crédito nos próximos meses. “No entanto, os executivos do Itaú pareceram cautelosos diante do cenário macroeconômico subótimo e reiteraram as diretrizes para o ano”, apontam.

(com Reuters)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.