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O dólar disparou (ultrapassando os R$ 5,27), o Ibovespa caiu 1,77%, aos 108.008 pontos, e os juros futuros fecharam em forte alta. A quinta feira foi marcada por um movimento de forte aversão no mercado, com os rumores cada vez maiores de que o Conselho Monetário Nacional (CMN) – formado por Banco Central, Fazenda e Planejamento -, em reunião do próximo dia 16 de fevereiro, poderá elevar a meta de inflação. Ao InfoMoney, o BC informou que não comentará o tema.
Essa medida, se efetivada, indicaria os efeitos da forte pressão do governo (notoriamente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva) sobre o Banco Central, que tem pautado o debate econômico nas últimas sessões.
Os ativos brasileiros passaram a cair forte depois de a Bloomberg informar, citando fontes, que equipe econômica estuda antecipar uma revisão das metas de inflação do país na tentativa de acalmar as tensões entre o Banco Central e Lula. Mais cedo, coluna do Metrópoles havia afirmado que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, sinalizou a integrantes do governo que defenderá uma alteração na meta de inflação de 2023 para 3,5%, contra os atuais 3,25%.
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Em nota a clientes, a Levante Investimentos disse que “parece inevitável, nesse momento, que a solução para o atual desentendimento (entre governo e BC) passe por uma leve revisão nas metas inflacionárias”. No curto prazo, haveria reação fortemente negativa dos mercados a uma revisão nos objetivos, alertou a Levante.
“O aumento da meta de inflação poderia até levar a uma redução de Selic no curto prazo, mas para a parte longa da curva e para efeitos de câmbio, é uma tendência ruim”, fala Maurício Valadares, CIO da Nau Capital. “Aumenta, de qualquer forma, o prêmio de risco do país, dado que a credibilidade quanto ao cumprimento de metas diminui”.
Nos primeiros negócios do pregão, o dólar chegou a cair 0,45%, a R$ 5,1729 na venda, o que alguns participantes do mercado atribuíram a esperanças de que, durante viagem de Lula aos Estados Unidos, as tensões institucionais no Brasil esfriassem, ainda que temporariamente, conforme o presidente focasse outros assuntos de sua agenda que não o nível da taxa Selic. Porém, o movimento foi fortemente revertido e a moeda americana fechou em alta de 1,58%, a R$ 5,278 na compra e a R$ 5,279 na venda.
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Segundo Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, a reação do mercado hoje é um exemplo da reação do mercado a esse tipo de informação.
Se houver de fato uma mudança na meta de 2023 para 3,25% para 3,50%, isso não mudaria muito em relação ao fato do BC conseguir ou não ficar dentro da meta, aponta o analista.
“O problema é a sinalização que este tipo de atitude manda. Quer dizer claramente que o governo vai buscar ter uma inflação mais alta, seja tentando influenciar o BC a baixar os juros, seja através de medidas fiscais e parafiscais”, avalia.
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Assim, no final, haverá uma abertura das taxas de juros, aponta. “Mesmo que o BC baixe a Selic na marra, os juros de longo prazo continuarão elevados. Isso acaba sendo muito ruim para planejar investimentos no país, tanto faz se é investidor local ou estrangeiro. Nos mercados isso vai se traduzir em dólar mais forte, juros altos (curva) e bolsa em queda”, aponta.
As taxas dos DIs para 2025 ganharam 12,5 pontos, a 12,89%. Os DIs para 2027 e 2029 foram a, respectivamente, 13,45% e 13.56%, com mais 29,5 e 33 pontos. Os contratos para 2031 fecharam pagando um yield de 13,56%, com mais 30 pontos.
Em nota para investidores institucionais, o Citi destaca que, mesmo que Lula consiga elevar a meta de inflação, o mercado seguirá preocupado se haverá nomeações de diretores do BC alinhados com a visão do presidente da República, se a pressão para Roberto Campos Neto deixar o cargo continuará, se haverá uma nova elevação nas metas e se haverá alta dos gastos para impulsionar o crescimento. “Nenhum desses pontos é positivo para a moeda brasileira no médio prazo, e o movimento de curto prazo valida isso”, aponta.
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“Acredito que o principal fator de atenção do mercado segue sem dúvida sendo a artilharia de Lula contra o BC, fogo amigo esse que já está sendo propagado pelo próprio Congresso também”, disse à Reuters Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital. “Novamente, estamos deixando de ‘surfar’ em uma onda positiva no exterior, de inclinação a risco, por conta de fatores locais.”
Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, explica que o aumento da meta será seguido por um aumento da expectativa da inflação.
“O aumento da meta deve ser seguido por um aumento da expectativa de inflação maior do que a meta. Se a meta sair de 3,25% para 3,5%, a inflação deve ir além. Isso porque temos uma preocupação grande entre a relação entre governo e Banco Central. Investidores podem passar a acreditar que o BC não irá mais mirar o centro da meta, mas sim um pouco acima ou até mesmo o teto”, explica Mercadante. “O debate é muito ruim para a redução das expectativas. Ele torna todo o controle de preços mais custoso. No fundo, é um remédio mais duro que a própria doença”.
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Apesar da mudança sinalizada, por enquanto, ser pequena, boa parte do peso fica em volta das expectativas.
“A expectativa da mudança, contudo, abala a confiança. Hoje o objetivo do Banco Central, além de fornecer estabilidade macro, é controlar a inflação. Quando há uma série de críticas, que está tentando fazer esse trabalho, aumenta a insegurança. É um jogo de credibilidade”, debate Luca Mercadante.
Entre as maiores quedas do Ibovespa, ficaram companhias ligadas ao mercado interno. Os papéis preferenciais da Azul (AZUL4) pederam 11,85%, os ordinários da Petz (PETZ3), 6,63% e os da Yduqs (YDUQ3), 6,20%.
Por fim, o Ibovespa teve também auxílio do exterior em sua queda. Em Nova York, Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq recuaram, respectivamente, 0,73%, 0,88% e 1,02%.
“Wall Street não conseguiu manter o clima otimista”, disse à CNBC Ed Moya, analista sênior de mercado da Oanda. “Alguns investidores estão apostando que o Fed terá que fazer muito mais aperto do que Wall Street está precificando”.
(com Reuters)
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