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SÃO PAULO – Surpreendendo boa parte do mercado, a Petrobras (PETR3; PETR4) divulgou seus números na noite da última quarta-feira (24) apontando um lucro de R$ 59,89 bilhões, resultado 634,6% superior ao de igual período de 2019, quando a empresa teve lucro de R$ 8,15 bilhões. No trimestre anterior, a companhia teve prejuízo de R$ 1,54 bilhão. A expectativa média dos investidores, segundo projeções da Refinitiv, eram de um lucro de R$ 4,88 bilhões no período.
O número que, a princípio, brilhou aos olhos dos investidores, é também alvo de divergência entre analistas de mercado, uma vez que boa parte dele se deveu à reversão de impairment (deterioração de ativos na contabilidade) de R$ 31 bilhões, ganhos cambiais de R$ 20 bilhões e reversão de gastos passados do plano AMS, em R$ 13,1 bilhões, decorrente da revisão de obrigações futuras da empresa.
Conforme destacam Gabriel Francisco e Maira Maldonado, analistas da XP Investimentos, esse valor deve ser olhado com cuidado, pois há um efeito combinado de R$ 44,0 bilhões sobre o lucro divulgado que não reflete as operações da companhia.
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Eles destacaram em relatório que, além disso, o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) em termos ajustados foi de R$ 31,7 bilhões, em linha com a estimativa de R$ 30,7 bilhões por uma diferença de 3%, mas 5,8% abaixo do consenso de mercado de R$ 33,6 bilhões, segundo compilação da Bloomberg.
“Notamos que nosso cálculo de Ebitda ajustado difere daquele divulgado pela companhia por excluirmos diversos efeitos não-recorrentes (ou seja, que não refletem a realidade operacional da companhia) e sem efeito caixa, de forma a tornar o resultado o mais limpo possível para efeitos de comparação”, avaliam.
O Ebitda (sem considerar os ajustes) foi de de R$ 47,04 bilhões nos últimos três meses do ano, totalizando R$ 142,97 bilhões em 2020. A média das expectativas da Refinitiv era de que fosse de R$ 32,9 bilhões no quarto trimestre e de R$ 119,3 bilhões no ano.
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Os analistas da XP ainda apontam que a Petrobras divulgou uma geração de caixa (excluindo efeitos não-recorrentes, como venda de ativos) de R$ 19,4 bilhões. “Ainda que tal geração de caixa ainda possa ser considerada saudável, notamos que configura uma redução de 29% em relação aos níveis de R$ 29,5 bilhões do terceiro trimestre”, apontam.
Já do lado positivo, a dívida líquida ao final do quarto trimestre foi de R$ 328,3 bilhões, uma redução de 2,2% em relação ao terceiro trimestre, de R$373,5 bilhões. A relação entre dívida líquida e o Ebitda ajustado da Petrobras no quarto trimestre foi de 2,22 vezes, também uma redução em relação ao nível de 2,33 vezes do terceiro trimestre de 2020, redução de endividamento que pode ser considerada como positiva por investidores, avaliam.
Enquanto a XP Investimentos viu o resultado com muitas ressalvas, o Credit Suisse apontou que o balanço da estatal foi impecável, superando as expectativas do banco em diversas frentes. O Ebitda ajustado ficou 6% acima do esperado pelos analistas Regis Cardoso e Marcelo Gumiero, enquanto o nível de geração de fluxo de caixa livre da companhia foi bem forte e houve uma redução da dívida líquida em US$ 3 bilhões na comparação com o trimestre sequencialmente anterior.
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O Credit avalia que a Petrobras cumpriu com as suas metas para 2020, apesar da queda da demanda, baixa dos preços do petróleo e problemas operacionais causados pela pandemia do coronavírus. O banco aponta que a meta de dívida em US$ 60 bilhões parece viável e destaca a alta da produção de petróleo.
Os analistas ainda comentaram que a gestão da empresa decidiu aumentar o payout, ou proporção de pagamento de dividendos em relação ao lucro, aprovando o pagamento de R$ 10,3 bilhões em dividendos, ou R$ 0,7874 por ação ON e PN, com base no resultado de 2020, o que deve favorecer as ações ordinárias.
