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O Ibovespa fechou em queda de 0,82% nesta quarta-feira (31), aos 109.522 pontos. No mês, porém, o principal índice da Bolsa brasileira acumulou alta de 6,16% e se destacou frente aos demais benchmarks mundiais.
Hoje, nos Estados Unidos, o Dow Jones caiu 0,88%, o S&P 500, 0,78%, e o Nasdaq, 0,56%. Em agosto, os três índices acumularam quedas de, respectivamente, 3,27%, 3,82% e 4,07%.
“O evento de Jackson Hole, na semana passada, foi um grande divisor de águas para o mercado internacional. Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, sinalizou um tom mais duro do que o mercado estava esperando, o que fez com que as bolsas realizassem bastante”, ressalta Ubirajara Silva, gestor da Galapagos Capital.
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Até a véspera do simpósio de Jackson Hole, dia 25, em que os diretores do Federal Reserve falam anualmente, o S&P 500 acumulava uma alta de quase 2% no mês. Investidores, até então, traziam algum otimismo, após dados macroeconômicos trazerem uma inflação mais controlada do que o esperado e uma economia em desaceleração.
Entre outras falas, Powell, fixou sua responsabilidade no controle dos preços e afirmou que os Estados Unidos terá um crescimento mais lento e enfrentará juros elevados por um período mais longo. Autoridades do Banco Central Europeu (BCE) também trouxeram um tom duro no evento.
“Quando olhamos lá fora, temos o início do ciclo de alta de juros. O Fed começou a subir agora, o BCE também. E ainda estão com inflação alta”, complementa Silva. “O grande destaque do mês foi a melhor performance do Brasil, justificada pelo fluxo estrangeiro e que foi engatilhado justamente porque aqui tivemos a sinalização do fim do ciclo de alta”.
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O Brasil, ao contrário dos EUA e da Europa, caminha para o fim do ciclo de alta de juros, em grande parte por conta dos recentes dados de deflação e também pela divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) – na qual as autoridades brasileiras não se comprometeram com novas elevações da Selic, afirmando aguardar os próximos passos.
“A curva de juros brasileira está negociando de forma comportada, apesar de o câmbio ter tido sell off nos últimos dois dias. Mesmo em um cenário de pressão do dólar, com commodities perdendo valor, não há tanta pressão sobre o Banco Central brasileiro”, explica Fábio Guarda, também da Galapagos.
O dólar registrou um salto de 1,73%, a R$ 5,201 na compra e R$ 5,202 na venda, na sessão desta quarta, mostrando forte alta pela segunda sessão seguida e mais do que apagando a queda acumulada no mês até a véspera, num dia em que as divisas emergentes em geral tiveram em queda numa sessão de baixa nos preços das commodities.
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Em duas sessões, o dólar subiu 3,33%, maior alta percentual para esse intervalo desde 13 de junho (3,97%). Com a forte valorização, a divisa fechou agosto em alta de 0,54%
“O mês terminou um pouco amargo pelos dois últimos dias, mas continua positivo. O real teve performance positiva de forma absoluta, tanto em relação aos emergentes quanto aos exportadores de commodities de economias centrais, como a Austrália”, comenta Guarda.
Além do dólar, nem mesmo a alta dos treasuries no mês, com suas taxas próximas das máximas do período, abalaram a curva brasileira. O título do tesouro americano com vencimento em dez anos foi a 3,178%, ante 2,6% no início de agosto, e o com vencimento em dois anos, que era negociado a 2,909%, foi a 3,483%,
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A curva de juros brasileira, no entanto, recuou em bloco no acumulado do mês. Os DIs para 2023 fecharam negociados a 13,74%, ante 13,80% no final de julho. Os para 2025 foram a 11,96%, frente a 12,71%. Os para 2027 e 2029 ficaram em 11,76% e 11,90%, com quedas de 86 e 84 pontos-base. Os para 2031 foram a 12%, ante 12,79%.
Varejistas são destaques do Ibovespa, mas Petrobras também chama a atenção
Quem se beneficiou dessa melhora da curva de juros brasileira, e do cenário macro como um todo, foram, principalmente, as companhias ligadas ao mercado interno. Entre as maiores altas de agosto, ficaram as ações ordinárias da Positivo (POSI3), com mais 73,18%, as da Magazine Luiza (MGLU3), com mais 65,50%, e as da Via (VIIA3), com mais 34,17%.
“O mercado não vai voltar para a Bolsa quando o juros estiver abaixo de dois dígitos novamente: ele vai tentar antecipar. Foi exatamente isso o que aconteceu em agosto. a gente começou a ter algumas leituras de deflação, as comunicações do Banco Central deram muito a entender que estamos no final do ciclo de aperto e o próprio risco fiscal voltou a diminuir”, explica Felipe Moura, analista da Finacap Investimentos.
Outro destaque de agosto foram as ações ordinárias e preferenciais da Petrobras (PETR3;PETR4), que subiram, na sequência 21,34% e 19,25% – isso mesmo com o petróleo Brent saindo do patamar de US$ 100 para ser negociado próximo a US$ 96,50.
“Tivemos folga nos preços dos combustíveis, o que tirou grande parte da pressão política das costas da estatal. A companhia ainda pagou dividendos extraordinários. Com a combinação dos fatores, o cenário para a empresa melhorou. Agora as ações negociam quase acima do preço ex-dividendos”, comenta Guarda.
Para setembro, os especialistas destacam que esperam volatilidade, por conta de um noticiário interno e externo mais intenso.
“Em setembro teremos o olho do furacão da eleição. Não tem como o mercado se dissociar dessas questões locais”, explica o gestor da Galapagos. “O mercado acaba comprando um cenário de que os dois principais candidatos não trarão uma grande mudança, principalmente no campo fiscal. Há uma tentação de gastos maiores com pautas sociais, porém, fica claro que as equipes econômicas têm a percepção da importância de uma âncora”.
Lá fora, setembro contará com reuniões das autoridades monetárias dos Estados Unidos e da Europa, com as narrativas de alta de 75 pontos-base ganhando força nos dois mercados.
“A Europa está tendo uma materialização do problema da questão inflacionária – isso com a economia em situação dramática, com populações podendo passar racionamento energético durante o inverno”, pontua a Galapagos. “As secas no hemisfério norte também trazem a perspectiva de quebra de safra, que não é diminuta. Há uma possibilidade bastante grande e isso leva a preços de commodities agrícolas mais elevados”.
Por fim, a China também continua em evidência – o país também vem sofrendo com ameaças energéticas, em meio a uma seca e uma onda forte de calor, e, nos últimos dias, circularam notícias de novas restrições impostas para frear a Covid-19.
“Há também, no gigante asiático, os problemas do mercado imobiliário, com risco de inadimplência e sobra de imóveis. Essas dúvidas se avolumam. Se China chacoalhar, economias emergentes também chacoalham”, lembram Guarda e Silva.
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