Integral espera crescimento de cerca de 25% em emissões de FIDCs para 2010

Fundador da gestora falou de planos para o futuro e contou um pouco mais sobre a formação do mercado de securitização no Brasil

Tainara Machado

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SÃO PAULO – A quebra do Banco Nacional, em 1995, gerou insatisfação entre os acionistas e revolta em relação à percepção de que fraudes haviam sido cometidas na gestão dos ativos da instituição.

Mas, além disso, o desaparecimento de um banco grande gerou um problema objetivo para instituições de menor porte, explicou Carlos Fagundes, um dos fundadores da Integral Trust.

Aqueles que zeravam suas posições em grandes empresas do setor financeiro pelo interbancário não tinham para onde correr. “Tínhamos que achar uma alternativa para um problema concreto, que era o financiamento dos bancos de menor porte”, contou Fagundes, em entrevista exclusiva ao Portal InfoMoney. Na época, ele, que já foi CFO (Chief Financial Officer) do Chase e fundador do Itaú Leasing, era presidente do ABBC (Associação Brasileira dos Bancos Comerciais). Era preciso, então, criar outros mecanismos de captação.

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Assim surgiu o embrião das discussões técnicas que deram origem à oferta de produtos de securitização financeira e FIDCs (Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios) no Brasil. Durante a entrevista, Fagundes falou sobre a área, os desafios na estruturação de um produto destinado a investidores qualificados e a regulação desse mercado no Brasil, além da formação da Integral Investimentos, que tem sob gestão cerca de R$ 2 bilhões. 

Portal InfoMoney: O foco exclusivo da Integral Investimentos se dá nos mercados de crédito estruturado e securitização. Gostaria que o senhor explicasse melhor como é a atuação de vocês nesse segmento?

Carlos Fagundes: Bom, em primeiro lugar veio a Integral Trust, há dez anos, em que começamos o negócio de risk management. A parte de gestão de riscos financeiros nos bancos era uma coisa muito nova no Brasil, então a primeira atividade foi nesse segmento de risco de mercado.

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Mas, naquela época, eu via um problema concreto, como vice-presidente da ABBC, que era o desenvolvimento de mecanismos de captação para os bancos em uma época em que havia acabado o interbancário.

Após a quebra do Banco Nacional, discutimos com o Banco Central a criação de outros mecanismos de captação. Foi desse embrião de discussões técnicas que surgiu a securitização interfinanceira, que mais tarde deu origem aos FIDCs.

A partir disso, comecei a discutir com o Bruno Amadei, meu primeiro cliente na gestão de risco, a implantação de um FIDC lá no banco BMG. A operação foi muito bem sucedida e acabamos tendo uma parceria muito intensa, com um segundo e um terceiro fundo, e em determinado momento o Bruno se juntou a nós, como sócio do Integral. Nessa época, fazíamos apenar a parte de estruturação dos fundos. 

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Com o passar do tempo, as demandas foram aumentando e, naturalmente, começaram a aparecer outras necessidades. Os clientes que estavam desenvolvendo um fundo para captar recursos precisavam, em sua implementação, atender certos requisitos para a obtenção de ratings mais elevados, como triplos A. Para isso, as agência de classificação de risco exigiam estruturas um pouco mais padronizadas.

Para tratar desses casos de estrutura mais complexa, a nossa asset, que se chama Integral Investimentos, passou a atender clientes, bancos ou grandes corporações, para cumprir as necessidades operacionais necessárias à obtenção de notas mais elevadas. Essa nossa gestora já tem cinco anos, com cerca de R$ 2 bilhões sob gestão. E nosso produto chefe são os fundos de direitos creditórios. 

“Somos uma gestora focada nesses
instrumentos de securitização olhando para crédito”

O que ocorreu foi uma migração natural do trabalho de estruturação estritamente de FIDCs com a necessidade que nossos clientes tinham de um atendimento mais personalizado. Somos uma gestora focada nesses instrumentos de securitização olhando para crédito, mas temos também algumas atividades com fundos imobiliários, que é uma variante não muito distante dos fundos com que trabalhamos. O nosso dia-a-dia é esse, captar recursos no mercado via esse empacotamento de fluxos de recebíveis, seja para bancos ou grandes corporações.

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Na estruturação, como vocês definem os critérios de escolha desses recebíveis, da gestão de risco desses produtos?

É um trabalho caso a caso, específico para cada situação, porque quero resolver um problema objetivo. Tem uma premissa: é necessário haver uma carteira de recebimentos, que podem ser prestações de vendas de produtos ou de bens e serviços financeiros. Além disso, deve haver um mercado do outro lado.

E nós somos o intermediário desse desejo do banco de captar recursos em condições vantajosas e aquilo que o mercado está disposto a comprar. Olhamos condições de originação, integridade dos processos, histórico de pagamento, processos de cobrança e temos uma experiência razoável, sabemos o que os investidores de portfólio, principalmente, têm como base de avaliação, e ajustamos a estrutura do FIDC a esse desejo do investidor.

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Já participamos de mais de 40 transações em que nós estruturamos, registramos na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e ajudamos na colocação, das quais uma parte relevante, porém não muito grande, ficou aqui sob nossa administração.

Como é a demanda pelos FIDCs, o mercado tem conhecimento sobre esse tipo de fundo?

No início era um assunto muito nebuloso, e isso já começa pelo nome, um anglicismo. Além disso, a experiência é muito recente, a regulação desse segmento tem cerca de oito anos.

