IRB (IRBR3): Investor Day anima em meio à plateia de analistas “ansiosos”, mas o que isso significa para as ações?

Apesar de visão após o evento de que IRB está no rumo de voltar aos trilhos, analistas seguem cautelosos, levando em conta também salto da ação em 2023

Lara Rizério

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Enquanto as suas ações registram forte alta de mais de 60% em 2023, com sinais de recuperação das operações, o IRB (IRBR3) segue sendo alvo de cautela de analistas. Enquanto alguns esperam por mais visibilidade na trajetória de recuperação, outros consideram que o avanço dos ativos no ano já trouxe menos espaço para uma reação forte dos papéis.

Em meio a esse cenário, o Investor Day da resseguradora, realizado na última quarta-feira (30 de agosto) foi visto como um importante evento para entender os próximos passos da companhia.

O evento contou com a participação de praticamente toda a diretoria executiva e do CEO, Marcos Falcão.

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A avaliação geral dos analistas de mercado foi positiva.

“De modo geral, saímos do evento com boas impressões acerca da qualidade do time atual, da transparência e do caminho certo para um futuro mais rentável para a resseguradora”, apontou Matheus Amaral, analista da Inter Research.

Conforme ressaltou o BTG Pactual, “o evento contou com a presença de diversos analistas do buy e sell-side ansiosos para ter uma visão real de como funciona o IRB”.

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A equipe de análise ressalta que, além de Falcão, o novo CFO Rodrigo Botti estava presente, mas o destaque foi para a equipe operacional do IRB.

O banco ressalta que 19 executivos subiram ao palco, cada um compartilhando experiência em suas respectivas áreas, esclarecendo como o IRB orquestra seus processos e persegue seus objetivos de forma colaborativa. O evento mostrou como avalia e subscreve riscos, determina preços para seus produtos, traça estratégias de diversificação de portfólio, gerencia provisões e capital, e aloca recursos.

“Ficamos impressionados com a presença de numerosos executivos jovens mas experientes, inspirados pelo entusiasmo contagiante do seu CEO. Esta energia coletiva significa uma dedicação revigorada para colocar o IRB de volta nos trilhos”, avaliaram os analistas do BTG.

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A companhia deixou claro que segue com a estratégia 80/20, sendo 80% dos prêmios no Brasil e o restante no exterior dado o maior conhecimento do mercado local.

“Gostamos de entender que os times atualmente possuem metas atreladas ao índice combinado (métrica do setor indicativa de margem, quanto menor melhor) que gira em torno de 95% o esperado, além do LAIR, visando a rentabilidade dos contratos”, apontou Amaral, do Inter Research.

De acordo com o analista, ficou clara a mensagem de que a limpeza de portfólio foi feita entre os anos de 2022 e 2023, e dado o momento a companhia tem atuado com portfólio reprecificado e reajustado e deixando 2024 para uma estratégia de crescimento.

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“Um ponto a ficarmos atentos é a competição daqui para frente, tendo em vista que players internacionais têm voltado a olhar para a sua atuação no Brasil”, apontou. Contudo, foi mencionado pela companhia que ela deverá atuar em uma frente visando a equiparação regulatória destes players para atuar no país, tendo em vista que ocorrem assimetrias regulatórias entre os players locais e estrangeiros para atuação no país.

O BTG apontou que, durante o painel de preços, foi sublinhada a ênfase no cumprimento da meta do índice combinado, levando vários analistas a questionarem-se sobre as grandes diferenças, em termos de execução, entre as atuais e antigas equipes de gestão.

“Dada a forte presença de executivos que fizeram parte das duas equipes, obtivemos insights valiosos. Foi unânime o feedback de que os processos atuais são muito mais robustos e continuam a evoluir”, aponta o banco.

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O IRB agora pode monitorar os resultados financeiros com base em produtos específicos e os custos de proteção são integrados ao processo de subscrição, embora antes fossem ignorados. “Com a nova estrutura de gestão, a equipa de precificação tem um papel mais integral, oferecendo insights e participando ativamente no processo de subscrição – uma mudança operacional em relação ao passado. O chefe de precificação (14 anos no IRB) destacou a maior diligência nas práticas de subscrição em relação à antes”, avalia a equipe de análise.