Contudo, eles apontam que a grande questão – e que ganhou força no final da semana passada com o anúncio da indicação de Joaquim Silva e Luna para a presidência da companhia no lugar de Roberto Castello Branco – continua: qual será a a direção que a empresa irá tomar com a nova gestão?
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Assim, apesar de apontarem que há um espaço muito relevante para a alta das ações em um cenário minimamente mais construtivo para a companhia, os analistas ainda esperam ter mais clareza sobre os próximos passos da estatal com a nova gestão antes de voltarem a ter uma recomendação mais otimista. Vale ressaltar que um dos grandes catalisadores para o governo querer a saída de Castello Branco foi o forte reajuste de combustíveis na semana passada, o que rendeu críticas abertas do presidente Jair Bolsonaro.
Na mesma linha, o Bradesco BBI destacou que a estatal teve um trimestre sólido, em linha com os altos padrões gerenciais da gestão de Roberto Castello Branco. Cabe destacar que o atual CEO afirmou, em sua provável última Carta do Presidente na divulgação do resultado do exercício de 2020, que entregou a recuperação em “J” que havia prometido, e que a empresa teve um desempenho excepcional em 2020, apesar do ambiente desafiador da pandemia de covid-19.
Sem tocar no assunto da sua substituição pelo general Joaquim Silva e Luna, processo que ainda passará por uma assembleia de acionistas, Castello Branco agradeceu o apoio do Conselho de Administração “à execução da estratégia nesta jornada”, e listou várias conquistas realizadas no ano passado. O CEO destacou que, durante a sua gestão, já foram concluídas 21 transações e assinadas outras 13 no programa de desinvestimentos, garantindo a adição de US$ 17 bilhões no caixa, e que mais 50 ativos estão à venda em diferentes estágios.
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Apesar do bom resultado, o BBI apontou que várias incertezas permanecem em relação ao futuro da Petrobras e, dadas as potenciais dificuldades que a empresa possa ter em aumentar os preços dos combustíveis, prefere cases de outras companhias de exploração e produção de petróleo na América Latina.
Tanto BBI quanto XP Investimentos e Credit Suisse possuem recomendação equivalente à venda para os ativos da Petrobras, passando a ter uma visão negativa para os papéis da estatal com os eventos do último fim de semana.
“A principal razão para a manutenção da nossa visão negativa para as ações da Petrobras diz respeito aos riscos que enxergamos para a companhia continuar a praticar uma política de preços de combustíveis alinhada com a paridade de importação. Notamos que mesmo após o significativo reajuste de 14,6% dos preços do diesel implementado em 19 de Fevereiro de 2021, a defasagem dos preços do diesel ainda segue elevada: estimamos 8,6% de defasagem em relação aos preços internacionais para este combustível, acrescidos da margem adicional para cumprir custos de importação”, avalia a XP.
De acordo com Franscisco e Maira, os resultados da Petrobras no quarto trimestre já ilustram a indicação de que a estatal não estava praticando preços de diesel inteiramente alinhados à paridade de importação desde meados de novembro-dezembro de 2020. “Tal prática de preços já se manifestou nos resultados do segmento de refino no quarto trimestre, com a margem bruta do segmento recuando para 10,2% ante 13,4% no terceiro trimestre (ou uma diferença de R$ 2,0 bilhões)”, avaliam. Eles também destacam que as ações da Petrobras têm apresentado elevada volatilidade desde o anúncio pelo Governo de substituição de Roberto Castello Branco como Conselheiro e Presidente da companhia pelo General Joaquim de Silva e Luna.
Assim, tanto quem destacou os números como positivos quanto viu os números com ressalvas, a visão majoritária do mercado é de bastante ceticismo com a tese de investimentos na estatal e ainda com uma avaliação de esperar para ver os próximos passos. Isso uma vez que a atual gestão está perto de virar passado, já que o atual CEO deve seguir na empresa só até 20 de março. Assim, as indicações do que pretende fazer Silva e Luna à frente da estatal pode repercutir mais no papel do que propriamente o resultado do quarto trimestre.
(com Estadão Conteúdo)
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