Como todo produto novo, demanda um processo de divulgação, explicação do produto para investidores, de um lado, e para o próprio originador que quer captar recursos por esse mecanismo, pois caso não seja bem cuidado, pode virar um problema no dia-a-dia da empresa ou do banco.

Para o investidor, fazemos um trabalho operacional e técnico: damos a adequada explicação sobre os fatores de risco e as blindagens que serão criados no sentido de oferecer o menor risco e, portanto, melhor rating para a operação. E com o trabalho e a experiência começamos a ter um razoável conhecimento sobre o que funciona de maneira mais otimizada, para ambas as perspectivas.

Existe uma característica comum entre os FIDCs oferecidos pela Integral, como rentabilidade ou taxa de administração? E qual é o perfil dos clientes que procuram esse tipo de investimento?

Pela natureza dos fundos de direitos creditórios, o regulador entendeu que, na largada, é um produto elegível apenas a investidores qualificados, ou superqualificados, com aplicações mínimas da ordem de R$ 300 mil até R$ 1 milhão, para os superqualificados.

Não estamos lidando com investidores de varejo, mas de portfólio. Uma transação dessa natureza tem um patrimônio não muito inferior a R$ 100 milhões para cada emissão. É um investidor que tem competência técnica para entender o que está comprando. E são aplicações de médio e longo prazo, com um período de três anos como o mínimo em geral.

Mas as cotas seniores são muito seguras, os ratings são elevados, na casa de duplos e triplos A. A taxa de remuneração tem sido, numa cota sênior, de 115% a 120% do CDI, nesses ratings mais elevados. Isso como regra geral. Temos também transações muito especializadas que poderão ter um risco maior e um retorno maior também.

Em quais nichos há as melhores oportunidades de securitização e crédito estruturado?

O grande volume de recebíveis securitizados é do setor bancário, por um motivo simples: é um setor cujo negócio é fazer carteira de recebíveis de médio e longo prazo de forma padronizada e com processos de originação muito sistemáticos. E são essas instituições também que possuem o maior estoque de recebíveis de longo prazo.

Outros setores também começam a despontar de forma bastante relevante, como o industrial, por exemplo, que iniciam a captação de recursos via cessão de recebíveis com um crescimento mais acelerado. O setor de comércio, um pouco menos, e o agrícola acabam ficando com emissões mais especializadas, pois os investidores de portfólio ainda não conseguem entender muito bem a dinâmica do agronegócio.

Já o setor imobiliário ainda utiliza mecanismos de securitização como o CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários), e os pacotes são de pequeno vulto, com uma proporção de 1:8 entre as emissões do setor imobiliário em relação ao total de FIDCs. Além disso, os bancos que financiam imóveis ainda contam com o recurso de financiamento pela caderneta de poupança. Mas a médio prazo, esperamos crescimento desse setor na participação dos fundos de direitos creditórios.

E como evitar que a securitização desses ativos, como aconteceu nos EUA, gere problemas de alavancagem? A regulação aqui é melhor?

Embora tenhamos começado bem mais tarde, já que o negócio de securitizações nos Estados Unidos existe há muito mais tempo, nós começamos bem, porque começamos com uma estrutura de governança muito bem montada. A estrutura da securitização no Brasil foi montada principalmente sobre fundos de investimentos e nós temos um super xerife, que é a CVM. E, já na largada, temos também as regras que regem os fundos de investimento como gênero.

Em segundo lugar, as hipotecas, que foram o real problema nos Estados Unidos, têm ciclos de superaquecimento e arrefecimento, que não são tão frequentes, mas quando ocorre, é um desastre. No Brasil, esse financiamento de longo prazo é novo e feito basicamente via caderneta de poupança, e não securitização.

“Eu diria que do ponto de vista regulatório, o Brasil
está numa posição muito organizada no sentido de oferecer
a máxima proteção e segurança ao cotista do fundo”

Eu diria que do ponto de vista regulatório, o Brasil está numa posição muito organizada no sentido de oferecer a máxima proteção e segurança ao cotista do fundo, desde a largada – consequentemente, estamos pouco sujeito a eventos dramáticos como ocorrido no exterior.

E quais são os planos para 2010? Como aproveitar as oportunidades oferecidas pelo mercado financeiro atualmente e crescer?

Felizmente, do último trimestre de 2009 para cá, os investidores de portfólio passaram a considerar de uma maneira racional as alternativas de alocação de seus recursos, não premiando a liquidez, mas olhando também para a rentabilidade. Era uma demanda que estava represada por parte de investidores, por uma questão de incerteza.

As taxas de juros estão baixas, e há necessidade de olhar com atenção para as oportunidades do mercado de securitização, que tem prazos mais longos, de três a quatro anos em média, e com prêmios bastante interessantes para um instrumento de baixíssimo risco. É algo que passa a ser considerado com grande atenção.

“A tendência é de um aumento razoável, de pelo
menos 25% a 30% de novas emissões nesse ano”

Além disso, temos um histórico positivo nesses anos todos. Do outro lado, as empresas, com uma perspectiva de melhora dos negócios, estão tirando da gaveta seus planos de investimento e estão aumentando a demanda por financiamentos.

A tendência é de um aumento razoável, de pelo menos 25% a 30% de novas emissões nesse ano. E queremos estar bem colocados como estruturadores e principalmente como gestores. Então é um ano de um grande crescimento para o nosso portfólio.

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