Ibovespa e DIs podem ter ajustes nesta 5ª após Copom não explicitar queda dos juros, mas analistas não veem “mudanças estruturais”

Comunicado após decisão de política monetária foi mais hawkish do que mercado precificava, mas visão positiva para ativos de risco continua

Lara Rizério

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Um comunicado que trouxe alguns sinais mais dovish (“brandos”) em relação às últimas comunicações, mas que foi mais hawkish (duro, mostrando preocupação com a inflação) do que o mercado esperava, o que pode trazer impactos para o mercado na sessão da próxima quinta-feira (22).

Essa foi a sinalização que o Banco Central deu em comunicado que se seguiu à sétima manutenção seguida da Selic, em 13,75% ao ano. O BC manteve um tom duro ao avaliar o processo de desinflação no Brasil, sem dar indicações claras da intenção de cortar juros em agosto, como esperava o mercado financeiro.

No comunicado que acompanhou a decisão, o colegiado defendeu que é preciso ter “paciência” no controle da inflação e vinculou eventual corte da Selic aos dados econômicos.

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Para Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, o comunicado do BC surpreendeu o mercado pelo seu conservadorismo.

“A instituição, é verdade, retirou o termo que mencionava que, embora com menor probabilidade, existia sim alguma chance de o início de um novo ciclo de aperto monetário. Apesar dessa retirada, não fez qualquer sinalização sobre evolução futura da taxa de juros, muito menos sobre uma eventual queda na próxima reunião. Portanto, o que era esperado pelo mercado [de sinalizações mais claras] não aconteceu”, avalia a economista.

Assim, Carla aponta que, na sessão da próxima quinta-feira, é possível que o mercado de ativos de risco brasileiro abra a sessão um pouco menos otimista, com os juros em alta, com provavelmente o Ibovespa em queda após superar os 120 mil pontos na sessão desta quarta e com uma reprecificação dos ativos.

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Na mesma linha, Camilla Dolle, head de renda fixa da XP, apontou em live sobre o Copom que é possível que haja uma abertura na curva de juros na próxima quinta, mas que não será uma mudança estrutural, uma vez que há um cenário de queda de juros para o segundo semestre que se mantém.

“Em relação aos preços de mercado, esperamos uma leitura neutra a ligeiramente hawkish com os DIs para janeiro de 2024 e 2025 abrindo marginalmente, junto com algum achatamento da curva”, aponta ainda relatório da XP.

Alexandre Lohmann, estrategista-chefe da Constância Investimentos, avaliou que o comunicado foi mais dovish que o de maio, mas aquém das expectativas do mercado, que começou a precificar a possibilidade de ter um corte de 0,50 ponto na Selic em agosto, com Selic inferior a 12% no fim do ano (Curva DI). “É provável ter um ajuste para cima dos juros amanhã, mas ainda aguardando a ata (na próxima terça) para termos mais detalhes”, destaca.

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Já para o Ibovespa, Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP, destacou, após a decisão do Copom, manter visão positiva para o benchmark da Bolsa, projetando o índice a 130 mil pontos ao fim do ano. “Continuamos otimistas que esse ciclo de corte de juros será no segundo semestre, com setores de varejo, transportes, saúde, educação e imobiliário, além das small caps. Mas vemos valor na Bolsa como um todo, porque os setores de bancos, commodities e elétricos também continuam bastante atrativos”, apontou. Porém, também destacou que não será uma alta linear, havendo espaço para correções.

Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, avalia que o Copom segue, por mais uma vez, firme no seu processo de manutenção da taxa de juros e cita que alguns economistas já imaginavam que o BC poderia dar sinais de que se aproximava do seu primeiro corte de juros. Para Mercadante, o comunicado não explicitou cortes nas reuniões à frente e, apesar de o Copom reconhecer bons dados no curto prazo, ainda se mostra cauteloso com a dinâmica de inflação.

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“A cautela fica evidente no balanço de riscos, na atenção com componentes persistentes da inflação e no reconhecimento que a dinâmica da inflação na comparação anual é afetada pela desoneração de impostos no ano passado e deve voltar a acelerar no segundo semestre. Assim, o Copom manteve uma postura semelhante aos comunicados anteriores, mas ligeiramente mais hawkish do que a expectativa”, avalia.

Em relatório, a XP ressaltou que o último parágrafo do comunicado é fundamental. Por um lado, o Copom antecipa que o processo atual de desinflação tende a ser “mais lento”, em meio a expectativas desancoradas. Assim, cautela e parcimônia permanecem cruciais. Por outro lado, diz que a estratégia de manter a taxa Selic nos níveis atuais por um longo período “tem sido adequada” para assegurar a convergência da inflação, ao invés de “ser capaz de” como na declaração anterior. A nosso ver, é um sinal de que manter a taxa Selic estável à frente não é necessariamente o plano do comitê.

“De fato, o Copom afirmou que os passos futuros da política monetária serão dependentes dos dados, mencionando a dinâmica da inflação corrente, as expectativas de inflação, o hiato do produto, entre outros. Além disso, a autoridade monetária retirou a seção sobre o cenário alternativo em que não hesitaria em retomar o ciclo de aperto caso o processo desinflacionário não ocorresse conforme o esperado”, aponta.

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A XP acredita que a estratégia do Copom é manter as taxas estáveis por mais algum tempo ou iniciar um afrouxamento gradual da política monetária em breve. “Assim, vemos a declaração de hoje como consistente com nosso cenário base (desde abril) que considera um corte de 25 pontos-base (ou 0,25 ponto percentual) em agosto, seguido de cortes sequenciais de 50 pontos-base até a taxa Selic atingir 11,00% ao final do 1T24”, avalia.

Lohmann, da Constância, tem previsão preliminar de um corte de 0,25 ponto em agosto, mas com probabilidade importante de ver esse ajuste realizado apenas em setembro, dada a fraca visibilidade nas medidas subjacentes do IPCA em junho e julho.

Mercadante, da Rio Bravo, mantém cenário base cortes de juros para setembro, mas vê  probabilidade relevante de que a primeira redução já seja em agosto.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.