Ibovespa atenua baixa e dólar diminui ganhos reagindo à fala de Maia após susto com prisão de Temer

Presidente da Câmara afirmou que a prisão de Temer não afeta as reformas, o que diminuiu a tensão no mercado, mas sessão ainda é de aversão ao risco

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Após chegar a cair 2,64% na mínima do dia repercutindo a prisão do ex-presidente Michel Temer, o Ibovespa diminuiu as perdas na sessão desta quinta-feira (21), mas ainda registrava um forte movimento de baixa. Já o dólar, que chegou na casa dos R$ 3,82, voltou a ser negociado abaixo dos R$ 3,80.

Boa parte do alívio do mercado se deu após o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmar que a prisão de Temer não afeta as reformas. Agora, após o susto com as prisões de Temer e também de seu ex-ministro Moreira Franco, sogro de Maia, analistas buscam avaliar o cenário para a reforma da Previdência e para a economia.

A reforma já enfrentava um ambiente de pessimismo desde ontem em meio à má repercussão da reforma dos militares tanto entre economistas quanto no Congresso, além das dificuldades sobre a articulação política. A avaliação agora é de que o episódio desta quinta afeta ainda mais a percepção sobre a reforma uma vez que desvia o foco da pauta econômica e novas questões ganham destaque, como se outros políticos podem estar envolvidos. 

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“A sociedade apoia, mas é mais um capítulo da implosão do sistema politico brasileiro. Isso dá fôlego pra travar a reforma [da Previdência], já que o MDB vai querer negociar com o governo não a situação de Temer, mas o que isso representa pro futuro do partido”, observa Leopoldo Vieira, analista político da consultoria Idealpolitik. 

Já o analista político da MCM Consultores, Ricardo Ribeiro, ressalta que a prisão aumenta a incerteza e prejudica o clima no Congresso. “Isso não favorece acordos. É ruim para quem precisa de 60% para aprovar reforma”, avalia. 

A prisão foi determinada pelo juiz federal Marcelo Bretas, titular da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, responsável pelas ações de desdobramento da Operação Lava Jato. Vale ressaltar que o ex-ministro de Minas e Energia da administração emedebista, Moreira Franco também foi preso nesta quinta-feira. 

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Após a notícia, os principais contratos de juros futuros passaram a registrar alta: o com vencimento em 2021, que registrava perdas, avança agora 1 ponto-base, a 6,91%, enquanto o com vencimento em 2023 tem alta de 9 pontos-base, a 8,02%.

Leia também:
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Altas e baixas

A prisão de Temer azedou o desempenho dos papéis de estatais e de bancos, enquanto as ações de empresas que se beneficiam da alta do dólar passaram a registrar ganhos, caso de Suzano (SUZB3), Vale (VALE3) e Embraer (EMBR3). 

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Já as maiores baixas seguem sendo de B2W e Lojas Americanas, com queda de cerca de 6%. A B2W apurou no 4º trimestre de 2018 um prejuízo líquido de R$ 67,7 milhões, montante maior que os R$ 47,2 milhões estimados pela compilação de estimativas da Bloomberg.

A Lojas Americanas, por sua vez, registrou uma receita líquida de R$ 4 bilhões no 4º trimestre de 2018, frustando a menor estimativa compilada pela Bloomberg, de R$ 5,86 bilhões. No período, o lucro líquido ajustado foi de R$ 272,2 milhões e o Ebitda ajustado R$ 893,5 milhões, com margem ajustada de 22,4%. No ano, a companhia teve um lucro líquido de R$ 380,5 milhões.

As maiores baixas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, são:

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Ativo Cot R$ % Dia % Ano
B2W DIGITAL ON 46,80 -6,21 +11,38
LOJAS AMERICPN 18,15 -6,20 -7,51
GOL PN N2 29,36 -4,33 +16,97
JBS ON 14,42 -3,74 +24,42
KROTON ON 10,64 -3,45 +19,95

As maiores baixas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, são:

Ativo Cot R$ % Dia % Ano
SUZANO PAPELON 44,65 +1,78 +17,25
VALE ON 50,96 +0,79 -0,08
BRADESPAR PN 31,50 +0,70 +1,46
TIM PART S/AON 12,59 +0,56 +7,64
EMBRAER ON 19,30 +0,42 -10,98

 

Reforma: ambiente desafiador

Antes mesmo da prisão de Temer, o ambiente para as reformas já se apontava como desafiador em meio aos acontecimentos dos últimos dias. 

Reforma dos militares má recebida pelo Congresso e por economistas, Ibope apontando queda na popularidade do governo de Jair Bolsonaro e insatisfação com a articulação política do governo já haviam acendido o sinal de alerta para o mercado com relação à aprovação da Reforma da Previdência, não somente pelo montante a ser economizado com a Reforma (inicialmente de R$ 1,16 trilhão), mas também pelos prazos a serem cumpridos para a aprovação da mesma. 

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A avaliação geral era de que a proposta de reforma dos militares enfraquece parte do argumento do governo de que todas as categorias farão sacrifício. 

No Congresso, os deputados também reagiram negativamente. Até mesmo entre os parlamentares da base, há uma impressão de que a reestruturação dá um recado errado à sociedade. Para o delegado Waldir (PSL-GO), líder do partido do presidente na Casa, é necessário analisar com cuidado a medida.

Na última quarta, praticamente ao mesmo tempo em que Bolsonaro entregava a proposta dos militares ao Congresso, o Ibope divulgou pesquisa mostrando que a avaliação positiva (ótima ou boa) do governo caiu 15 pontos desde janeiro, e cinco desde fevereiro, em comparação com os outros dois levantamentos feitos neste ano pelo instituto. 

Essa avaliação, associada à queda da popularidade do governo Bolsonaro no último Ibope, significam um flanco aberto no governo para o Congresso fazer cada vez mais exigências em troca da aprovação de reformas.

Agora, com a prisão de Temer, a tramitação da reforma aponta para ser ainda mais desafiadora. Porém, antes mesmo do evento, o mercado já reagia negativamente ao adiamento do anúncio  do relator da Previdência na Comissão de Constituição, Cidadania e Justiça (CCJ), que pode afetar o trâmite da Previdência. 

Além disso, no noticiário internacional, o Federal Reserve manteve ontem seus juros básicos na faixa de 2,25% a 2,50%, mas também indicou que não irá elevar as taxas até o fim de 2019, diante de sinais de desaceleração da economia global. Isso chegou a animar o mercado na véspera. Mas nesta sessão, o investidor passou a reagir com mais cautela em meio aos temores sobre a economia global. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.