Já sobre sinistralidade, o analista do Inter Research ressalta que a ideia do evento não foi dar um guidance, mas sim entender a dinâmica atual na geração dos negócios no IRB. Neste sentido, ficou claro que o foco de atuação dos times de subscrição e precificação voltados para a rentabilidade devem trazer efeitos positivos na sinistralidade da companhia, o que já é observado nos últimos resultados.

“Até mesmo no segmento rural – que passou por um ano estressado em 2022 por conta da maior seca registrada no país em 2021 – observamos que o IRB passou por aprendizados que trouxeram diversas mudanças nas estruturas do resseguro como redução do comissionamento, inclusão de cláusula de Loss Cap, aumento de taxa em contratos não proporcionais, além de ferramentas adicionais como modelo de simulação de perda máxima para catástrofes e relatórios climáticos”, avalia o analista do Inter Research.

Além disso, o IRB também identificou uma oportunidade de melhoria no relacionamento direto com o cliente, que pode ser mais automatizado e próximo ao cliente.

A companhia também deixou claro o trabalho de acerto da casa feito em 2023, o que deve deixar espaço para voltar a crescer em prêmios em 2024. Tendo em vista um portfólio maior no futuro, o IRB precisaria de maior nível de capital para suportar esse crescimento. “Neste sentido, o management ainda está estudando e decidindo o orçamento para 2024 o que deve trazer uma clareza maior, pelo menos até o fim deste ano, sobre como a companhia deverá crescer e ser mais rentável, o que deve ser uma premissa caso optem por levantar capital no futuro”, aponta.

Os índices regulatórios foram outro foco, apontou o BTG, com a equipe destacando o progresso nos requisitos mínimos de capital e na cobertura de provisionamento, refletindo melhorias recentes.

Nenhum guidance foi dado, mas eles estão confiantes em melhorias contínuas. A equipe responsável pelo passivo forneceu informações sobre diversos índices (PPNG, IBNR e PSL), aprofundando-se na forma como as provisões são avaliadas e descrevendo os principais componentes de cada índice. Também abordaram os impactos futuros, a partir de março de 2024, decorrentes da adoção das normas contábeis IFRS17.

Mas e as ações?

Apesar do evento animador, analistas seguem cautelosos com o ativo IRBR3, seja pela forte alta acumulada no ano, seja pela visão ainda de desafios no curto prazo.

O BTG manteve recomendação de venda para as ações, com preço-alvo de R$ 40 por ativo IRBR3, ou um valor 7% abaixo do fechamento da véspera.

“O evento mostrou que o IRB está caminhando na direção certa. Mas não esperamos que a recuperação seja tão rápida como a recuperação dos preços das ações deste ano”, apontaram os analistas.

Segundo o banco, o IRB ainda está encolhendo, o que é ruim para os números de subscrição (principalmente diluição de custos) e porque prejudica sua capacidade de gerar, reinvestir prêmios e produzir resultados financeiros.

“E com a queda da Selic, não prevemos recuperação rápida na linha de resultados financeiros. O balanço patrimonial melhorou, em termos de capital e provisões técnicas, graças aos lucros e à referida retração. Mas, e apesar da queda de quase 10% desde o nosso rebaixamento, no dia 23 de julho,  o valuation permanece pouco atraente, levando-nos a reiterar nossa recomendação”, apontou.

Já o Inter tem recomendação neutra para os ativos, ainda que com preço-alvo menor, de R$ 36 (16% abaixo do fechamento da véspera), para a ação. “Ainda esperamos desafios no curto prazo já que até o final do ano a companhia ainda deve ver retração nos prêmios e há uma questão para 2024 a ser decidida sobre uma possível nova emissão, desta vez para suportar uma estratégia de crescimento nos prêmios”, aponta.

O Citi, que também participou do evento, manteve recomendação neutra para os ativos, com preço-alvo de R$ 40. Cabe ressaltar que, em agosto, o banco americano elevou a recomendação de venda para neutra, fazendo os papéis saltarem 12% no pregão do dia 16 do mês passado.

Assim, apesar dos sinais positivos, a cautela segue predominante para os analistas. De acordo com compilação feita pela Refinitiv, de 6 casas que cobrem o papel, 3 recomendam manutenção e 3 venda, com preço-alvo médio de R$ 36,92 (valor 14% abaixo do último fechamento).

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.