Ibovespa recua 0,87% e tem quinto mês consecutivo de baixa; dólar recuou 0,19% em novembro

Bolsa quase perde os 100 mil pontos, mas encontrou impulso após aprovação da PEC dos Precatórios na CCJ do Senado

Mitchel Diniz

B3  Bovespa  Bolsa de Valores de São Paulo  (Germano Lüders/InfoMoney)
B3 Bovespa Bolsa de Valores de São Paulo (Germano Lüders/InfoMoney)

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SÃO PAULO – O último pregão do mês teve aquilo que o Ibovespa mais passou ao longo de novembro: volatilidade. O índice de referência para o mercado brasileiro de ações testou um limite perigoso, quase perdendo os 100 mil pontos, um suporte técnico de acordo com analistas gráficos. “Se perdermos os 100 mil pontos, vamos para os 94 mil e aí o mês de dezembro seria negativo. Mantendo os 100 mil, teríamos espaço para voltar aos 108 mil e depois para os 110 mil”, explica Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management.

Mas a Bolsa teve motivos de sobra para oscilar tanto. O dia já começou com novos temores sobre a variante ômicron, da Covid-19. Hoje, no final do dia, a Anvisa confirmou os primeiros casos da cepa no Brasil. Ainda que os primeiros estudos mostrem eficácia das vacinas contra a nova cepa, ainda há muita incerteza sobre a nova variante. “O mercado não está 100% confortável. Existem ainda poucos dados sobre a nova variante e há muita especulação, que é tudo o que os investidores odeiam”, afirma Flávio Aragão, sócio da 051 Capital.

Novembro foi o quinto mês consecutivo de queda para o Ibovespa. Para Aragão, a Bolsa brasileira perdeu oportunidades de recuperação antes de cair junto com as Bolsas estrangeiras. “Deixamos de surfar junto com o mercado global, naquelas semanas de alta, muito por causa de Brasília”, afirma Aragão.

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Para muitos dos analistas ouvidos pelo InfoMoney, a principal trava de crescimento para o Ibovespa no mês foram os riscos políticos e fiscais. “No momento os principais problemas para a bolsa brasileira são locais. O foco está na PEC dos precatórios que vai definir como será financiado o auxilio de R$400. A preocupação não é apenas de onde virá o recurso, mas até onde pode ir a gastança”, afirma Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos.

A PEC dos Precatórios foi aprovada hoje na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Faltando pouco para o início do recesso parlamentar, o texto precisa ainda ser aprovado em plenário, onde é necessário o apoio mínimo de 49 dos 81 senadores em dois turnos de votação. “O mercado vai ficar mais estressado se essa PEC não for aprovada”, afirma Gonçalvez, da Box Asset Management.

O Ibovespa foi na mínima do dia depois que porta-vozes do Banco Central dos Estados Unidos sinalizaram que as medidas de estímulo no país podem ser retiradas mais cedo que se pensava. O chairman do Federal Reserve, Jerome Powell, admitiu que a variante ômicron poderia reduzir a disposição das pessoas para trabalhar pessoalmente, o que desaceleraria o progresso no mercado de trabalho e intensificaria as interrupções na cadeia de suprimentos.

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Mas ainda assim, adotou um tom mais hawkish, afirmando que o Federal Reserve poderia encerrar o processo de injetar liquidez na economia antes do planejado.

Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, afirma que o mercado piorou porque se o tapering for antecipado, também vai antecipar a alta de juros nos Estados Unidos.

“Boa parte do que tinha pra cair em Ibovespa relacionado a juros no Brasil já caiu. Mas quando surge um fato novo, que é negativo, há espaço para mais quedas, como a variante ômicron e a a expectativa de subir juros nos Estados Unidos antes do previsto”, afirma Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.

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Os juros nos Estados Unidos, atualmente, estão próximos a zero. Uma elevação da taxa aumentaria a rentabilidade e atratividade dos títulos do Tesouro americano, que são considerados os mais seguros do mundo. Isso tiraria capital de investimentos de risco e sobretudo de países emergentes, como Brasil.

O Ibovespa pode ter fechado longe da mínima do dia, mas encerrou a sessão com pior pontuação de fechamento desde julho do ano passado. O índice recuou 0,87%, aos 101.015 pontos. O volume financeiro negociado ficou em R$ 43,1 bilhões, acima da média. No mês, o Ibovespa recuou 1,52%.

Com a chegada de dezembro, os investidores começam a se perguntar se haverá o famoso “rali de fim de ano”, que costuma acontecer no último trimestre, mas até agora não se manifestou. Para Ricardo Oliboni, sócio da Axia Investing, existe uma barreira de 110 mil pontos que a Bolsa terá dificuldades de ultrapassar, o que, segundo ele, é reflexo de uma economia fraca.

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“Espaço para recuperação de nosso mercado tem e teve, mas levando em conta que entraremos no último mês do ano dificilmente romperemos essa barreira”, afirma Oliboni.

O dólar comercial fechou o dia em alta de 0,46%, a R$ 5,635 na compra e R$ 5,636 na venda. Apesar do movimento de alta nos últimos dias, a moeda americana acumulou ligeira queda, de 0,19%, em novembro.

A PEC das Precatórios no CCJ e a nova variante da Covid reforçaram a percepção de desaceleração inflacionária. No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2023 recuou dez pontos-base para 11,78%; DI para janeiro de 2025 caiu 19 pontos-base para 11,40%; e o DI para janeiro de 2027 teve queda de 24 pontos-base, a 11,31%.

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Nos Estados Unidos, as Bolsas fecharam em forte baixa com incertezas sobre a variante ômicron e a perspectiva de redução de estímulos e juros. O Dow Jones fechou em queda de 1,86%, a 34.483 pontos. O S&P teve queda de 1,9%, a 4.566 pontos; e a Nasdaq recuou 1,55% a 15.537 pontos.

Na Europa, o índice Stoxx 600, que reúne as ações de 600 empresas de todos os principais setores de 17 países europeus, fechou em queda de 1,13%.

No segmento de commodities, importante para o desempenho da Bolsa brasileira, o preço do petróleo terminou nos menores níveis desde agosto. O Brent cedeu 5,34% a US$ 69,31 e o do WTI ficou US$ 66,25, caindo 5,29%.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados